A última reencarnação do Fusca ganhou um ar de mau que não combina com ele. Parece um hippie que malhou até parecer o Rambo.
Enzo Ferrari uma vez disse que o Jaguar E-Type era o carro mais
bonito já produzido. E mesmo hoje, 51 anos após seu lançamento, você
ainda consegue mais atenção dirigindo um E-Type do que se estivesse
cavalgando um dinossauro.
Ele transcendeu a moda, algo que nem Marilyn
Monroe conseguiu fazer. No seu tempo ela era considerada a mulher mais
bonita do mundo, e morreu antes que a idade pudesse vir a contestar seu
título. Hoje, contudo, a maioria dos homens jovens a chamaria de “um
pouquinho gorda”.
A verdade é que nosso gosto muda constantemente. Mas, através das
décadas, o E-Type se manteve vencendo todas as pesquisas sobre qual é o
carro mais bonito já feito. Ele era considerado bonito quando foi
lançado. Ainda era bonito quando saiu de linha. Daí ter passado pela
cabeça da diretoria da Jaguar fazer com que o próximo F-Type se
parecesse com um tipo de interpretação moderna do mito. Um E-Type para o
século 21. Mas não. Na minha opinião não há um único detalhe inspirado
no E-Type. E eu acho isso muito, muito estranho.
Não é como se não houvesse um bom mercado para designs retrô
atualmente. A Fiat tem o 500, que pelo menos em Londres parece ter
conseguido 75% do mercado, e há o sucesso do Mini. Também até pouco
tempo atrás tivemos o Chrysler PT Cruiser… mostrando que nem sempre as
coisas funcionam tão bem quanto o fabricante do carro espera.
E falando nisso temos o novo Beetle, daVolkswagen. Quando fui
apresentado à primeira versão da reencarnação moderna do Fusca fiquei
encantado. Achei que era uma ótima ideia vestir o Golf com uma roupagem
da Segunda Guerra e até colocar um vasinho dentro. Até considerei
comprar um. Ainda bem que não comprei, porque logo ficou claro que a VW
errou a mão. Parte do problema é que ele parecia amistoso demais na
época. E modelos com cara muito amistosa sempre parecem um pouco
insossos. Carros precisam ter pelo menos uma pitada de agressividade – e
o New Beetle não tinha. Eu pensei que a VW ia desistir, mas não. Agora
ela acabou de aparecer com um novo Beetle, mais baixo e determinado. Tem
rodas invocadas, um spoiler ameaçador e um pouquinho de escuridão na
alma. Pense em um primo do Herbie que tenha virado ladrão de banco.
Dentro, o vasinho de flores sumiu. No lugar há um painel da cor da
carroceria, um porta-luvas em formato estranho, equipamentos eletrônicos
modernos e o maior mostrador de combustível que já vi num carro em toda
a história. Parece uma lua cheia. É tão grande que você fica com a
impressão de que pode andar 5 000 km com o ponteiro na reserva.
Mas funcionou? Bom, eu detesto ser um estragaprazeres, mas acho que
não. Parece um hippie que malhou até ficar parecido com o Rambo. O Fusca
pode ter sido um subproduto da guerra, mas tornou-se um símbolo da paz.
E a nova agressividade? Não sei. Imagine aquele símbolo hippie de paz e
amor pendurado em uma corrente de arame farpado. Uma pomba com
metralhadoras.
Bom, talvez dê para suavizar as coisas com adesivos. O Mini e o Fiat
500 têm várias opções de adesivos, para invocar imagens de estilistas
famosos ou Roma num dia de sol. Mas que adesivos você colocaria no novo
Fusca para trazer à mente suas origens de carro do povo do nazismo?
Pensando bem, melhor deixar os adesivos de lado. De qualquer maneira,
não há dúvidas de que algumas pessoas gostaram do design como está.
Então, vamos ver como ele é enquanto carro.
E a resposta é: nada mau. Há uma versão 2.0 de 200 cv, mas eu
experimentei a esperta 1.4 Sport, que oferece boa economia de
combustível e, graças a dois turbos, 160 cv.Você tem de trabalhar duro
no câmbio de seis marchas para fazer uso de toda a potência, mas é bom
saber que ela está lá quando você quiser. A dirigibilidade é boa e tem
um diferencial eletrônico que dosa tração nas rodas dianteiras e permite
que você dirija como um macaco, cravando o pé no acelerador mesmo
quando não deve.
Mas ele é principalmente um carro confortável e silencioso, fácil e
relaxante de guiar, com alguns toques genuinamente legais. O grande teto
solar é um deles e o sistema de som Fender, outro. Em parte porque ele
brilha de noite, em parte porque o áudio é bom, mas principalmente
porque é um Fender.
Em essência, ao volante ele se parece muito com um Golf. O que não é
surpresa, é claro, já que sob seu traje é isso que ele é. Você não tem a
praticidade de um Golf – o banco traseiro é bem apertado –, mas pelo
menos o porta-malas é maior que no antigo New Beetle. Você tem, no
entanto, um padrão de encaixe das peças e um acabamento bem melhor,
porque o Golf é fabricado na desleixada Alemanha, ao passo que o novo
Fusca é feito no México, sinônimo de atenção aos detalhes, como todos
sabemos.
Então, vamos ao que interessa: o preço. O novo Fusca custa
aproximadamente o mesmo que um VW Scirocco equipado com o mesmo motor. E
isso parece ser bastante inteligente. Você escolhe: retrô ou moderno?
Talvez fosse o que a Jaguar deveria ter feito com seu novo carro. F-Type
ou Ponto G?
Fonte: Quatro Rodas
Disponível no(a): http://quatrorodas.abril.com.br
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