9 de abr. de 2011

CHUVA, MESMO SEM BOTÃO By REGINALDO LEME



Homenagem ao amigo Gustavo Sondermann
Cheguei a Kuala Lampur antes da habitual chuva das 4 da tarde. Aliás, ela também chegou cinco minutos antes do horário na quinta-feira. Na sexta, cumpriu à risca a programação. Portanto, como a largada amanhã acontece às 4 da tarde, Bernie Ecclestone nem vai precisar do seu sonhado botão de chuva. Aqui deve ser o próprio São Pedro quem aciona o botão, sem intermediários.
Nos 12 anos de existência deste GP a variação nas condições do tempo sempre teve papel fundamental no desenrolar da corrida, sendo que em 2009 ela foi encerrada logo depois da metade porque a chuva exagerou um pouco.
Barrichello no circuito de Kuala Lampur
Mesmo antes da chuva, o calor e a umidade são insuportáveis. Por isso, a área do paddock, uma via estreita cercada de um lado pelos boxes e de outro, pelas tendas que hospedam as equipes, lugar que deveria ser tão agradável quanto o da Austrália – com a mesma configuração, mas sem este calor sufocante – aqui acaba ficando vazio. Ninguém suporta ficar fora do ar condicionado das tendas. Em 1999, ano de estréia, o GP foi realizado em outubro, mas desde 2001 vem acontecendo entre o fim de março e começo de abril, um dos períodos mais quente do ano por aqui.
Depois do que se viu duas semanas atrás na abertura do Mundial, o RB-7 é o carro a ser batido. E o campeão Vettel, vencedor na Austrália e também vencedor aqui na Malásia no ano passado, é a grande aposta. Diante disso, a chuva se torna uma esperança a mais para as equipes rivais. Dependendo de quando ela chegará e o quanto de água vai cair, a estratégia pode valer mais do que nunca. Mesmo assim, existe uma dúvida no ar – o kers vai funcionar no carro da Red Bull, que não precisou dele para vencer na Austrália ? Na teoria o kers é extremamente necessário numa pista com as retas largas de Sepang e a Red Bull usou normalmente o dispositivo no treino de sexta, sempre com a intenção de usá-lo também na corrida. Mas a sexta-feira, todo mundo sabe, é dia de experiências diversas. Na sexta-feira da Austrália a equipe treinou o tempo todo com o kers e ninguém poderia imaginar que ela entraria na classificação de sábado já sem o dispositivo.
Eu torço muito para que o fim de semana na Malásia seja bem diferente daquele da Austrália. Não pela vitória fácil de Sebastian Vettel, que eu admiro muito como piloto e como pessoa, mas pelo fracasso das novas regras criadas para nos trazer mais ultrapassagens. Agora é a hora do teste definitivo em um circuito de fato. Em Albert Park a F-1 fez sua estréia em uma pista de rua, embora muito diferente de Valência e Mônaco. Agora em Sepang as diferenças entre os carros começam a ficar mais claras. E eu também quero ver o forte calor malaio provocar mais trocas de pneus, como até a própria Pirelli esperava.

“O SONHADO BOTÃO DE CHUVA DEVE SER ACIONADO

POR SÃO PEDRO”



Aqui em Sepang o acidente que vitimou Gustavo Sondermann em Interlagos foi tema de conversas entre pilotos. Mark Webber, que bateu forte na mesma Curva do Café em 2003, foi quem mais se interessou em conhecer as circunstâncias do acidente e  citou o nome de Rafael Sperafico, também vítima de acidente no mesmo lugar em 2007, demonstrando conhecer bem o histórico daquela curva. Para Webber, ela é sempre tema de discussão entre pilotos e comissários da FIA antes de cada GP do Brasil por ser um trecho de alta velocidade e baixa visibilidade na sequência de um trecho em subida, a chamada Junção. Cacá Bueno já havia me dito isso no programa Linha de Chegada do SporTV. A visibilidade de dentro de um cockpit de F-1, onde o piloto fica mais deitado, é ainda menor que a do Stock Car. Já Fernando Alonso, também envolvido naquele acidente de 2003, simplesmente não vê necessidade de mudança.
O presidente da CBA, Cleyton Pinteiro, tomou a iniciativa correta, enviando ofício a Charlie Whitting, delegado de segurança da FIA, solicitando a presença dele em São Paulo para discutir eventuais modificações na Curva do Café. Para mim, chegou a hora de a Prefeitura de São Paulo realizar uma obra definitiva e extremamente necessária para preservar um ícone como Interlagos. Já que não existe espaço para se afastar o muro do lado de fora da curva – a FIA exige área de escape com 50 metros – o momento exige um projeto mais ambicioso, que é uma área suspensa do lado de dentro da curva. Isso traria uma solução definitiva também para um ponto ainda mais crítico de Interlagos, que é a entrada de box.
Felipe Massa corre domingo com o nome de Gustavo pintado em seu capacete. Ana Helena, mãe de Felipe, que está aqui na Malásia, é bem amiga de Nanci, mãe de Sondermann, e os filhos delas cresceram juntos. Eu termino esta coluna deixando meu abraço para Sérgio e Nanci, pais de Gustavo, o menino sorridente que vai deixar saudades em todos nós, seus amigos eternos.

Fonte:sinalverde
Disponível no(a):http://globoesporte.globo.com/platb/sinalverde

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