
Ele era veloz, tinha bom comportamento dinâmico e um estilo incrível. Essa é a descrição de qualquer esportivo consagrado dos anos 60, mas nesse caso estamos falando do primeiro superesportivo do Japão. O Toyota 2000GT foi um carro fora de seu tempo, de uma época em que ninguém ligava para os carros japoneses, e foi aí que sua história teve um rumo diferente dos esportivos daquele tempo.
Lançado no Salão de Tóquio de 1965, o Toyota 2000 GT mudou a visão que o mundo tinha sobre o Japão. Antes dele, sabíamos que o Japão fabricava carros, mas quase todos deixavam os entusiastas com sono. A maioria dos projetos era maciçamente influenciada (ou até mesmo plagiada) de outros fabricantes, e mesmo aqueles quer eram totalmente originais não eram muito mais que equipamentos agrícolas, inclusive no comportamento dinâmico. O 2000GT foi uma espada samurai na cara desse ponto de vista.
Toyota 2000GT:

Apenas 20 anos depois da derrota na Segunda Guerra, o Japão agora mostrava ao mundo um esportivo que tinha o melhor que a Europa poderia oferecer em termos de desempenho e beleza.
Contudo, a Toyota não fez isso sozinha. Na verdade, a Toyota mal teve relação com o 2000GT. Boa parte do trabalho pesado foi feita pela Yamaha. A Nissan também planejava um GT rápido e se uniu à Yamaha. Esta última trouxe o designer alemão Albrecht Goertz (alguém falou BMW 507?) para desenhar as formas do carro. Podemos apenas imaginar quão quente essa colaboração teria sido, mas infelizmente, o projeto foi cancelado em 1964 – embora uma versão alterada tenha sido lançada uma década depois com o nome 240Z. Por sorte, a Toyota convidou a Yamaha para ajudá-la a construir seu próprio GT. A partir de um projeto feito por Satoru Nozaki, as duas empresas concordaram em construir o projeto batizado com o código 280A.
Desde o primeiro dia, o objetivo era bater o E-type. A Jaguar tinha sido a sensação em 1961 quando revelou seu falo sexual de quatro rodas. Ele tinha a herança das pistas, potência, tecnologia e um visual absolutamente matador. Contudo, os japoneses, sendo japoneses, viram aquilo e decidiram que poderiam fazer melhor. Como você aprimora algo próximo da perfeição? Pega umas páginas emprestadas de Colin Chapman. O 2000GT seria mais leve, menor, mais ágil e, dizem alguns, mais bonito. De qualquer forma, era bonito. Mais importante, a parceria entre Toyota e Yamaha deu uma olhada em uma vasta gama de esportivos, incluindo o E-type, o Porsche 911 e o Lotus Elan. No fim, decidiram que o chassi em monobloco do Elan era o ponto de partida do novo carro.

Comparado ao E-Type, o 2000GT é mais curto, mais estreito e bem mais baixo. Na verdade, o carro tem só 1,15 de altura. Os faróis escamoteáveis são o resultado de uma lei da Califórnia que exigia que os faróis principais estivessem a, no mínimo, 60 cm do solo. Os gigantes faróis no bico do carro são apenas luzes de posição (embora no mercado japonês eles funcionassem como faróis principais). Assim como o Elan, o 2000GT era leve, quase atingindo a marca dos 1130 quilos. Era também tecnicamente avançado para a época, especialmente para um carro japonês. A suspensão era independente nas quatro rodas, com braços de tamanho específico para cada. A direção era do tipo cremalheira e pinhão. O 2000GT também foi o primeiro carro japonês a ser equipado com discos de freio nas quatro rodas e diferencial autoblocante.
O motor era uma versão preparada do seis-em-linha 2.0 do sedã Crown. Imagine uma versão em miniatura do 3.8 de seis cilindros da Jaguar. Foi o que fizeram. A Yamaha fabricou um cabeçote totalmente em alumínio, com câmaras de combustão hemisféricas e duplo comando de válvulas. Alimentando a usina, haviam três carburadores duplos Mikuni-Solex. Essa configuração produzia 152 cv. Embora não seja algo gritante (especialmente pelos padrões atuais), isso foi mais que o suficiente para fazer do 2000GT o carro mais rápido já feito no Japão. Sua velocidade máxima de 210 km/h era mais que o dobro da maioria dos carros daquela ilha. Para aqueles que ainda não estão convencidos, a instalação de Webbers rapidamente aumentava a potência para mais de 200 cv.

Somente 351 unidades foram fabricadas (embora alguns digam que sejam 337). Um dos motivos para os números super reduzidos (menos que a Enzo, diga-se) é que o carro era feito a mão. Do motor à carroceria, passando pela gravação "use somente gasolina com chumbo" na tampa do bocal de combustível, o comprador levava um produto verdadeiramente sob medida. Infelizmente, isso refletia no preço, que em 1967 era 1.000 dólares maior que o preço do E-type, que era mais rápido e mais confortável. Ainda lembro de meu pai, quando o Honda foi lançado por aqui, dizendo "20.000 por um carro japonês? Eles estão loucos?" E isso foi no começo dos anos 90. Na metade dos anos 60 a Toyota ainda tinha uma montanha enorme para escalar.
Não tenha dúvidas, ele valia cada iene. Ciente de que parte da mística sobre o E-type era sua herança das pistas, a Toyota começou a correr (e vencer) com o 2000GT. Em 1966 o carro chegou em terceiro no Grande Prêmio do Japão. Outro venceu as 24 Horas de Fuji, em 1967. Até mesmo Carroll Shelby correu com um par de 2000GT na SCCA. E mais importante: o 2000GT estabeleceu vários recordes de velocidade e resistência da categoria 1500-2000 cm³ da FIA, fazendo a Porsche desenvolver o 911R especialmente para bater a Toyota.
Toyota 2000GT: o primeiro supercarro japonês">

Mas o desempenho não é a maior herança do 2000GT. Dê só uma olhada para ele. Os mais cínicos dirão que ele não passa de um E-type encolhido, mas eles – e seus corações de pedra – não entenderam a pureza de um dos maiores projetos já feitos. Falando sério: é um dos carros mais belos já feitos. Na verdade, se você olhar melhor, verá um ponto de partida para a Ferrari Daytona (adicione uma pitada de Datsun/Nissan Z). A traseira quase sem para-choque é francamente perfeita. As laterais onduladas são sensuais como você nunca viu em um carro, enquanto a dianteira é luxuosa, potente e ainda é capaz de nos deixar boquiabertos por mais uns 40 anos. Quer transformá-lo em um Bond-car? Arranque a capota.
Muito bem, Toyota!
Fonte: jalopink
Disponivel em:http://www.jalopnik.com.br
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