3 de jan. de 2013

O que faz um bom nome de carro?

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Desde que Mercedes e BMW abandonaram a nomenclatura técnica de seus carros e a transformaram em algo meramente simbólico, o universo dos nomes de carros ficou um pouco mais empobrecido. Isso me fez pensar nos grandes nomes de carros e me trouxe a algumas perguntas: o que faz um nome de carro ser bom ou ruim? Será que nossa impressão é influenciada pelo sucesso do carro? Ou será que o sucesso do carro é influenciado pelo nome?

Acho que os nomes de carros são importantes, e que os nomes bons de verdade podem estabelecer algum tipo de apelo ao veículo – enquanto os nomes ruins podem ser um tiro no pé, fazendo com que o público ignore um carro que pode ser muito bom.
Geralmente o batismo de um carro é uma dança entre o fabricante, os publicitários, desenhistas, departamento de marketing, grupos de foco e outras pessoas encarregadas desse tipo de coisa, bem como uma corrida atrás de algo que ainda não foi usado, ou até mesmo a criação de algo novo. Às vezes funciona, às vezes não.
Há quem diga que para as marcas de luxo o nome do modelo não importa tanto quanto a marca. As pessoas gostam de dizer “tenho um BMW” ou “tenho um Mercedes’, mas você não ouve um dono de Celta dizer “tenho um Chevrolet”. Normalmente você ouve “Chevrolet Celta”, “Honda Civic” ou “Toyota Corolla”, mas um BMW é “BMW”. É um distintivo que dispensa o complemento do modelo.
Nomes para esportivos são os mais fáceis de acertar. Você só precisa de um nome que evoque velocidade, empolgação, desempenou e vigor. Se soar como algo que pode te matar, você encontrou um bom nome. Viper, Challenger, Cobra, Puma, coisas com GT no fim – todos são bons nomes para esse tipo de carro.
O Sr. K da Nissan, Yutaka Katayama, é um gênio por vários motivos. Um deles é por ter ordenado que a primeira geração do Datsun Z fosse chamada de “240Z”, em vez de “Fairlady Z”. Ele sabia que os homens ocidentais – em especial os americanos – jamais comprariam um carro chamado “bela dama”.
Obviamente é preciso ajustar o nome do carro para o mercado no qual ele será vendido. Os carros chineses têm nomes que parecem absurdos para qualquer não-chinês, mas eles têm um senso estético diferente do nosso. É por isso que não seria tão ridículo se a Ford vendesse por lá um hatch pequeno chamado “Tigre da Invencibilidade”.
Os SUV também são fáceis de acertar, normalmente. Por algum motivo as pessoas gostam de achar que têm algo forte, robusto e bravo, por isso eles têm nomes como “Land Cruiser”, “Wrangler”, “Explorer”, “Tucson”.
E agora temos as fabricantes emergentes, que abandonaram os nomes substantivos para usar códigos alfanuméricos. Já falaremos sobre isso em alguns parágrafos.
E às vezes o nome do carro simplesmente não faz diferença. Alguém acha que o sucesso do Toyota Corolla ou do Honda Civic depende desses nomes? Pense por um instante. Se você não faltou às aulas sabe que “corola” é o conjunto de pétalas de uma flor, e que não há nada muito cívico em um sedã da Honda.
Separei alguns dos melhores nomes de carros de todos os tempos – e outro não muito bom. Dê uma olhada e depois conte pra gente quais são os seus favoritos. E se você fosse o presidente de uma fábrica, que nome daria aos carros que você acha que precisavam de mais inspiração na hora do registro?
BOM NOME: Ford Mustang

É difícil superar o nome “Mustang”. A primeira imagem que vem à cabeça é velocidade, desempenho, liberdade. É tão bom que gerou toda uma categoria de concorrentes chamada “pony car” (ou carro pônei). O que mais você precisa em um nome? É por isso que a Ford nunca cogitou mudar o nome do Mustang quando pensaram em batizar todos os seus carros com a letra F no começo dos anos 2000 (Fiesta, Focus, Fusion), uma péssima ideia logo abandonada.
BOM NOME: BMW

