29 de jan. de 2012

Indy-O caminho inverso de Barrichello por Bruno Ferreira


Rubens Barrichello(LAT Photographic)
Na próxima semana, os olhos da comunidade do automobilismo estarão voltados para o circuito de Sebring, nos Estados Unidos. Sem um cockpit na F1, Rubens Barrichello participará dos testes da IndyCar pela KV, equipe pela qual guia seu amigo Tony Kanaan.

Pela primeira vez nos últimos anos, um piloto de carreira bem-sucedida na F1 se provará na categoria americana, mesmo que seja em apenas um treino. Nos últimos anos, muitos pilotos da Indy fizeram o caminho inverso e se arriscaram na F1. Os seis primeiros colocados no campeonato de 2011 têm, de alguma forma, passagens pela categoria europeia.
Veja abaixo alguns exemplos, incluindo pilotos que surpreenderam e outros que viram sua chance de correr na categoria praticamente acabarem com resultados abaixo do esperado.
Tony Kanaan – BAR (2005)
Local: Jerez de la Frontera, Espanha
O primeiro da lista é Tony Kanaan, amigo de longa data de Barrichello. Há pouco mais de seis anos, o paulista, que guiará o carro de Kanaan em Sebring, viu seu amigo atuar por aquela que seria sua equipe a partir de 2006.
Em 29 de setembro de 2005, o baiano ganhou um teste na equipe BAR-Honda como prêmio pelo título da Indy – que contava com os motores japoneses – no ano anterior. A sessão seria em Jerez de la Frontera, na Espanha, onde cinco equipes fariam treinamentos coletivos.
Kanaan foi à pista com o modelo BAR 007, que, naquela temporada, não conseguiu repetir o rendimento de seu antecessor. O piloto completou 51 voltas e terminou em sétimo, à frente dos outros dois brasileiros que participaram da sessão: Ricardo Zonta, piloto de testes da Toyota, e de Lucas di Grassi, que fazia, naquele dia, seu primeiro treino a bordo de um carro de F1 pela Renault. O tempo de Kanaan foi 1s5 mais lento do que o de Anthony Davidson, piloto de testes da BAR que atuou no mesmo dia. A jornada também incluiu um pequeno acidente do piloto em uma curva, que causou danos pequenos ao carro.
Apesar da empolgação com o teste, Kanaan negou que almejava se transferir à F1. “Este teste foi algo isolado. Não estive aqui para impressionar as pessoas e ganhar um emprego”, esclareceu. “Foi apenas um presente. Além disso, esta equipe já tem dois dos melhores pilotos da F1”, justificou, referindo-se a Barrichello e Jenson Button.
Hélio Castroneves – Toyota (2002)
Local: Paul Ricard, França
Em 2002, Hélio Castroneves teve aquela que parecia ser sua maior chance de se mudar para a F1. Aos 27 anos e já bicampeão das 500 Milhas de Indianápolis, o brasileiro teve a oportunidade de testar o modelo da Toyota, que fazia sua temporada de estreia na categoria.
O time japonês já havia tomado a decisão de dispensar sua então dupla, Mika Salo e Allan McNish, e, com a anunciada contratação de Olivier Panis para 2003, uma vaga estava disponível.
Castroneves, cuja equipe na Indy, a Penske, passaria a contar com motores Toyota em 2003, foi convocado para guiar no circuito francês de Paul Ricard no dia 20 de setembro. Ele concorria com outro piloto que atuava nos Estados Unidos, Cristiano da Matta, pelo cockpit ao lado de Panis.
Castroneves completou 75 voltas no traçado francês e, mesmo que os tempos não tenham sido divulgados, o piloto alegou ter causado boa impressão.
“Eu amei cada segundo da sessão. Dei algumas voltas, fiz alguns long-runs e voltas de classificação. Foi minha primeira vez em um carro de F1 e fiquei impressionado com o quão fácil é guiar o TF102, especialmente nas frenagens”, afirmou o piloto, à época.
No entanto, suas ambições não duraram muito: pouco tempo depois, a Toyota anunciou Da Matta como seu segundo piloto para 2003.
Dario Franchitti – Jaguar (2000)
Local: Silverstone, Inglaterra
Vice-campeão da Cart em 1999, Dario Franchitti era cogitado a se mudar para a F1 em 2001, pela equipe Jaguar. Um dos pilotos titulares do time, Johnny Herbert, anunciou sua aposentadoria, o que abriu uma disputa pela vaga ao lado de Eddie Irvine. Franchitti e o então reserva, Luciano Burti, eram os favoritos ao posto.
Os dois tiveram um duelo na pista em um teste coletivo em julho de 2000, em Silverstone, na Inglaterra. Contudo, o rendimento do escocês foi decepcionante: nos dois dias em que atuou, foi mais de 2s mais lento que o brasileiro, o que transformou sua intenção em ir à F1 virar piada.
Anos depois, Franchitti se mostrou irritado com o acontecido e fez duras críticas à Jaguar. “O teste inteiro foi uma farsa completa”, disparou. “Achei que guiaria o modelo atualizado, mas, em vez disso, me deram um carro que era duas ou três versões anteriores. Eu nem consegui usar pneus novos ou a quantidade de combustível eu queria. Foi uma piada.”
