9 de fev. de 2014

'Queridinho' da hora para carro, motor 3 cilindros tem fama em moto

Apelo é a força em rotação mais baixa e também capacidade para as altas.Eles favorecem agilidade e custam menos para serem feitos, diz colunista.

Roberto Agresti 


Yamaha MT-09 foi lançada em 2013 com motor de 3 cilindros (Foto: Divulgação)
O mundo do automóvel vem passo a passo descobrindo a "magia" dos motor três cilindros. Por "magia", entenda-se conciliar performance razoável com economia dupla, de consumo e de construção. Porém, para nós, a turma da motocicleta, motores de três cilindros são velhos conhecidos.

Dar um pulinho em um passado nem tão remoto trará à mente dos menos jovens o rugido das Suzuki dos anos 70, as magníficas GT 380, GT 550 e GT 750, todas tricilíndricas, memoráveis não apenas pelo peculiar som de seus motores como pelos brancos rolos de fumaça expelidos dos escapes, característica típica de motores ciclo 2 tempos.

Motos europeias de três cilindros também foram e ainda são comuns, como as exclusivas MV Agusta do passado e do presente e as Triumph, antigas ou novas, passando pela BMW K75, exemplo de motocicleta à frente de seu tempo, que passou uma década no catálogo da marca alemã, até 1995, sem jamais reunir consenso, mas que hoje é vista como uma das melhores crias dos projetistas de Munique.
Uma lista de motocicletas tricilíndricas dedicadas às ruas ou à competições ocuparia todo o espaço disponível dessa coluna, mas nosso objetivo não é o de simplesmente fazer um elenco de modelos, um “flashback” de máquinas de duas rodas empurradas por três pistões, mas sim anunciar o que os mais bem informados devem já saber, ou seja, que este tipo de motor, de certo modo novidade no ambiente do automóvel (não esqueçamos dos DKW fabricados no Brasil na década de 1960, com motores ciclo 2T e três cilindros) continuará sua histórica caminhada no mundo da motocicleta.
O que ocorre nos carros



O recém-lançado Volkswagen Up! tem no moderno motor três cilindros de 999 cc um de seus principais atrativos. Eficiente, econômico e com menos peças móveis que motores de capacidade cúbica equivalente com quatro cilindros, sua fórmula premia a redução de atritos internos e facilita a vida dos projetistas na busca de melhor eficência energética e menor emissão de poluentes.
Pertencentes a uma nova geração de pequenos motores que podem ter alimentação convencional, dita aspirada (como no Up!), ou serem sobrealimentados através de turbinas ou compressores mecânicos, eles estão carregados de tecnologia, visando minimizar características indesejadas dos três em linha, como maior vibração e uma “voz” de escapamento considerada dissonante, estranha.


O que ocorre nas motos


na motocicleta, o tricilindro enveredou por um caminho diferente,  pois em geral é dedicado a motores médio-grandes (entre 600 e 1200 cc). Neste segmento, não é exatamente o item consumo que mais preocupa projetistas, mas sim a capacidade de conciliar um caráter especial de fornecimento da potência a dimensões compactas.
Como se sabe, encaixar motores nos chassis de motos é tarefa que exige arte, e um tricilindro se mostra capaz de fornecer potência razoável sem dimensão transversal exagerada.
Não é segredo que o fracionamento de motores é um dos métodos mais fáceis de conseguir elevada potência específica: no mundo do automóvel, os carros mais potentes são invariavelmente os que exibem motores com muitos cilindros, seis, oito, dez ou até doze deles, dispostos em V, em linha ou contrapostos, a chamado configuração “boxer” tornada famosa pelos Porsche.
Nas motos, fracionamentos exagerados prejudicam a compacidade, e assim os motores de quatro cilindros em linha reinam absolutos no ambiente das superesportivas atuais, trazendo o melhor compromisso entre elevada potência específica e tamanho contido.
Isso não quer dizer que não existam motores de seis cilindros em motos de série atuais: a Honda Goldwing 1800 e a BMW K 1600 GTL tem motores seis cilindros, mas são “naves” adequadas ao turismo em longa distância, pouco dedicadas à esportividade e muito menos à economia.

Quatro em linha ainda dominam


Os quatro cilindros em linha são considerados a receita mais adequada para motos de alta performance desde 1969, ano no qual a Honda lançou sua lendária CB 750 Four, a primeira superbike da era moderna. Tal moto fez escola, sendo considerada a avó de todas as superesportivas atuais, da furiosa BMW S 1000RR passando pela Kawasaki ZX-10R, Suzuki GSX-R 1000, Yamaha YZF-R1 e, claro, a Honda CBR 1000RR Fireblade. Todas com motor quatro cilindros em linha transversal, como na CB 750 de mais de quase 45 anos atrás.
Todavia, a evolução no uso de materiais e uma tecnologia mais atual dedicada à contenção das vibrações dos tricilíndricos está permitindo a realização de motores motociclísticos que, com paridade de capacidade cúbica, oferecem não apenas uma secção transversal limitada – leia se menor área frontal –, como um comportamento que reúne o melhor dos dois mundos: motores monocilindros ou bicilindros são reconhecidamente competentes quando o tema é torque em baixas e médias rotações e agilidade.
Trails (motos de uso misto, na terra e no asfalto) monocilindro de 600 cc têm potência menor do que as estradeiras de mesma cilindrada, dotadas de motores quatro cilindros em linha. No entanto, oferecem um “empurrão” em baixos giros mais consistente, característica apreciada especialmente em uso urbano ou fora-de-estrada.
E os 3 cilindros?


O berro do motor quatro em linha e sua potência em altos giros o tornam fascinante, quase inigualável no quesito esportividade.  E é exatamente este “quase” que favorece a nova safra de tricilindros para motos, cada vez mais habilitados para oferecer bom torque desde as faixas de rotação mais baixas e também capacidade de girar em alta "alegremente".
Os três em linha modernos como os que equipam as Triumph Daytona ou Street Triple 675, ou mesmo a recém-lançada (na Europa) Yamaha MT-09 têm no "mágico" número a receita de seu sucesso. Favorecem agilidade, redução de custos de construção e exercício e, ainda por cima, preservam desempenho sedutor, item talvez menos importante hoje do que foi no passado, mas ainda característica da qual os clientes das motos de média e alta cilindradas não abrem mão.
Baseada nesta santíssima trindade formada por desempenho, economia e agilidade, a indústria da moto recebe a companhia da nova safra de carros três cilindros, todos confiando que o número três possa representar um fértil filão de bons negócios, decorrente da satisfação dos clientes que sempre buscam algo melhor, não importando qual o número. Preço à parte, é claro...
Roberto Agresti (Foto: Arquivo pessoal)

Roberto Agresti escreve sobre motocicletas há três décadas. Nesta coluna no G1, compartilha dicas sobre pilotagem, segurança e as tendências do universo das duas rodas.

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