25 de mai. de 2013

Como é disputar as 500 Milhas de Indianápolis Por Alex LLoyd

como sobreviver à indy 500 (1)

Há muitas histórias sobre como os pilotos mudam quando colocam o capacete, baixam a viseira e sobem o giro do motor. Dizem que o perfil “gente boa” é substituído por uma criatura selvagem desesperada pela vitória, haja o que houver.

Mas o que realmente se passa pela cabeça quando você está entrando em uma viagem cheia de empolgação, expectativas, estresse, velocidade e, é claro, muito perigosa?
É isto o que acontece quando você passa três horas a mais de 320 km/h ao longo das 500 Milhas de Indianápolis.
A Indy 500 é uma corrida como nenhuma outra, e as emoções são acentuadas devido à imensa pressão. A velocidade média por volta é bem acima dos 340 km/h, e os carros andam no fio da navalha o tempo todo. As grandes asas produzem uma turbulência incrível, e quando você adiciona 33 carros, o rastro gerado faz você sentir como se estivesse em um terremoto contínuo.
Os momentos que precedem a corrida são intensos, obviamente. Nunca me senti nervoso como antes da Indy 500, mas ao mesmo tempo você tem uma sensação de serenidade tomando conta do seu corpo. Gostaria de poder dizer que é psicológico e que estou controlando minhas emoções com o poder da mente, mas na verdade, isso apenas acontece naturalmente. Talvez as sensações sejam tão intensas que uma pessoa simplesmente não poderia lidar com elas sem uma intervenção inconsciente do cérebro.
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Quando chega a hora de apertar os cintos, vem uma sensação de alívio. Finalmente chegou a hora. Quando o motor é ligado minha personalidade não se altera. Chego a um nível de concentração que jamais poderia explicar, e a um enfoque implacável no objetivo, mas não me transformo em outra pessoa.
Uma atitude selvagem pode ser na verdade um obstáculo em uma corrida como a Indy 500, assim como a paciência é imperativa. Em um circuito misto você pode permitir mais agressividade nas suas veias, mas este não é um circuito misto. Isto é Indianapolis, umas das pistas mais desafiadoras e perigosas do mundo.
Na volta de aquecimento você fica em comunicação constante com sua equipe. Seu engenheiro diz coisas como “aqueça os pneus”, “selecione a mistura de combustível oito e economize combustível”. A corrida nem começou e você já está pensando na estratégia.
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Como piloto você também deverá pensar sobre o manejo do carro nas primeiras voltas. Já mencionei a turbulência: quando a bandeira verde vai ao alto, parece que o capacete vai arrancar sua cabeça. A aglomeração garante que a visibilidade seja nula, e piora com a poeira levantada pelos carros da frente.
A temperatura dos pneus começa fria e as condições de pilotagem diferentes desde a última vez que você pilotou o carro. Se você quer sair rápido do pelotão, é preciso estar afinado com sua máquina.
Na IndyCar os pilotos podem alterar o setup do carro durante a corrida. À esquerda do cockpit estão os ajustes das barras estabilizadoras, com cinco modos que modificam a rigidez da dianteira e da trazeira. No volante você tem o weightjacker, uma pré-carga de mola usada para alterar a transferência diagonal de peso que permite que você transfira a carga para a roda dianteira esquerda ou à traseira direita. Girar o seletor algumas posições para a direita ajuda a segurar a traseira do carro. Aumentar o sub-esterço ao mover a barra dianteira à sua posição mais rígida completa o pacote, permitindo que você comece a corrida com um carro justo, ganhando confiança nos pneus frios antes de voltar os ajustes à posição inicial para tornar a dinâmica do carro mais neutra.
Enquanto você faz isso seu spotter está de olho no procedimento de largada, na direção do vento (que pode influenciar drasticamente o comportamento do carro) e algumas estratégias de última hora.
Quando a bandeira verde é agitada, os nervosismo se vai. Você nem consegue assimilar o que é estar correndo diante de 400.000 pessoas, de tanta concentração exigida.
Nas primeiras voltas tudo o que você faz é procurar espaço e manter um ritmo. Você começa a analisar o carro: como ele se comporta com os pneus frios? E com tráfego? Como está o consumo de combustível? O carro mudará durante a corrida, à medida em que os pneus gastam e o peso diminui. Você precisa constantemente ajustar o carro para neutralizar qualquer desequilíbrio que possa aparecer.
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Os pit stops vêm, a corrida continua. Você só vai notar sua posição na metade da distância total, por volta das 250 milhas. Paciência é a palavra-chave até agora.
