Sir Stirling Moss não está contente. “Os carros de
hoje estão muito mais feios do que já eram”, ele diz. “É por causa das
regras de hoje, mas deveria haver uma regra dizendo que seu carro
deveria ser bonito”.
Uma expressão de preocupação aparece no rosto do
icônico octogenário. “Carros feios não deveriam vencer”, ele diz. Agora
ele está sorrindo. Sir Stirling pode estar nos seus anos dourados, mas
sua idade avançada não diminuiu seu entusiasmo pela Fórmula 1. Ele ainda
goza de boa forma, seu corpo pequeno possui a ajuda apenas de um
assento dobrável portátil, e mostra muito entusiasmo pela nova temporada
– mas não por “aqueles” narizes polêmicos.
“Acho que o que importa é que o quanto eles são
competitivos”, ele diz, “mas pessoalmente, acho que os carros de Fórmula
1 de antes da Segunda Guerra Mundial eram muito bonitos, e, claro, os
da minha era também eram.”
Certo, aquela era. Fangio, Moss, Hawthorn,
Brabham e o ápice do estilo automobilístico com a Ferrari, a Lotus e,
claro, a Mercedes-Benz, além de outras. Também é a era que infelizmente
deu a Moss a alcunha clichê mas trágica: “o maior piloto britânico que
nunca ganhou um título mundial”.
Talvez, como alguns têm argumentado, se Sir Stirling
fosse mais egocêntrico ele teria sido coroado campeão. Mas isto não está
no DNA do homem. “A pior coisa que pode acontecer é alguém que não
merece ser campeão, ou que ganha por sorte ou sei lá”, ele diz.
“E francamente, sempre gostei de ver o piloto melhor e
mais rápido ganhar, contanto que seja alguém que mereça”, ele diz,
quando perguntado sobre quem ele gostaria de ver como campeão este ano. Ele hesita um pouco. “Mas eu diria que o Vettel é um grande candidato.”
Vettel. O jovem alemão indestrutível com um dedo
indicador indestrutível e uma fome voraz por chegar ao pódio. E o homem
que lidera a tabela dos pilotos de F1 do Top Gear. Foram raras as vezes
que vimos ele errar e provar que ainda é um ser humano: talvez uma vez,
no molhado GP do Canadá do ano passado, num vacilo digno de Hollywood
após sofrer grande pressão do Button. Mas no geral, ele tem sido
impecável. Sir Stirling concorda.
“Espero que esta temporada seja melhor que a do ano
passado, mas só iremos descobrir mesmo na primeira corrida, na
Austrália. Mas deve ser boa. Sinceramente, não consigo imaginar o Vettel
sendo superado. Ele é um grande piloto e seu carro é excelente.”
“Tendo dito isso, acho que Jenson Button, apesar de
não ter muitas chances de ganhar o título, irá se sair muito bem nesta
temporada. Mas não depende apenas do Vettel, tem o Adrian Newey também.
Adrian Newey sozinho já é difícil de vencer, mas tendo o piloto mais
rápido do mundo, não é fácil vencer os dois.”
É verdade. Algo que o grid inteiro sabe, que este ano
possui um total de seis campeões mundiais (bem-vindo de volta, Kimi).
Um deles é o antes invencível Michael Schumacher, um home que causou
furor com sua volta, e continua a aparecer nos jornais através de sua
inabilidade em superar o companheiro de equipe, Nico Rosberg.
“Acho que a maior contribuição do Michael ao esporte a
motor foi juntar-se à Ferrari quando ela estava por baixo e ajuda-la a
virar a equipe que hoje é tão boa quanto qualquer outra”, Moss opina. Se
a Ferrari acredita nisso é um papo para outro dia, mas uma coisa é
clara: o fato dos vários títulos mundiais do Schuey intimidarem mesmo o
talento mais cru não agrada à lenda de 82 anos.
“O fato dele ter sete títulos mundiais não me
impressiona muito”, ele diz. “Não me impressiona mesmo. Ele é um bom
piloto, mas ele sempre teve o melhor carro. Não dá para comparar isso
com vencer na minha era.”
E vê-lo exortar as virtudes daquele período dourado
do esporte a motor deixa você com a impressão de que Moss sente falta
dos seus dias de glória. Claro, ele pode respeitar o KERS de hoje
(“gosto muito disso – acho que em dez anos todos os carros de série
terão ele, não dá para imaginar o contrário”) e a confiabilidade (“não
se vê muitos carros quebrando hoje em dia, e sua robustez é a melhor
coisa do mundo”), mas para ele, um aspecto vital, elementar e natural da
Fórmula 1 está em risco.
O perigo.
“Não trocaria minha era por esta era moderna da
Fórmula 1″, ele diz, sem hesitação. “Eu ergueria um muro de tijolos ao
redor das pistas de hoje. Toda essa área de escape que elas possuem, eu
sinceramente acho que estraga as coisas. Acho que o esporte a motor é –
desculpe, era – um esporte perigoso.”
Tome, por exemplo, a morte prematura de Ayrton Senna.
“A verdadeira tragédia com o Ayrton foi que ele morreu numa era
realmente segura”, diz Moss. “Ele morreu por causa da segurança. Se não
tivessem esticado a mureta de proteção até o ponto onde ele bateu, ele
teria resvalado nela.”
Eis a prova de que, apesar do seu comportamento
cordial, caloroso e “de vovô”, o coração de um piloto de sangue quente
ainda bate forte. “Não quero saber dessas áreas de escape, porque eu
realmente acho que elas não melhoraram nada.”
“Quando era um garoto de 18 anos, eu queria era o perigo.”
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