16 de mar. de 2012

Teste: Audi Q3 à procura dos irmãos

Crossover chega ao Brasil tentando um sucesso que até agora os maiores Q5 e Q7 não conseguiram
Glauco Lucena // Fotos: Guilber Hidaka
Guilber Hidaka
Audi Q3 deverá ser vendido por cerca de R$ 195 mil

Meu nome é Q3. Audi Q3. Sou o caçula de três irmãos, filho de uma abastada família alemã. Embora nascido em Martorell, pertinho de Barcelona, mal aprendi a falar catalão e já fui enviado aqui para o Brasil. Meus pais me disseram que eu poderia viajar tranquilo, que um país emergente traz ótimas oportunidades de trabalho – muito mais que na Espanha, onde nasci, que pelo jeito tá uma verdadeira zona do euro. Além disso, falaram que eu encontraria nas ruas brasileiras meus irmãos mais velhos, o Q7 e o Q5.

Algo me diz que meus pais não conhecem o Brasil tão bem assim. Até fiquei feliz por alguns dias numa concessionária Audi, rodeado de parentes. Mas logo me ofereceram para um pessoal esquisito, uns tais jornalistas automotivos, só porque sou o primeiro exemplar do meu tipo a chegar em terras brasileiras. Pessoal metido a piloto, querendo me levar para a terra, para o asfalto (e que piso esburacado!), em meio a carros velhos, em cidades poluídas. E, pior, colocando uma gasolina estranha no meu tanque, com álcool. Bem mais forte que a cerveja de trigo que meus pais tanto gostam.
Guilber Hidaka
Em local interditado, Q3 mostra a força do motor 2.0 turbo com injeção direta
Já estava ficando deprimido, até que caí nas mãos do pessoal da revista Autoesporte. Eles perceberam que eu andava um tanto cabisbaixo, e resolveram tentar me alegrar. Disseram que me levariam aos bairros mais sofisticados da cidade, onde eu veria ruas bonitas e arborizadas, carros modernos e, o mais legal, onde poderia encontrar muitos exemplares dos meus irmãos maiores.
Fiquei empolgado, mas antes tive de dar uma passada numa tal pista de testes, no interior, onde fizeram umas medições comigo. Não me fiz de rogado. Na hora de acelerar, usei meu “launch control”, minha tração integral Quattro e saí em disparada, sem derrapar, usando toda a potência dos meus pulmões turbinados. E não é pouca coisa! São 211 cv a 5.000 rpm. O carequinha ao volante ficou impressionado com o tempo que levei pra chegar a 100 km/h: 6,9 segundos. Em um quilômetro eu já estava a 192,8 km/h, e queria mais, mas a curva chegou rápido. Parece que aqui não tem nenhuma Autobahn onde possa chegar a 230 km/h do jeito que eu gosto.
Depois, o piloto calvo quis testar minha força, fazendo retomadas de velocidade. Cumpri todas em menos de 5 segundos. Tá pensando o que, rapaz? São 30,6 kgfm de torque entre 1.800 e 4.900 rpm. E câmbio S-tronic automatizado de sete marchas, com dupla embreagem. Além disso, ser o caçula tem suas vantagens. Sou o mais leve da família, peso só 1.640 kg, tenho alumínio no capô e até em partes da traseira. Coisa fina, leve e resistente!
Guilber Hidaka
Na Oscar Freire, rua mais "chique" de São Paulo, o Q3 só não se sentiu mais em casa porque não achou outros crossovers da Audi
Aí o cabeça raspada resolveu ver se meus freios são bons. Covardia! Tenho discos nas quatro rodas, ABS, controle de tração e estabilidade... Os números do teste não me deixam mentir, nem a pressão do cinto no tórax dele. Só não fui tão bem nas medições de consumo, apesar dos meus recursos como start-stop, modo econômico (um dos quatro que posso assumir por meio do computador de bordo). Também, com aquela gasolina estranha no meu tanque, eles queriam o quê?
Guilber Hidaka
Audi atraiu olhares zangados de rivais como o BMW, e só ficou em família na loja
Mas, enfim, chegou o grande dia! O redator barbudinho disse que iria me ajudar a encontrar meus parentes. Começamos pelo Jardim Europa, nome que já me despertou saudade de casa. Dos dois lados do corredor, belas lojas de carros importados de várias marcas. E finalmente comecei a cruzar com carrões bacanas, e muitos crossovers como eu. Olha lá, parece meu irmão Q7!! Não, é um VW Touareg. Agora sim!!! Não, um Porsche Cayenne. São parentes distantes, nem me deram muita atenção.
Pior que os parentes indiferentes são os vizinhos com complexo de superioridade. Primeiro passou um BMW X1. Esse é do meu tamanho, não me assusta. Se bem que parece haver muitos X1 por aqui, melhor não provocar. Depois apareceram os irmãos maiores dos meus rivais, aí a coisa começou a ficar preocupante! Passaram alguns X3, X5 e os metidinhos da Mercedes. Um GLK, mais pra frente um GL, um ML estacionado...
