8 de jul. de 2011

Brasil: o paraíso é aqui?

Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z Notícias
Brasil: o paraíso é aqui?
Números positivos do semestre consolidam Brasil como porto seguro da indústria automotiva mundial

por Marcelo Cosentino
Auto Press


O setor automotivo brasileiro já não é mais aquele “patinho feio” de outrora. As fabricantes de automóveis de todo o mundo deixaram de lado as velhas reclamações a respeito de carga tributária, câmbio e infra-estrutura locais. Eles querem agora aproveitar a incrível escalada dos números da indústria nacional. O resultado do primeiro semestre de 2011 comprova a boa forma do setor.
Nos seis primeiros meses do ano foram 1.737.275 veículos vendidos, alta de 9,97% em relação ao mesmo período do ano passado – até então o melhor semestre da história –, segundo números da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Os dados positivos elevaram a confiança e as perspectivas do mercado. Os novos cálculos preveem que as vendas este ano sejam 8,6% maiores que as do ano passado – número que substitui a previsão inicial de 5,2%. Ou seja: em vez de 3,63 milhões, a nova estimativa aposta em 3,75 milhões de unidades em 2011.

Por isso mesmo, a indústria está fazendo foco no Brasil, já que o país apresenta um crescimento completamente “fora da curva” em relação ao mundo. “Enquanto no ano passado o PIB da zona do Euro cresceu 1,7%, o Brasil cresceu 7,5%”, compara Sérgio Bessa, consultor da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. Além disso, o aumento do poder aquisitivo e a ampliação da classe média também são apontados como razões para os sucessivos recordes do setor.

                O destaque do Brasil no mercado internacional aumenta em virtude do maior contraste de comportamento após a crise financeira de 2008. Enquanto diversos países apresentam até hoje desdobramentos negativos, Brasil e demais países do BRIC – bloco composto ainda por  Rússia, Índia e China – vêm ganhando destaque global com vendas crescentes, crescimento de renda e de emprego para a população. “É por isso que os investimentos das grandes multinacionais estão sendo direcionados para esses países em desenvolvimento. Eles apresentam perspectivas sólidas de expansão do mercado e da economia”, explica Célio Hiratuka, professor de Economia Industrial da Unicamp.

Pela avaliação de economistas e executivos de montadoras, o mercado brasileiro ainda tem potencial para crescer mais. Um dos argumentos mais fortes para esta tese que o grande déficit na relação entre carros e habitantes que o país ainda apresenta, em relação aos mercados mais maduros, dos países desenvolvidos. Atualmente o Brasil tem 6,9 habitantes por veículo em circulação, segundo dados da Fenabrave. Países como Alemanha, Japão, Reino Unido, França, Espanha e Canadá têm entre 1,9 e 1,6. Nos Estados Unidos, a relação é de 1,2 habitante por veículo. “Algumas cidades brasileiras têm números de carros por habitantes próximos aos que se encontra nos Estados Unidos. Mas há outras regiões em que essa relação é muito baixa. A maior solução é continuar esse crescimento de massa salarial, o que vai permitir às pessoas adquirirem veículos”, complementa Murilo Moreno, diretor de marketing da Nissan. Não é à toa que as vendas em regiões mais ricas, como Sudeste e Sul, crescem menos que no Nordeste e no Centro-Oeste.

Este futuro promissor do mercado automotivo esbarra, no entanto, em alguns problemas econômicos. A contenção do crédito, por exemplo, pode gerar uma desaceleração da economia como um todo – e foi esta mesmo a intenção do governo, para frear as pressões inflacionárias. A valorização do real frente ao dólar é outro ponto que assusta a indústria local. Por um lado, a redução dos preços pelo aumento da competitividade dos importados pode acelerar as vendas. Mas, por outro, pode minar os investimentos na produção. “Se o bem doméstico for substituído pelo importado, os elos da cadeia produtiva podem ficar comprometidos e inviabilizar novos investimentos”, alarma Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI). Entre as medidas que podem estimular a produção estariam a não-tributação dos investimentos, favorecimento das exportações e redução da carga tributária. Mas principalmente tentar diminuir o chamado “custo Brasil”, que pode ser entendido como problemas de logísticas e de infra-estrutura provocados pela precariedade de estradas e portos nacionais.

Instantâneas

# Se as expectativas de crescimento do mercado em 8,6% neste ano forem confirmadas, as fabricantes vão comercializar 297 mil veículos a mais que em 2010.

# Em todo o ano de 2010 foram vendidos 3.515.127 veículos, segundo o Renavam.

# No acumulado do ano, o mercado de motocicletas soma 918.212 motos vendidas, uma alta de 10,47% nas vendas em relação aos seis primeiros meses do ano passado.

# Os emplacamentos de veículos novos somaram 304.334 unidades em junho, 15,82% a mais que no mesmo período de 2010.

# Atualmente, a indústria automobilística responde por mais de 5% da atividade industrial no país.

O céu é o limite

O aquecimento da economia brasileira e a fama de rentável adquirida nos últimos anos atrai fabricantes que até agora olhavam com desconfiança. A Nissan, por exemplo, anunciou planos de construir uma segunda fábrica no Brasil – com capacidade para 200 mil unidades anuais. O plano chamado de Nissan Power 88 foca em mercados emergentes para atingir 8% do mercado mundial. A chegada dos carros chineses ‘made in Brasil’ também já tem data. A Chery começa a produzir em 2013 em Jacareí, interior de São Paulo. O investimento total é de US$ 400 milhões. “É um passo importante para consolidar a Chery no quarto maior mercado do mundo”, explica Luís Curi, CEO da Chery.

Com o mercado em expansão, as marcas tradicionais também se movimentam. A Fiat anunciou investimentos de R$ 3 bilhões em uma fábrica em Pernambuco. Ela começa a operar em 2014 com capacidade estimada de 200 mil veículos/ano. A Toyota é outra que investe em uma linha de montagem em Sorocaba, São Paulo – provavelmente para fazer o Etios, compacto para emergentes. A sul-coreana Hyundai já está com a área demarcada em Piracicaba para a fabricação do compacto i20 em 2012, com um investimento de US$ 600 milhões. “O interessante é que as empresas produzam mesmo e não que tenham apenas uma área de montagem”, complementa Rogério César de Souza, economista do IEDI.

As projeções do setor apontam para uma marca de 6 milhões de unidades comercializadas em 2015, entre 60 e 70% a mais que hoje. Só as chamadas quatro grandes – Fiat, Ford, General Motors e Volkswagen – vão investir mais de R$ 20 bilhões até lá. “Aquelas que realmente investirem têm grandes chances de se fixar, mas precisam trabalhar a qualidade, o preço, a fidelização do consumidor e o pós-vendas, de forma séria e sustentável”, orienta João Carlos Rodrigues, diretor da Jato Dynamics do Brasil.

Fonte: motordream
Disponível no(a):http://motordream.uol.com.br

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