“Havia, obviamente, algumas pessoas que simplesmente não me queriam na F1 e dificultaram a minha vida o máximo possível. Eu me arrependo de ter ido ao teste. Antes daquilo, eu tinha algumas oportunidades, mas o resultado daquela sessão me custou caro.”
Oriol Servià – Prost (2000)
Local: Barcelona, Espanha
Sensação da temporada de 2011 da IndyCar ao terminar em quarto lugar com a limitada Newman-Haas, o catalão Oriol Servià guiou um F1 em sua terra natal.
O piloto foi convocado pela equipe Prost para atuar nos testes de pós-temporada em 2000, no mês de dezembro. O time francês ainda estava à procura de um segundo piloto, já que Nick Heidfeld se transferira para a Sauber para o ano seguinte. Servià, que terminara sua primeira temporada na Cart, pintou como um dos favoritos, ao lado do brasileiro Enrique Bernoldi.
Servià completou 22 voltas com o modelo AP03 e fez um tempo 1s8 pior do que o titular do time, Jean Alesi. O espanhol também ficou 1s atrás de Bernoldi, que testou o mesmo carro no dia anterior. No entanto, não foi suficiente para nenhum dos dois ficarem com a vaga. A equipe, com dificuldades financeiras, assinou com o fraco Gastón Mazzacane, que contava com o patrocínio do hoje extinto canal esportivo PSN. Bernoldi, apoiado pela Red Bull, foi contratado pela Arrows para correr ao lado de Jos Verstappen. Servià realizou mais testes pela Prost ao longo de 2001, mas sem maiores intenções de se mudar à categoria.
Scott Dixon – Williams (2004)
Locais: Paul Ricard, França, e Barcelona, Espanha
A Williams iniciou a temporada de 2004 já em busca de um piloto para o ano seguinte. Antes mesmo do início do campeonato, foi anunciado que Juan Pablo Montoya deixaria o time de Grove para se juntar à McLaren em 2005. Ralf Schumacher, outro piloto do time, também parecia estar com os dias contados.
Assim, o proprietário do time, Frank Williams, decidiu avaliar em pista o potencial do jovem Scott Dixon, então campeão da Indy. Afinal, naquela época, a categoria americana contava apenas com pistas ovais, cuja habilidade se diferencia do exigido na F1. No entanto, o gosto do proprietário por pilotos da Indy era claro, já que, em anos anteriores, trouxera Jacques Villeneuve, Alessandro Zanardi e o próprio Montoya de categorias americanas.
Em seu primeiro contato com um F1, em março de 2004, em Paul Ricard, Dixon passou longe de fazer feio: fez o quarto tempo do dia entre oito pilotos, terminando a 0s4 do tempo obtido pelo titular Ralf Schumacher.
No mês seguinte, teve outra oportunidade em três dias consecutivos no circuito de Barcelona. Assim como no teste na França, Dixon acompanhou o ritmo dos demais concorrentes, incluindo em um teste com pista molhada. Após completar 227 voltas, ficou otimista com suas chances, mas as negociações esfriaram e a equipe assinou com Mark Webber e com Nick Heidfeld, que superou Antonio Pizzonia na disputa pela vaga.
Marco Andretti – Honda (2006)
Local: Jerez de la Frontera, Espanha
Em dezembro de 2006, a terceira geração dos Andretti ia à pista em um carro de F1. Marco, filho de Michael (que guiou pela McLaren, em 1993) e neto de Mario (campeão da F1 de 1978), participou dos treinos coletivos no circuito de Jerez de la Frontera, na Espanha. O teste, pela equipe Honda, foi um presente da marca ao piloto como reconhecimento aos feitos durante a temporada da Indy daquele ano.
Em 2006, em sua estreia na categoria americana, aos 19 anos, Marco ganhou o título de estreante da temporada, com uma vitória, em Sonoma. Além disso, terminou em segundo lugar em uma emocionante edição das 500 Milhas de Indianápolis, perdendo a liderança da prova para Sam Hornish Jr nos metros finais. Com um desempenho impressionante, o mais jovem Andretti parecia destinado a correr na F1.
A bordo do competitivo Honda de 2006, o americano foi à pista pela primeira vez no dia 15 de dezembro. Em sua primeira sessão, completou 68 voltas e marcou o 15º tempo, à frente apenas de seu compatriota Scott Speed, então piloto da Toro Rosso.
“Levou um pouco de tempo para eu me acostumar ao controle de tração e os freios, mas, uma vez que eu estava familiarizado, os tempos ficavam mais e mais consistentes”, disse o jovem piloto.
O teste fez com que Andretti planejasse uma transferência para a F1 nos próximos anos. Dois meses depois, fez mais uma bateria de treinos, no mesmo carro e no mesmo circuito, onde completou 137 voltas e marcou o último tempo registrado.
Mesmo que a esperada transferência não tenha se concretizado, seu avô, Mario, tem certeza de que Marco teria tido sucesso na F1.