Guilber Hidaka
Interior do carro é agradávele espaçoso, com ótima ergonomia
E nada dos meus irmãos maiores. O fotógrafo meio japonês diz que viu um Q5 estacionado. Eu não vi, não sei se ele só tava querendo me animar. Eis que numa esquina, de repente, avisto um monte de carros da Audi!!! Ufa! Mas, pudera, era uma loja da marca, nada mais natural. Parei para me refrescar do calor, me acalmar e tirar umas fotos para o álbum de família.
Hora de sair em busca de irmãos. Logo na saída da loja, fui fechado por um hooligan com cara assustadora. O tal inglesinho invocado, que chamam de Evoque. Da Land Rover, ou Range Rover, nem sei direito. O redator barbudinho me deixou assustado, disse que esse carro chegou agora ao Brasil e tá vendendo muito, vai ser meu maior concorrente. Poderia jurar que esse inglesinho com sotaque indiano me provocou; disse que é o Truck of The Year nos Estados Unidos. Fingi que não era comigo.
Guilber Hidaka
O acabamento é caprichado, com destaque para o teto panorâmico
Fui recobrando o estado de espírito ao reparar que muitos humanos olhavam para mim, sorriam quando eu passava... Modéstia à parte, não sou de se jogar fora. Tenho aspecto jovial, arrojado, e meus faróis com contornos de leds brancas chamam a atenção. O trio a bordo parecia feliz – tinha também o designer magrão, que não parava de disparar flashes para ajudar o fotógrafo. Colocavam meu som Bose no “talo”, fuçavam na tela multimídia quando o trânsito parava (e como para nessa cidade!).
De repente, nuvens e trovoadas! Uma tempestade de verão, com direito a granizo. Coisa que nunca tinha visto na Europa. Preocupado, o barbudinho embicou no Shopping Iguatemi, disse que ali encontraria meus irmãos. E rodamos, e subimos as rampas em caracol, e descemos, e procuramos... Nada de Q5 ou Q7, só os rivais mal-encarados de sempre. Pelo menos vi aos montes meus primos VW Tiguan, quase todos brancos. Deu pra matar a saudade da plataforma onde nascemos.
Guilber Hidaka
Em uma tarde de passeio em bairros nobres, só um Audi Q5 foi visto; O único Q7 encontrado passeou ao lado do irmão caçula por vários quilômetros; ei, Evoque, sai da frente que eu quero passar!!!
A chuva passou, e o designer magrão sugeriu que a gente fosse para outro Iguatemi, agora em Alphaville, um bairro nobre bem perto de São Paulo. No caminho tive a maior alegria do passeio: encontrei meu irmão mais velho, um Q7 todo preto. Rodamos lado a lado pela Marginal Pinheiros e pela Castelo Branco, por vários quilômetros, como nos velhos tempos de Europa.
Mas no Iguatemi de Alphaville, só encontrei rivais, da BMW, da Mercedes, e até uns coreanos posudos, que cada vez mais se acham donos do mundo sobre rodas. Percebendo meu abatimento, o barbudinho me explicou que a Audi poderia vender muitos de nós no Brasil, mas os preços não andavam muito camaradas. Disse que uns dirigentes antigos cismaram de vender Audi mais caro que Mercedes e BMW, o que não ajudou em nada. Mas que a nova administração estava lutando por preços mais competitivos. Por isso não vi tantos dos meus irmãos por aí.
Guilber Hidaka
Uma pausa para fotos do álbum de família na Cairagá Jardins
Fiquei preocupado. Quanto será que vou custar? O barbado ligou para alguns amigos, e disseram que meus clones com motor mais fraco, de 170 cv, vão custar cerca de R$ 150 mil. Com meu motor e meu nível de equipamentos que é uma beleza (tenho até sistema kers, como da F1, que acumula energia das frenagens para aumentar a potência nas acelerações), o preço vai a R$ 195 mil. Achei um absurdo, mas parece que o governo do Brasil anda bravo com os carros importados, e não dá pra baixar muito o preço mesmo.
Confira este e outros testes completos na edição deste mês da revista Autoesporte
Espero que dê certo, porque os três a bordo não pararam de elogiar meu acabamento, meu comportamento no trânsito, meu conforto, minha segurança, meu teto panorâmico e até o bom espaço para um crossover do meu porte. Tá bom, reclamaram que o porta-malas não é dos mais generosos, mas ninguém é perfeito. Agora é esperar meus clones chegarem para ver se o hooligan Evoque não treme na base, e se o bando de X1 que vi pelas ruas não passe a nos respeitar mais. Compre-me, não vou te decepcionar!

Fonte:revistaautoesporte
 Disponível no(a): http://revistaautoesporte.globo.com
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