30 de mai. de 2011

Reciclagem afasta pneus do estima de "vilões"

Ilustração: Afonso Carlos/CZN

Reciclagem afasta pneus do estima de
Fim do caminho - Fabricantes de pneus tentam escapar do estigma de “vilões” ambientais ao promover a reciclagem
por Marcelo Cosentino


Um dos pesadelos da indústria automotiva é a deprimente imagem de montanhas de pneus abandonados – no desenho " Os Simpsons ", para piorar, eles ainda aparecem em chamas. Esta cena também é usada por ambientalistas como prova irrefutável da péssima relação entre carros e natureza. Uma forma das montadoras tentarem amenizar a má-fama foi passar a exigir posturas ecologicamente corretas de seus fornecedores.
Isso explica em parte o esforço das fabricantes de pneus em adotar posturas mais defensáveis. Como criar alternativas de produtos – um pouco mais – ecologicamente corretos. Ou encontrar uma destinação apropriada para os pneus velhos, ao promover a reciclagem. Atualmente, todas as fábricas de pneus instaladas no Brasil têm parceria com a ANIP – Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos – para o Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis.

    Este programa, batizado de Reciclanip, foi criado pela própria ANIP para promover a coleta e destinação correta dos pneus inúteis. Em 2010, a entidade coletou 311.554 toneladas de pneus inservíveis, o equivalente a 62 milhões de unidades de pneus de carros de passeio – em média, cada pneu pesa 5 kg. Esse número representa nada menos que 92% dos 67,3 milhões de pneus produzidos no Brasil pelas nove empresas associadas à ANIP – Michelin, Pirelli, Goodyear, Bridgestone, Continental, Maggion, Rinaldi, Levorin e Tortuga. “ Os fabricantes de pneus já investiram mais de US$ 124 milhões no programa desde a sua criação, em 2007. Para este ano, a previsão é de US$ 41 milhões ”, contabiliza Cesar Faccio, coordenador da Reciclanip.

    Hoje o Reciclanip conta com 620 postos de coleta no país. O pneu coletado é triturado e pode ser reaproveitado de diversas formas. Algumas dessas utilizações, é verdade, são ainda bastante poluentes. Como quando vira combustível em indústrias de cimento ou queimado nas caldeiras de metalúrgicas. Outras são menos agressivas, como a fabricação de asfalto ecológico ou de solados de sapato. De qualquer maneira, a situação mostra uma nítida evolução em relação à década passada. O comum era descartar os pneus de qualquer maneira. Hoje cada vez menos pneus acabam em rios, entupindo as redes de esgoto ou formando grandes volumes nos aterros sanitários. “ Já se tem  como encaminhar os pneus para a reciclagem, o que contribui com meio ambiente ”, defende Roberto Falkenstein, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Pirelli. “ Há uma tendência de que os novos produtos, de alguma forma, sejam menos agressivos à natureza ”, reforça Rui Moreira, diretor de marketing da Goodyear.

    Outra solução para os pneus inúteis são os famosos remold: pneus remanufaturados feitos a partir das carcaças de pneus usados. Fabricantes como a Pneuback, BS Colway, Colway Tyre e Vipal trabalham com a remoldagem. Esta técnica permite a reutilização de pneus após receberem uma nova camada de borracha através do processo de vulcanização, em que o pneu é " assado " para fundir a carcaça antiga a uma nova banda de rodagem – os produzidios para veículos pesados, inclusive, já preveem duas ou três remoldagens. Segundo a ABIP – Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados – a produção desses pneus utilizam 43% da energia, 55% do oxigênio, 4% da água e 71% da matéria-prima na comparação com o pneu tradicional. “Trata-se, sem dúvida, de um mercado fundamental para a sustentabilidade do setor de transporte”, valoriza Daniel Paludo, diretor geral da Vipal.

    Esta queda nos custos de fabricação acabam se refletindo no preço final dos remoldados – que chegam a custar até 40% do valor de um novo. Só que, no caso de pneus em que a remoldagem não é prevista, a durabilidade é bem menor que a de um pneu novo. Segundo as fabricantes, pneus remoldados de carros de passeio têm vida útil cerca de 30% menor e desempenho inferior. “ Estes pneus mais baratos em alguns casos chegam a durar metade do que duraria um pneu novo ”, alerta Renato Silva, gerente de marketing de produtos da Michelin. “ Os pneus de veículos de passeio não foram feitos para rodar várias “vidas”, e sim uma só ”, reforça José Carlos Quadrelli, gerente de engenharia de vendas da Bridgestone.

Instantâneas

# A pressão 30% abaixo da indicada aumenta o consumo de combustível em 2,5%. E uma diferença de pressão de 25%, para cima ou para baixo, pode reduzir a vida útil do pneu à metade.
# Segundo a Continental, se toda a frota do Brasil, de aproximadamente 30 milhões de veículos, usasse pneus de baixa resistência, seriam economizados cerca de 600 milhões de litros de combustível por ano.
# De acordo com a Vipal, cada pneu reformado representa uma economia de 57 litros de petróleo.
# A ANIP prevê crescimento de 5% para o setor de pneumáticos em 2011

A guerra dos pneus


    Até 2007, as remoldadoras travaram uma grande batalha com o governo brasileiro. Tudo começou em 1991, quando o governo federal proibiu a importação de pneus usados. Até ali, era comum a importação de pneus usados, em geral da Europa, para a remoldagem – os pneus usados pelos brasileiros não serviam para a remoldagem porque eram consumidos até o " sabugo ". A Associação Brasileira da Indústria de Pneus Remoldados (Abip) passou a brigar para retomar a importação, no que era apoiada pelos europeus, pois os fabricantes de lá tinham obrigação de dar fim a pneus não reutilizados e os remoldados são mal aceitos pelos consumidores.

    Até que, em 1994, uma portaria do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) decidiu liberar a importação. Isso atraiu para o Brasil a BS Colway, maior fábrica de remoldados do mundo, que aproveitava a “ matéria-prima ” europeia. Em 2003, um decreto voltou a proibir a importação. Mas as remoldadoras acharam uma brecha: o Uruguai aceitava pneus inservíveis da Europa. E pelos acordos bilaterais do Mercosul, o Brasil não poderia impedir a vinda destes pneus “ uruguaios ”.

    A decisão final veio só em 2007. Neste ano as brigas judiciais chegaram a Organização Mundial do Comércio (OMC), que interveio a favor do Brasil e proibiu qualquer importação de pneus inservíveis para o Brasil. Mesmo que vindos do Uruguai. Neste mesmo ano o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu todas as liminares de empresas de pneus remoldados. Hoje empresas instaladas aqui, como a Vipal, reaproveitam pneus nacionais. “ A decisão foi positiva para o Brasil. Maus empresários lucravam absurdamente trazendo esse lixo para o país ”, explica Rinaldo Siqueira Campos, da Associação Brasileira dos Importadores e Distribuidores de Produtos Automotivos, a Abidipa. “ Antigamente existia a prática de importar pneus. Mas hoje o mercado nacional tem capacidade de abastecer o setor ”, garante Eduardo Sacco, gerente de marketing da Vipal.
Fonte: motordream
Disponível no(a):http://motordream.uol.com.br

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