A despeito do aumento da frota, grande parte dos engarrafamentos são causados pelos motoristas
por Marcelo Cosentino
Anos atrás, era impossível pensar em congestionamento em cidades pequenas. Hoje o brasileiro gasta em média 26 dias dentro do automóvel a cada ano. Cada vez mais o trânsito afeta a todos e é necessário aprender a conviver com ele. No entanto, é realmente difícil aceitar que uma multidão de carros fique imobilizado sem nenhuma razão aparente. Para responder esta e outras questões, a organização Car Insurance que ajuda os consumidores com dicas de segurança e sobre como dirigir nos Estados Unidos publicou um estudo científico que expõe diversas características do trânsito e ajuda a entendê-lo melhor.
Algumas das revelações parecem óbvias. A Car Insurance concluiu, por exemplo, que os engarrafamentos ocorrem por uma conjunção de fatores, como saturação de veículos na via, obras nas pistas e condições climáticas que obrigam os condutores a dirigirem ainda mais devagar. A maior quantidade de veículos nas ruas, no entanto, não deve ser considerada a grande "vilã" do trânsito. "O problema maior não é o aumento do número de veículos, mas sim o aumento da dependência deles. E isso é um reflexo da má qualidade do transporte público", revela Paulo Cesar Marques da Silva, professor de Engenharia de Tráfego do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental do Programa de Pós-Graduação em Transporte da UNB.
Outro ponto analisado pela Car Insurance é o chamado "Efeito Borboleta" também conhecido como Efeito Sanfona e Efeito de Ondas Invisíveis. O nome curioso na verdade esconde um problema crônico do trânsito em todo o mundo. Acontece da seguinte maneira: um carro diminui a velocidade em uma pista que segue com trânsito intenso. O carro que vem atrás é obrigado a fazer o mesmo, e, por sua vez, o motorista de trás deste também. No final há um engarrafamento criado sem motivo algum e que demora algum tempo para se desfazer. A Polícia Rodoviária Federal e outros órgão ligados ao trânsito estudam maneiras de solucionar este problema, mas não há muitas alternativas. "Uma das atitudes que tomamos é parar uma viatura do outro lado da pista. Isso costuma fazer o trânsito fluir melhor. Mas também pode causar o efeito contrário, caso as pessoas diminuam a velocidade achando que há um acidente", revela a Inspetora Marisa Dreys, Chefe do Núcleo de Comunicação Social da Polícia Rodoviária Federal.
Em países como a Alemanha e o Japão, uma solução encontrada para combater o "Efeito Borboleta" é a adoção de painéis luminosos que indicam a situação da via naquele momento. Este recurso também colabora para conter um outro problema apontado no estudo: metade dos casos de congestionamento são causados pelo tráfego recorrente, ou seja, pessoas que optam por circular pelos mesmos caminhos. "O investimento na sinalização traz mais informação e auxilia o motorista a pegar uma via com trânsito melhor", explica o professor Paulo Cesar Marques da Silva.
Outro ponto crítico do estudo recebeu o literário nome de "Tragédia dos Comuns". Esta teoria estabelece que, como a maioria dos caminhos pode ser usado a qualquer hora por qualquer um, eles acabam engarrafando. Uma das soluções seria restringir o acesso a eles. Ou seja, implementar pedágios urbanos, uma medida polêmica e impopular. "Esse procedimento já é utilizado na Inglaterra. Mas, independentemente do que se possa fazer para diminuir o trânsito, o mais importante é investir em infraestrutura de transportes", esclarece Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive.
Muitos motivos que também atrapalham o trânsito ficaram de fora do estudo. E o principal deles é o desrespeito às leis de trânsito. "Em algumas situações, o motorista para seu carro em local proibido porque são apenas três minutos, mas os reflexos no trânsito levam muito mais do que esse tempo para serem superados", explica André Horta, especialista de segurança viária do CESVI Brasil. Portanto um bom tráfego começa a ser viável a partir de um motorista bem instruído e compromissado com as leis de trânsito. "O ato de dirigir é coletivo. Se todos pensarem dessa maneira, vamos ter um trânsito melhor", completa Ricardo Dilser, assessor técnico da Fiat Automoveis.
Instantâneas
# O estudo elaborado pelo Citigroup intitulado "Off the Beaten Path" revela que o congestionamento de automóveis no mundo reduz a produtividade do trabalhador em 5%, o que equivale a uma perda de US$ 919,50 por hora perdida no trânsito.
# Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o 5º país do mundo em mortes no trânsito. O país com mais vítimas fatais é a Índia, seguida de China, Estados Unidos e Rússia.
# São Paulo é a segunda cidade “mais devagar” do mundo, entre as pesquisadas em todo o mundo pelo "Off the Beaten Path", do Citigroup, com uma velocidade média no trânsito de 24 km/h. A Cidade do México lidera a lista com 22,5 km/h.
# O chamado "PAC da Mobilidade Urbana" prevê o investimento de até R$ 6 bilhões para melhorar o trânsito nas regiões metropolitanas das cidades que vão sediar a Copa do Mundo do Brasil, em 2014.
Mudança de hábito
A "selva urbana" das metrópoles brasileiras esconde problemas que literalmente estão entre o banco e o volante. O comportamento do motorista é fator determinante para o trânsito de uma maneira geral. Com o aumento da frota e dos congestionamentos, os motoristas são naturalmente levados a uma irritação e a um comportamento agressivo. "A situação de trânsito constante leva ao estresse psicológico que acarreta impaciência e desatenção", explica Raquel Almqvis, especialista em trânsito do Departamento de Psicologia de Tráfego da ABRAMET Associação Brasileira de Medicina de Tráfego. Com isso, cresce o número de acidentes.
Apesar de as pesquisas apontarem quedas no número de vítimas de trânsito de 44,8 acidentes por grupo de 10 mil veículos em 1997, para 27,1 acidentes por grupo de 10 mil carros em 2009, segundo a Polícia Rodoviária Federal , o fato é que as estradas não estão mais seguras. "O número de vítimas a cada mil quilômetros está diminuindo graças aos avanços tecnológicos dos carro, mas os acidentes continuam crescendo", observa Ricardo Dilser, da Fiat. A alta incidência de acidentes coloca o Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no 5º lugar do mundo em mortes no trânsito, com um percentual de 18 mortes para cada 100 mil habitantes. Por isso é importante investir na conscientização e reeducação, já que os motoristas nem sempre percebem o quanto afetam negativamente o trânsito com pequenas situações do dia a dia. "Por exemplo, o condutor fecha o cruzamento, não vai pra frente e ainda impede que os outros motoristas andem. Sem ele notar é criada uma reação em cadeia que prejudica todo o trânsito", analisa André Horta.
Grande parte dos acidentes poderiam ser evitados com uma conjunção de fatores simples, como maior respeito às leis de trânsito, fiscalização eficiente das autoridades e melhores condições das vias pavimentação, sinalização, entre outros. Assim como há omissão por parte dos responsáveis pelo trânsito, entre muitos motoristas impera o desrespeito. "As pessoas lutam pelos seus direitos, mas esquecem de seus deveres", critica a Inspetora Marisa Dreys, da Polícia Rodoviária Federal.
Fonte:motordream
Disponível no(a):http://motordream.uol.com.br
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