12 de ago. de 2011

O dia em que quase ninguém terminou a corrida


Já dizia meu sábio mecânico de Cataguases (MG): “Seu carro  pode andar sem óleo, pode andar sem água, pode andar com o pneu furado, só não pode andar sem gasolina”. E esse foi justamente o caso do Grande Prêmio da Bélgica em 1964, a corrida em que todo mundo ficou sem combustível!

Depois de levar os Jalop’s por uma volta na gigante Pescara, a pedidos, conto um caso de uma corrida maluca que também foi disputada em um circuito gigante.
Com mais de 14 mil metros, o velho Spa foi um dos maiores desafios de sua época – o traçado atual de Spa-Francorchamps tem a metade desse tamanho. Cravado na região das Ardenas na Bélgica, fazia os carros cortarem as florestas de pinos quase sempre a mais de 250 km/h, em uma região onde o clima é sempre o mesmo: instável.

Gurney cravou a pole position da prova
Em 1964, a prova era a terceira etapa do mundial. Dan Gurney com sua Brabham cravou a pole position da corrida, com Graham Hill na segunda colocação e Jack Brabham em terceiro.
Após a bandeira de largada, Peter Arundell, que largava em quarto com sua Lotus, deu o famoso “pulo do gato” e surrupiou a liderança de Gurney. Todavia, seu reinado não durou mais que 14 km. Antes da primeira volta já perderia posições para Gurney e John Surtees.

Arundell deu o pulo do gato na hora da largada
Os dois travaram uma boa briga. Surtees imprimiu um ritmo impressionante, quebrando os recordes de volta da prova em sequencia, mas tanto esforço fez sua Ferrari abrir o bico, deixando o caminho limpo para Gurney.
Enquanto o americano abria larga vantagem, Hill e Clark duelavam ferrenhamente pelo segundo posto. Ambos trocavam posições volta após volta, curva após curva. Com a batalha, Bruce McLaren se aproximava da dupla, torcendo para, quem sabe, lhe sobrar alguma carniça.

A Ferrari de Surtees quebrou o motor
A prova neste momento já parecia estar nas mãos de Dan Gurney, que abria larga vantagem, mas faltando duas voltas para o fim quem cruza a linha de chegada na frente é Hill.  Gurney se arrastava pela pista, sedento por combustível. Entrou nos pits, só que sua equipe não esperava a entrada, e se embananou toda para colocar mais alguns litros no tanque.

Hill abriu a última volta na liderança…
Vitória fácil de Graham Hill, certo? Não! Na última volta, o pai de Damon também começou a balançar seu carro de um lado para o outro, em sinais claros de também falta de combustível. O mr. Mônaco teve que abandonar a prova a poucos quilômetros do fim.
Nesse momento, a corrida caía no colo de Bruce McLaren, vice-líder depois que Jim Clark parou nos boxes devido a problemas de superaquecimento. E eis que nos metros finais Clark recupera todo o atraso e se aproximara rapidamente de McLaren. Motivo? Falta de combustível para o neozelandês. Que ficara sem gasosa um pouco antes da La Source, a última curva do circuito.
Assim que Clark contornou a ‘Source’, pôde ver Bruce se arrastando, mas quando foi dar o gás total para ultrapassá-lo… adivinha só. Cadê a gasolina? Jim também ficou sem combustível! Como estava mais embalado, ultrapassou McLaren na banguela e venceu o Grande Prêmio da Bélgica de 1964, num dos finais de corrida mais pitorescos da história. Alguém se lembra de quatro líderes ficarem sem gasolina na sequência?

A ultapagassaem, já sem combustível de Jim Clark sobre Bruce McLaren. Diferença? 3,4s…
Com tantos abandonos por falta de combustível, e tratando-se de um circuito tão grande como o de Spa, voltar para “casa” só mesmo com a carona alheia. Acompanhe:


E tome caronas
E após todo o tumulto da prova, chegou a hora de comemorar a vitória em grande estilo, mas olhando para a foto abaixo, ao meu ver o silêncio impera na multidão. É uma daquelas fotos que te conseguem passar sensações além da imagem.

“Cric… cric… cric…”

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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