30 de mar. de 2011

Como um Shelby GT350 1966 ficou escondido no lixo por 26 anos


Daqui algumas semanas, este raro Shelby GT350 1966 vai a leilão, depois de passar 26 anos cercado por lixo atrás de um conjunto de apartamentos no Kansas. Esta é a história de como o estado do Texas o liberou.

No mundo dos colecionadores de carros, poucas palavras têm um significado mais especial que “achado” – o sonho ideal de um clássico abandonado, estacionado e esquecido, mas ainda protegido das intempéries, que ressurge em meio ao pó se metamorfoseando em um tesouro. A verdade por trás desses clássicos geralmente não é tão simples, com amarras legais e tragédias familiares suficientes para gravar um folhetim mexicano.

Em 1966, a Shelby American revendou Mustangs com uma série de melhorias, incluindo um aumento de potência para 310 cv. Dos 2.378 construídos, cerca de 1.003 foram vendidos à Hertz, que os alugava para competições; muitos vinham com pinturas pretas com detalhes dourados, mas alguns foram pintados na cor vermelha, como o modelo da foto, fornecido para um escritório da Hertz na cidade da Geórgia.
Após ser alugado por cerca de um ano, o carro foi vendido para Anabeth Youngquist em Miami, em outubro de 1967. Sua filha, Gail Youngquist, registrou o carro no clube de proprietários Shelby em 1974 enquanto vivia em Kansas, e em 27 de junho de 1976, um posto da Conoco trocou o seu óleo, registrando 140.608 km no hodômetro.
Então ele desapareceu. E as coisas ficam um pouco estranhas.
O marido de Anabeth Youngquist e pai de Gail Youngquist é Rex Youngquist, um proprietário de terreno e incorporador que tinha alguns problemas com a sua propriedade e com as autoridades locais. Sete anos atrás, Youngquist foi processado e obrigado a pagar mais de US$ 110.000, depois que uma de suas filhas que administrava os prédios de apartamento Villa 26, de sua propriedade, em Lawrence, Kansas, se recusou a alugar uma unidade para um casal inter-racial.

Em 2006, Youngquist afirmou que um condado no Kansas lhe devia US$ 11 milhões em reparações por entulho de construção em seu terreno, baseado em um “julgamento perfeito” que ele inventou sem ao menos ir aos tribunais. E logo após isso, Rex e Gail Youngquist abriram uma empresa de exploração de poços de petróleo no Texas – sem nenhuma das autorizações exigidas pela lei do estado.
Quando o estado do Texas processou os Youngquists em 2008, Rex respondeu com uma carta enviada do Panamá, dizendo que não sabia quem era Gail Youngquist e que não se lembrava de nada citado no processo aberto pelo estado. Outros detalhes revelaram que os Youngquists eram membros de uma tal “Nação do Kansas” e que “as terras ao seu redor” não tinham a posse sobre elas; os Youngquists mandaram outros documentos legais assinados com suas digitais em sangue.

Ano passado, um juiz do Texas deu sentença favorável ao estado, punindo os Youngquists com US$ 624.805 em taxas e multas. A coleção foi entregue ao promotor de Houston Peter Pratt, que foi atrás de todas as propriedades que a família tinha no Kansas – inclusive os apartamentos do Villa 26, que foram confiscados em janeiro.
O novo gerente do Villa 26 encontrou três galpões atrás do prédio repletos do que ele chamou de “os detritos da vida” – churrasqueiras velhas, esquis, ferramentas antigas e outras tranqueiras domésticas. Pratt o ordenou que esvaziasse os galpões, já que eles poderiam ser alugados; eles ofereciam ainda o risco de incêndio. Quando o gerente começou a retirar o lixo de um dos galpões, as formas de um carro começaram a aparecer.
Boa parte da superfície do Shelby estava coberta de mofo; o hodômetro tinha apenas alguns milhares de quilômetros a mais do que quando passou pela última troca de óleo em 1976. Com base nos registros, Pratt estima que o carro estivesse no galpão desde pelo menos 1985, intocável. Dentro do Villa 26 estavam ainda os documentos necessários para provar a autenticidade do Shelby.

Para satisfazer a decisão contra os Youngquists, o Shelby será leiloado na Leake Auctions em San Antonio dentro de duas semanas. Tirando o mofo, falta pouca coisa; o motor foi limpo e funciona, e até mesmo os pneus seguram o ar. Exemplares similares de GT350 da Hertz em boas condições foram vendidos entre 100 e 200 mil dólares.
Nossas tentativas de entrar em contato com Rex ou Gail Youngquist não tiveram sucesso, mas nós gostaríamos de saber se eles chegaram a imaginar que não precisavam cavar buracos no Texas para faturar alto.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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