1 de abr. de 2012

Jeremy Clarkson e o carro brasileiro


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James May é um cara estranho. Ele tem um cabelo longo e que mais lembra o cabelo de um sabugo de milho, usa as mesmas blusas há mais de 20 anos, acha que todos deveriam saber como um virabrequim funciona, e acredita piamente que um Fiat Panda pode ser tão, ou mesmo mais divertido, quanto um Aston Martin DBS ou um Nissan GT-R.

Eu sempre tirei sarro dele por achar isso, embora recentemente eu tenha passado a aceitar mais essa linha de raciocínio dele – claro que eu nunca confessaria isso à ele, então que isto seja um segredo nosso.

Após termos gravado o último episódio da mais recente temporada do Top Gear, eu queria tirar umas férias. E mesmo numa era onde a tecnologia possibilita a qualquer um com uma conexão à internet e um iPad acompanhar cada passo seu, como uma mãe superzelosa ou um pai que acabou de emprestar seu carro à seu filho adolescente, eu consegui agendar um vôo para o Brasil para umas pequenas férias mais ou menos incógnito.
E por que o Brasil? Porque o Taiti está cheio de americanos obesos tirando fotos de golfinhos, metade da Europa está mendingando por migalhas para manter suas economias capengas funcionando, e o resto do mundo ainda não aprendeu a falar inglês corretamente.
Claro, você poderia argumentar que eu poderia ter viajado para a América, mas tem um minúsculo problema gigantesco: Richard Hammond está lá, gravando programas onde ele destrói trailers e tenta conseguir o maior número de multas de velocidade em um tanque do exército americano.
Então, só me restou o Brasil, simplesmente porque James e Richard não sabem como chegar lá.
Eu vou poupar-lhe da parte em que eu tive que enfrentar o check-out do aeroporto de Congonhas em São Paulo, uma das maiores cidade do Brasil, porque na verdade é como em qualquer outro aeroporto – enfadonho, estressante, e completamente inútil sobre qualquer ponto de vista – exceto pelo aparente fato dos agentes de segurança brasileiros terem sido treinados por ex-agentes da KGB especializados em interrogatórios, e passarei diretamente para o momento em que entrei num táxi até o hotel.
O táxi era parte de uma espécie de serviço premium, que aparentemente utilizava Vauxhall Astras travestidos de Vectras e modelos da australiana Commodore, mas com emblemas Chevrolet. Claro que, no fundo, era como contratar os serviços de uma prostituta, mas teria que pagar o triplo do que se pagaria simplesmente pelo fato dela apenas lidar com executivos de meia-idade sexualmente frustrados e jogadores de futebol.
Enfim, essa foi uma pequena amostra do que eu estava prestes a experimentar. Ou pelo menos, foi o que pensei a princípio. Após um breve descanso no meu quarto e uma troca de roupas rápida, eu voltei a utilizar os serviços de um outro taxista premium, chamado Fernando, que, para minha surpresa, tinha um inglês melhor que o de muitos ingleses – especialmente se comparado aos habitantes da região de Kent. Eu pedi a ele que me levasse à Hertz mais próxima.
Por que a Hertz? Bem, além do fato dela ser uma gigante multinacional, o que me inspira mais confiança (mesmo que ínfima) do que uma companhia local, eu sei que carros de locadoras quase sempre são colônias de bactérias e copos de amostra de urina, vômito e fezes sobre rodas, mas eu estava pronto para correr o risco, pois imaginava que poderia testar vários carros brasileiros num único lugar, e que estivessem em condições relativamente boas.
Eu sei que devia estar pensando em outra coisa além de carros, mas no breve momento que fui levado pelas ruas brasileiras pelo taxista Fernando, pude notar duas coisas: já vi asfalto em melhores condições em Botsuana (onde 95% das estradas são de terra batida), e que os brasileiros têm uma preferência quase masoquista por carros de cores monocromáticas.
Após uma breve viagem de táxi, cheguei à uma filial da Hertz, que ficava próxima ao hotel onde estava hospedado. Por uma incrível coincidência, o gerente desta locadora em particular me conhecia, então não precisei inventar nenhuma desculpa para testar alguns dos carros dele. Se não fosse por isso, eu me sentiria como se tivesse 15 anos de novo, tentando convencer um jornaleiro que na verdade tinha idade suficiente para poder comprar uma revista Playboy. Claro que ele concordou.
Por algum motivo, como uma espécie de coincidência cósmica, não haviam muitos modelos diferentes disponíveis no dia em que fui àquela locadora. Bom, com certeza não haviam modelos europeus. O gerente me informou que apenas três modelos eram genuinamente brasileiros: um Volkswagen Gol, um Fiat Palio e um Chevrolet Celta. Todos os três me lembram alguns modelos europeus baratos, como o Chevrolet Aveo, um carro genuinamente detestável, e o Proton Savy, um condiloma com rodas de liga-leve.
Mas, para meu espanto, eu gostei de dirigir os três carros. Tudo bem, o Gol possui um estilo sem-sal, o Palio parece um contador de meia-idade vestindo uma camisa oficial da Ferrari e estúpidos óculos da Oakley, e o Celta parece que foi feito tendo minha cabeça como inspiração; com uma cara desproporcionalmente maior que o resto do corpo. No entanto, eles pareceram bem sólidos e preparados para a realidade brasileira, onde metade de sua população parece ter que decidir entre pagar uma das 400 prestações do seu carro novo e comprar carne para o resto da semana.
Eu particularmente gostei de dirigir o VW Gol. Sob alguns ângulos, ele me faz lembrar o antigo Golf GTI, um carro que gosto tanto quanto a vontade de ver o próximo nascer do Sol.
Acho que eu deveria ter arriscado uma viagem para a América, mesmo correndo o risco de encontrar o baixinho em um tanque Abrahams na ponte JFK, em Nova Iorque. Pelo menos, assim, eu não teria que voltar para casa como eu voltei: com um apreço maior por carros baratos e, pior ainda, admitindo que James May estava certo.

Fonte: topgearbr
Disponível no(a): http://topgearbr.wordpress.com/
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