O jornalista automotivo Josias Silveira, que edita as revistas "Duas Rodas" e "Oficina Mecânica", acaba de lançar seu primeiro livro |
por Luiz Humberto Monteiro Pereira
No livro "Sorvete de Graxa", que acaba de lançar pela Editora Europa, o jornalista Josias Silveira relata, de forma bem-humorada, algumas das experiências e histórias vividas por ele e pelos companheiros de profissão em suas andanças pelo mundo, nos eventos automotivos.
Nascido na capital paulista há 65 anos, Josias " se formou em Jornalismo " na Escola de Engenharia Mauá. Ou seja, enquanto cursava Engenharia Mecânica, defendia uns trocados dando aulas de Matemática e fazendo frilas junto com amigos que cursavam Jornalismo na USP. " Ninguém é perfeito, muito menos na escolha de amigos ", alfineta Josias.
Lá pelo começo dos anos 70, enquanto estagiava como engenheiro, surgiu a revista "Status", onde já fazia todas as matérias de carros, motos, barcos e aviões. Começou a tomar gosto pelo Jornalismo e até tinha duas páginas numa revista feminina da Editora Três - escrita com um pseudônimo feminino -, onde ensinava a trocar lampadas, como fazer quando a válvula da descarga emperrava... " Assuntos técnicos profundos, que só um engenheiro poderia resolver... ", relembra.
Em 1974, foi convidado pelo jornalista Miguel Jorge para criar uma revista de moto, a "Duas Rodas", que faz até hoje. "Já fiz de tudo, de revista de filmes à de mulher pelada", gaba-se Josias. Seu carro atual, segundo ele, " é um monte de lixo andante ". " Estou numa fase de carros de fibra de vidro: tenho até uma picape, o Formigão, com motor AP 1.8 fuçado e um Gurgel BR800 com motor Fusca 1600. Como todo maniaco, não consigo ter apenas uma mania por vez. Estou também numa fase de carros japoneses velhos: tenho dois Daihatsu Charade e até um Subaru Vivio, aquele mini com motor 660 cc. Ou seja, se o carro for novo, não é meu. É de teste ", avisa o jornalista. " E mais umas Vespas, algumas Honda dos anos 70 e 80, vários scooters.. Teria de escrever mais um livro pra contar sobre todos os meus lixos sobre rodas ", pondera, já arquitetando, quem sabe, uma futura obra literária.
MotorDream - Como surgiu a ideia do livro "Sorvete de Graxa"?
Josias - Acreditei no meu avô, que dizia que tinha de plantar uma árvore, ter filhos e escrever um livro. Plantei dezenas de árvores, já estou nos netos e faltava o livro. Por pura encheção de saco de um amigo, o Roberto Araújo, da Editora Europa, acabei escrevendo o "Sorvete de Graxa". Pelo menos o Roberto acredita em mim como escritor e se tornou meu editor e " feitor ". Com algumas chicotadas semanais, o livro acabou saindo...
MotorDream - E o título "Sorvete de graxa", veio de onde?
Josias - É o titulo de uma das histórias do livro, sobre este cretino desmontando carros em um ferro-velho americano, com a agradável temperatura de -10º C.
MotorDream - E o processo de produção editorial do livro, como foi?
Josias - Escrever até que foi fácil, graças ao carinho do " chicote " do Roberto Araújo. Gastei uns 8 ou 10 meses. O maior problema, nesta fase, foi adaptar a linguagem jornalistica ao livro. Você começa um conto e acaba saindo uma reportagem. Já a edição foram mais seis meses de muito trabalho. Fazer revista é fácil, livro é um saco. Além disso, Deus é mineiro e consegui o patrocínio da Fiat. Aí, tinha de caprichar mais, fazer um livro mais chique, para não decepcionar quem acreditou " nimim "...
MotorDream - Você tomou gosto pela coisa? Ou seja, vamos ter outro livro?
Josias - A julgar pelos amigos que já leram o "Sorvete de Graxa" e exigem uma continuação, acho que vou ter de escrever mais. Além disso, o Roberto, meu " feitor ", só " escondeu o chicote " por um mês. Depois ele vai recomeçar a cobrar o segundo livro. Enquanto, isso, rezo toda noite para comprarem o primeiro livro. Sem leitores, não existe autor...
MotorDream - Quais os países você já conheceu viajando como jornalista automotivo?
Josias - Acho que entre 20 e 30 paises. Assim como meus carros e motos, nunca contei direito. Do Paraguai à Filandia, do Marrocos ao Canadá...
MotorDream - De todos os eventos de automóveis que participou, qual foi o mais impressionante?
Josias - Foi um Curso de Pilotagem na neve e gelo (um lago congelado) em Kittila, na Lapônia finlandesa, promovido pela Volvo, com a agradável temperatura de - 40ºC. Com direito a passeio de Snowmobil à noite, no meio da floresta. Inesquecível. Acho que vai estar no segundo livro.
MotorDream - E o pior?
Josias - São vários, mas destaco dois. Primeiro, uma moto européia que foi apresentada antes e com exclusividade para "Duas Rodas". A moto funcionou dois minutos e se recusou a participar mais. O motor apagou e não pegou de jeito nenhum. O pessoal da fábrica quase saiu na porrada, um culpando o outro pelo fiasco. Outro lançamento escatológico foi de um automóvel em Salvador, que incluiu um romantico passeio de saveiro, cheio de jornalistas e de caipirinha. O motor do saveiro parou no meio do mar, o barco ficou a deriva e o mar foi engrossando. E o barco balançando... Nunca ví tanta gente vomitando ao mesmo tempo...
MotorDream - Você recomendaria o jornalismo automotivo para alguém que quisesse se tornar jornalista hoje?
Josias - Acredito no preceito espirita de que viemos para cá com o propósito de aperfeiçoamento. E para crescer, é necessário sofrer. Por isso recomendo o jornalismo automotivo e motomotivo para quem gosta de sofrer e saiba mentir com convicção... O pior é que vicia. Falando sério, além de ser alfabetizado, é preciso gostar muito de carros e motos, senão alguém não aguenta. Ou o jornalista ou os coitados dos leitores...
MotorDream - Algum de seus filhos seguiu a profissão?
Josias - O Guilherme, o mais velho, é redator automotivo, escrevendo para várias revistas, inclusive Oficina Mecânica. O mais novo, Felipe, é publicitário. Nenhum paí é perfeito...
MotorDream - Qual será a sua próxima viagem a trabalho?
Josias - Já programada, para a Argentina, com a Anfavea. Vou ver o "Salon de Coches" dos "hermanos"...
Fonte: motordream
Disponível no(a):http://motordream.uol.com.br
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