“Eu estava lá em Jerez e me lembro que, no segundo dia, estava molhado e a Honda não estava lhe mandando para a pista. Mas Marco é muito bom nessas condições – ele tinha uma reputação de ser fantástico na chuva desde o primeiro momento que ele correu”, lembra o avô. “Eles decidiram mandá-lo a pista e, em um momento, ele estava atrás de [Fernando] Alonso, que estava começando a andar de forma séria com a McLaren.”
“Durante cerca de seis voltas eles estiveram juntos e, durante essas voltas, Fernando nunca se distanciou de Marco. Ambos estavam em um ritmo muito forte. Marco ficou próximo a ele e acho que mostrou um momento de brilhantismo de alguma forma para alguém tão novo e também por causa das condições.”
Townsend Bell – Jaguar (2003)
Local: Valência, Espanha
A trajetória de Townsend Bell se diferencia dos outros pilotos que tentaram transferência dos Estados Unidos para a F1. Campeão da Indy Lights em 2001, ano no qual também fez sua estreia na Cart, Bell disputou apenas as corridas na categoria americana no ano seguinte, fazendo nove das 19 etapas.
Em 2003, decidiu arriscar na F3000, que, na época, era a categoria de acesso imediatamente abaixo à F1 – papel desempenhado atualmente pela GP2. A bordo do carro da Arden, terminou a temporada na nona posição, tendo, como melhor resultado, um terceiro lugar na Hungria.
Em novembro de 2003, ganhou a chance de realizar um teste pela Jaguar no circuito de Valência, na Espanha. Naquele momento, o time tinha apenas Mark Webber garantido para a temporada seguinte, embora a confirmação da contratação do jovem Christian Klien, então vice-campeão da competitiva F3 Europeia, fosse mera formalidade.
Cauteloso, Bell afirmou que não pensava em assegurar uma vaga de titular na F1 já em 2004. Sua intenção era garantir o posto de reserva no time inglês, já que, naquela época, as seis piores equipes do Mundial de Construtores do ano anterior podiam levar um terceiro carro nos treinos livres de sexta-feira. Assim, o californiano pretendia fazer um ano de aprendizado com os treinos para se promover ao cockpit de corridas em 2005.
Em seu teste, Bell completou 62 voltas com o modelo da Jaguar, sendo 0s3 mais lento que Klien. Webber, por sua vez, ficou 0s1 à frente do austríaco. Nos meses seguintes, o americano bem que tentou continuar com as negociações, mas a Jaguar acabou por contratar o sueco Bjorn Wirdheim, companheiro de Bell na Arden e campeão da F3000, para atuar nas sextas-feiras. Coube ao americano retornar aos Estados Unidos e competir na Indy pela equipe Panther.
Paul Tracy – Benetton (1994)
Local: Estoril, Portugal
Em 1994, o estabanado Paul Tracy teve a chance de guiar um dos melhores carros – senão o melhor – da F1 no momento. Logo após o GP de Portugal daquele ano, o canadense de 25 anos, terceiro colocado na Indy no ano anterior, sentou no cockpit da Benetton no circuito do Estoril, em Portugal.
Contudo, não passou de um teste: no ano seguinte, Tracy permaneceu nos Estados Unidos e optou por trocar a Penske pela sua então rival, a Newman-Haas, enquanto a Benetton disputou o Mundial com Michael Schumacher e Johnny Herbert.
Os australianos também tiveram vez
Nem todos lembram, mas os australianos Will Power e Ryan Briscoe, dois dos principais pilotos da IndyCar, já se aventuraram pela F1. Ao contrário dos casos anteriores, as passagens dos pilotos da Penske não se enquadram no tema deste post, já que, no momento dos testes, ambos provavelmente sequer sonhavam em fazer carreira nos Estados Unidos. Mas, ainda assim, vale citá-los a título de curiosidade.
Briscoe foi, por muitos anos, testador oficial da Toyota na F1. O piloto natural de Sydney tinha contrato de longa duração com a equipe e era uma aposta para o futuro. Neste período, acumulou mais de 17 mil km de testes e participou, inclusive, de seis treinos livres de sexta-feira na reta final da temporada de 2004, quando ainda era permitido às equipes o uso de um terceiro carro.
Power, por sua vez, guiou pela Minardi no final de 2004, em um teste que caçava nomes para a temporada seguinte. No dia 23 de novembro, no circuito italiano de Misano, Power dividiu as ações com outros dois pilotos – o compatriota Will Davison e o inusitado israelense Chanoch Nissany, de 41 anos de idade. Completou 22 voltas e fez o melhor tempo do dia, um décimo de segundo à frente de Davison.
No entanto, o resultado não foi suficiente para dar a Power a chance de correr pelo time em 2005. No tempo somado de todos os testes realizados pela Minardi em Misano naquela semana, os melhores tempos ficaram com Christijan Albers e Patrick Friesacher, que acabaram sendo os escolhidos. Power também ficou atrás do venezuelano Pastor Maldonado, hoje companheiro de Bruno Senna na Williams.

Fonte: tazio
Disponível no(a): http://tazio.uol.com.br
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