Nesse ponto você começa a se concentrar na estratégia. Inicialmente economizando combustível. Economizar combustível é difícil porque você não pode perder o ritmo e se afastar dos caras da ponta. Correr em sexta marcha, em vez da quinta, ajuda a economizar uma boa quantidade de combustível (o carro faz em média 1,2 km/l), bem como aliviar o pé antes do fim da reta. Obviamente, ao fazer isso você dá margem para um ataque por trás, mas os engenheiros continuarão gritando para você economizar combustível. “Precisamos que você faça 1,3 km/l!”, vão gritar no rádío. “Você PRECISA diminuir o ritmo. Ah, e defenda a posição”.
Passar e defender, consequentemente, é crucial. Na IndyCar você não pode bloquear a passagem, mas defender a posição é muito mais estratégico do que simplesmente fechar a porta. É preciso analisar onde o outro piloto é mais rápido, e onde ele é mais lento. Como você pode manipular o ritmo do adversário? Por exemplo: se ele chega rápido na curva um, tente antecipar a frenagem na curva três, fazendo-o tirar o pé para se afastar devido ao aumento da turbulência, e saia forte da três e da quatro para ganhar um espaço na curva um.
Ouça o seu spotter. Ele lhe dirá onde o outro piloto é forte e qual linha ele prefere. Se o piloto que vem atrás prefere a linha externa, posicione seu carro no lado externo, usando seu ar limpo e forçando-o a usar a linha interna.
Se você está ultrapassando você deve aliviar o acelerador mais cedo para entrar nas curvas um ou três para garantir espaço suficiente (evitando perder downforce) para manter aceleração total pelas curvas dois e quatro, o que permite que você pegue o vácuo e faça a ultrapassagem. Se você aliviar o acelerador na saída, você está ferrado. Você não apenas deixará de passar o carro da frente, mas também será carregado pelos outros pilotos que vêm atrás.
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A estratégia de corrida é como jogar um jogo de xadrez contra Garry Kasparov. Você precisa medir seus pontos fortes e pontos fracos. Pensar no carro da frente (ou no de trás) e imaginar como sua linha e sua velocidade irá impactá-los.
Estes jogos táticos frequentemente ocupam o piloto, mas você não pode esquecer de manter o carro equilibrado com os controles do cockpit, comunicar-se com o engenheiro e economizar combustível. Preste muita atenção na direção do vento. Se ele mudar de direção, como ele vai influenciar o equilíbrio do carro? O que você deve fazer para compensar?
À medida em que a corrida progride, você começa a ajustar seu estilo. A paciência se transforma em agressividade. A tranquilidade transforma-se em ataque. Mas você não pode ser inconsequente. A agressividade deve sempre ser medida e controlada.
Para ter uma chance você precisa estar em boa posição no último pit stop. Sua estratégia estará no posicionamento e nas cartas da mesa. É hora de correr.
A essa altura você espera ter otimizado a dinâmica do carro. Durante cada um dos seis ou sete pit stops, você terá comunicado as mudanças ao engenheiro para que os mecânicos possam implementá-las. Pode ser ajuste de downforce na dianteira ou na traseira, ou a modificação da pressão dos pneus. E, claro, você deve estar ligado nos controles do cockpit também.
Com sorte você estará no caminho da vitória. Se não estiver, nunca desista. A Indy 500 é sempre imprevisível, e o segredo é estar lá quando acabar. Se você não conseguir escapar do muro, obviamente, nunca sentirá o gostinho.
Talvez você tenha percebido que, ao longo deste texto, nenhuma vez eu mencionei o perigo iminente de correr 500 milhas a 360 km/h, a centímetros de distância dos outros carros, com um muro de concreto a apenas alguns metros de você. Se você pensar nas consequências, já era. Elas nem devem passar por sua cabeça.
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Você não só é privado do medo, como também não sente nenhuma emoção, nem empolgação. Durante uma corrida, as sensações que você tinha antes se canalizam em concentração. É como estar em um mundo paralelo. A realidade é incompreensível. Tudo o que interessa é a vitória, e você trabalha de modo meticuloso e metódico, analisando números e situações. Quando tudo terminar, então você poderá refletir sobre o que aconteceu. E as emoções voltam.
Bons pilotos não se transformam em selvagens. Eles se transformam em Garry Kasparov, só que com apetite icessante por velocidade.
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Sobre o autor: @Alex_Lloyd começou a correr nos EUA em 2006. Ele venceu o campeonato da Indy Lights em 2007. Ele competiu nas 24 horas de Daytona duas vezes e quatro nas 500 milhas de Indianápolis – chegando em quarto em 2010. Nascido em MADchester, Inglaterra, ele começou aos oito anos no kart, monopostos aos 16 e terminou em segundo – atrás do campeão de F1 Lewis Hamilton – na temporada 2003 da Fórmula Renault britânica, seguido por uma passagem na A1GP e vitórias na Fórmula 2000. Ele vive em Indianápolis com sua esposa Samantha (também inglesa) e três crianças. Ele também gosta de competir em triatlos e tem uma predileção por uma boa xícara de chá inglês.
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