8 de fev. de 2011

Garagem dos Sonhos: Voisin C28 Aerosport



Infelizmente, é praticamente impossível encontrar alguém que saiba sobre o Voisin C28 ano 1935 algo além daquilo que é dolorosamente óbvio: ele tem um visual fantástico. Parte estudo de design e parte visão do futuro, o C28 era, acima de tudo, um carro que foi construído para ser guiado. Oito deles, na verdade, embora apenas um exemplar azul tenha chegado inteiro até os dias de hoje. E o que o torna tão especial?


O Aerosport 1938 foi o derradeiro veículo projetado por Gabriel Voisin, embora o mesmo tenha morrido apenas em 1973. A boa notícia é que o C28 Aerosport não é somente sua obra prima, mas também a mais importante. Antes de entender porque o carro significa tanto, vamos conhecer melhor o homem por trás dele.

Nascido em 1880, o primeiro amor de Voisin não foi pelos carros, mas pelos aviões. Para falar a verdade, voar era sua paixão platônica, visto que os aviões ainda não haviam sido inventados. Em 1905 ele construiu um planador e o colocou para ser puxado por um barco. Voisin voou por quase 150 metros antes de cair e quase se afogar. No ano seguinte ele e seu irmão Charles inauguraram o que se tornou a primeira fábrica de aviões do mundo, a Les Frères Voisin. A firma parou de construir aviões após a Primeira Guerra Mundial, pois Voisin ficou traumatizado com o fato de suas criações serem utilizados para matar tantas pessoas. Seu admirável pacifismo foi bom para nós, pois ele voltou suas aspirações mecânicas para os carros. Ótimos carros, de fato, adorados pelos ricos e poderosos. Ao todo, mais de 11 mil Voisins foram produzidos e vendidos antes de Gabriel perder o controle da companhia, pouco antes da Segunda Guerra Mundial.
Aplicando muito do que aprendeu na aviação em seus automóveis, Voisin conseguiu uma importante vantagem sobre a concorrência da época, principalmente se tratando de peso e aerodinâmica. Exatamente como hoje, a melhor maneira de se fazer um carro mais leve é utilizar outros materiais ao invés de ferro gusa e aço. Especialmente alumínio, cuja utilização era extremamente rara naquele tempo. Gabriel favorecia motores sem válvulas, que utilizavam camisas móveis ao invés daqueles com árvore-de-cames, visto que eles eram bem mais silenciosos. Claro, seus carros deixavam para trás uma nuvem de fumaça branca, mas era um preço baixo a pagar por um luxo tão silencioso, correto?
Voisin construiu uma porção de motores diferentes, desde os tradicionais quatro em linha, passando por radiais de sete cilindros, até motores v12, inspirado na guerra dos cilindros — todos eles sem válvulas. Seus carros também eram bem seguros para a época, pois Gabriel, traumatizado pela morte do irmão e sócio Charles em um acidente de carro em 1912, estabeleceu que a segurança dos passageiros seria prioridade no design de todos os Voisins.

O C28 Aerosport vinha equipado com um motor Knight 3.3L de seis cilindros em linha e 102 cv. É claro que isso não é muito. O motivo pelo qual o carro recebera um motor relativamente pequeno é reflexo da época: ele foi produzido no auge da Grande Depressão. Ao se deparar com a horrível escolha entre construir carros menos maravilhosos ou continuar fazendo o que fazia melhor, Voisin (felizmente) optou pela última. Dispensar os V12 foi a infeliz medida econômica consequente de sua brava decisão. E, como Colin Chapman já bem dizia, mais potência nem sempre é a resposta.

Se a potência seria sacrificada, outro aspecto deveria compensá-la. Era aí que entrava a aerodinâmica. A Chrysler já havia dado um passo no ano anterior, com o Airflow, um carro bastante inovador, embora menos aprazível esteticamente. No entanto, em nossa opinião, o C28 Aerosport acertou em cheio. Todos os toques de modernidade estão presentes, da maneira como a carroceria é integrada às asas do para-choque à traseira fastback. Voisin levantou as “passarelas” (o espaço entre os picos do para-choque e o capô dianteiro) mais alto do que qualquer um antes dele ousou fazer. Os faróis, por sua fez, foram instalados nas passarelas. E mesmo que o Aerosport nos olhe do alto de seus inacreditáveis 76 anos de idade, a frente (apesar da grade vertical) é dona de um visual surpreendentemente contemporâneo. Compare com a dianteira do Rolls-Royce Phantom moderno e veja por si mesmo.

Outras características notáveis incluem o teto solar controlado a vácuo, os amortecedores dianteiros e traseiros ajustáveis, e a transmissão com pré-seletor, onde a marcha era primeiro selecionada e então ativada ao se pressionar um pedal.

Mesmo que o C28 Aerosport não funcionasse mais, ainda adoraríamos que ele fizesse parte de nossa Garagem dos Sonhos. Longo, baixo e elegante, e com insana atenção aos detalhes — observe os limpadores triplos e o acabamento nos para-choques — o C28 é mais um daqueles franceses que estraçalham corações. Saber que sua leveza e aerodinâmica sofisticada o fizeram um verdadeiro esportivo (161 km/h em1935 não é nada mal) só torna as coisas melhores.

Além disso, ele é deslumbrante. Simplesmente, absolutamente deslumbrante.
Crédito pelas fotos: Wouter Melissen via UltimateCarPage.com


Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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