Ah, BMW. Você fez tudo direitinho por tanto tempo e, de repente, joga tudo para o alto. Sempre imitada, nunca igualada, a BMW criou sua brilhante nomenclatura na metade dos anos setenta. Três digitos – o primeiro refere-se ao porte, e os dois últimos indicam o tamanho do motor em decilitros (ou litros sem a vírgula). Tem um 535i? Ah, sim. É um série 5 com motor 3.5. A série acompanhava o porte do carro: 3, 5, 6, 7. Muitos fabricantes tentaram copiar este sistema, mas nenhum deles se deu muito bem.
Mas a estratégia torna-se problemática quando você começa a adicionar novos modelos, algo que a BMW fez algumas vezes desde então. Agora eles vendem um carro chamado Z4 sDrive35i, e eu me sinto meio besta toda vez que digito esse nome. Além disso, os carros modernos da marca não seguem o antigo esquema. O atual 328i tem um 2.0 e o 335i tem um 3.0.
BOM NOME: Land Rover Discovery

Assim como o Mustang, Discovery sintetiza a essência do carro. Há poucos nomes melhores que “Discovery” (descoberta) para um SUV muito competente fora da estrada. Ele faz você pensar em chegar dirigindo a lugares nunca desbravados por nenhum outro homem, mesmo que você o use apenas no asfalto.
BOM NOME: Mercedes-Benz

A Daimler Motoren Gesellschaft (DMG) de Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach certa vez produziu um carro de corrida sob encomenda para Emil Jelinek, que batizou o modelo com o nome de sua filha Mércèdes. Então veio a guerra virar a Europa de cabeça para baixo e recessão levou a dupla Daimler-Maybach a juntar-se a Karl Benz. A empresa foi rebatizada como Daimler-Benz, mas como a DMG havia vendido a licença do nome Daimler a companhias estrangeiras, eles decidiram usar o nome de seu modelo mais famoso para compor a marca comercial de automóveis. Hoje quando as pessoas olham para a estrela de três pontas, não pensam em Daimler ou Benz, e sim em “Mercedes”.
BOM NOME: Rolls-Royce Silver Cloud

Aqui está, senhoras e senhores. A prova rodante de que um grande carro de luxo não precisa de um nome alfanumérico. O nome Silver Cloud (nuvem de prata) é quase tão bonito quanto o carro em si. Ele rola pela língua com uma sonoridade elegante, exclusiva e misteriosa ao mesmo tempo. Remete ao lendário rodar confortável e suave do carro. Se ele tivesse sido inventado em 2012 ele certamente seria batizado de RRSC-750 ou algo do tipo.
Felizmente a Rolls-Royce compreendeu que a importância de manter a tradição em seus nomes e batizou seus carros modernos com nomes tão imponentes quanto a dianteira ornada pela grade de prata e a dama alada. Não dá pra imaginar o Phantom e o Ghost com quaisquer outros nomes.
NOME RAZOÁVEL: Citroën Picasso

A intenção da Citroën em remeter a sofisticação pretendida em sua linha de minivans a um dos maiores nomes da arte moderna até é compreensível. Mas a França teve dezenas de artistas geniais, então por que foi escolher o nome de um pintor espanhol que dá margem para piadas maliciosas no Brasil e em Portugal? Só por que ele passou a vida em Paris? “Citroën Xsara Monet” ou “C4 Monet” cumpririam bem o papel de remeter a algo artístico e sofisticado. E sem piadinhas adolescentes de duplo sentido.
PÉSSIMO NOME: Chana

Desculpem a obviedade dos maus exemplos, mas este talvez seja o maior equívoco da história da indústria automotiva mundial. O primeiro motivo é óbvio. O segundo é que Chana aparentemente foi criado como uma marca mais amigável aos mercados ocidentais, já que o nome Chang’an soaria como um restaurante chinês de shopping. Quase todos os modelos chineses foram rebatizados para se adequar ao mercado brasileiro, mas os importadores da Chana parecem não ter se preocupado muito com isso.

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