30 de mar. de 2011

BBC lança filme sobre as décadas sangrentas da F1


Quando homens eram homens e quando os carros de corrida se pareciam com carros, pilotos e espectadores morriam nos finais de semana dos Grandes Prêmios a torto e a direito. A história dos primórdios da Fórmula 1 é um filme de suspense sanguinário, e um novo documentário de uma hora da BBC põe a nostalgia sob uma nova e triste perspectiva.

Nasci em um ponto intermediário da história da Fórmula 1, entre a vitória de Jean-Pierre Jabouille no GP da Áustria de 1980 e a vitória de Nelson Piquet no GP dos Países Baixos  do mesmo ano. Ambas foram a segunda vitória dos pilotos, mas enquanto Piquet iria vencer mais 21 GPs a caminho de seus três títulos mundiais, Jabouille quebrou as duas pernas seis semanas depois em Montreal e nunca mais terminou uma corrida.
Jabouille é um dos sortudos. Seu compatriota Patrick Depailler morreu em um carro de Fórmula 1 dois meses antes do acidente que pôs fim à carreira de Jabouille, apenas uma entre as muitas vítimas das três primeiras décadas de história da Fórmula 1, cujos detalhes assustadores são contados em Grand Prix: The Killer Years (ainda sem nome no Brasil, traduzindo de forma livre: Grand Prix: Os Anos Assassinos), um novo documentário transmitido na BBC Four depois do Grande Prêmio da Austrália no último domingo.
O começo da Fórmula 1 tem um certo charme, uma sequência de imagens que até hoje conquista até quem não é lá tão fã de carros. Era uma época em que todos pareciam incríveis. Foi um tempo também em que Jackie Stewart se sentou com sua esposa e acabou precisando usar todos os seus dedos, das mãos e dos pés, e todos os de sua esposa, e mesmo assim faltaram 17 para contar todos os amigos de automobilismo que enterraram em alguns poucos anos da década de 1960: cinquenta e sete pessoas.
Foi Sir Jackie que começou uma campanha pela segurança dos pilotos, argumentando que só porque alguém faz um determinado trabalho por paixão não significa necessariamente que ele deve se expor a uma probabilidade estúpida de se morrer nesse trabalho.
Você sabia disso tudo certo? Existem listas na Wikipédia dedicadas aos pilotos que morreram ao volante. Sublistas para os pilotos que morreram durante testes. Mortos durante treinos. Mortos por várias razões. Tiveram a garganta cortada. Queimaram até a morte em tufos de feno. Queimaram até a morte em protótipos de magnésio. É uma experiência no mínimo diferente ver por uma hora uma sequência de jovens morrendo em carros de corrida, outros jovens e suas esposas e filhos morrendo nas arquibancadas, ver Nina Rindt em sua sala de estar, com orquídeas sob a mesa de jantar, Nina apontando para uma estante ocupada pelo troféu do mundial de pilotos da Fórmula 1 de Jochen Rindt, Jochen Rindt que estava há quatro semanas em seu túmulo no dia em que ganhou o título mundial durante o GP dos Estados Unidos de 1970, morto em um Lotus 72 no circuito de Monza.

Às vezes é quase insuportavelmente triste. Me fez pensar sobre toda uma nostalgia vazia pelos anos dourados. Como podia ser normal que uma temporada da Fórmula 1 resultasse na morte de tantos pilotos? Veja a foto do grid de 2011! Você consegue imaginar vários deles morrendo até novembro? Será que a tolerância do público com toda a carnificina era resultado da Segunda Guerra Mundial ainda ser uma memória via para a maioria das pessoas, enquanto um europeu nascido quando eu nasci provavelmente nunca viu a guerra e contínuas mortes aleatórias em sua vida? Será que era a cobertura inconstante da TV, com mortes mais abstratas e distantes quando vistas em um jornal com as notícias do dia anterior ou ao ouvir no rádio?
Não sei. Mas eu nunca mais vou pensar nessas antigas corridas da mesma forma novamente. Ver Jim Clark costurar por entre as árvores em Oulton Park (acima) como se fosse mercúrio líquido com seu Lotus, e saber que ele estaria morto cinco anos depois, com a falha de outro Lotus (no topo). Seria adorável ir a um Grande Prêmio e ver Jim Clark correndo com uma Lotus em uma apresentação antes da corrida, mas não podemos. Porque Jim Clark morreu. Assim como Jochen Rindt está morto. E Ronnie Peterson. E Jo Schlesser.
Se você mora no Reino Unido (ou sabe como fazer parecer com que seu computador esteja lá, cortesia do Felipe Ventura do Giz), Grand Prix: The Killer Years está disponível até o dia 3 de abril no BBC iPlayer.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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