30 de jun. de 2012

SLK 55 AMG: muito motor para pouco carro?
Aceleramos a versão endiabrada do roadster, que traz um V8 de 421 cv e custa US$ 244.900

Daniel Messeder
Mercedes-Benz/ Divulgação
Saídas de ar no capô e nos para-lamas, spoilers e rodas aro 18 já dão o aviso: esse SLK é brabo!
Em meio à neblina daquela fria manhã de segunda-feira, a visão do SLK 55 AMG nos boxes do autódromo de Interlagos parecia um sonho. Sim, eu ainda estava com sono, bocejando, quando me dei conta: a Mercedes realmente fez isso? Colocou um motor 5.5 V8 de 421 cv e 55,1 kgfm no pequeno SLK? Esses caras da AMG andam tomando Red Bull demais...


Dias antes eu havia acelerado esse carro em Affalterbach, sede da AMG na Alemanha. Foi apenas um tira-gosto, mas saí com a impressão de motor demais para chassi de menos. Desligue o controle de estabilidade e boa sorte: você vai brigar arduamente com o roadster para não ver o mundo ao contrário. Se for numa pista fechada, e em mãos experientes, isso tudo vira diversão. Mas a verdade é que não me senti tão confiante quanto no rival Porsche Boxster S. Aquela força toda despejada no eixo traseiro de um carro com entre-eixos curto torna o SLK 55 AMG algo pouco amigável.
Mercedes-Benz/ Divulgação
O roadster só está fazendo a curva assim, sem escapar de traseira, porque o controle de estabilidade está segurando a onda
Nas vias germânicas, algumas com curvinhas desafiadoras, o SLK foi menos afiado do que eu esperava. Com o ESP ligado, a dianteira longa e pesada espalha demais se você entrar no cotovelo com vontade. Com o ESP desligado, aí você negocia com o acelerador o quanto a traseira vai escorregar. Sem o auxílio eletrônico, é um carro para iniciados. Por isso, a Mercedes logo foi avisando antes da volta em Interlagos. “Não mexam no botão do ESP!”
Mercedes-Benz/ Divulgação
Motorzão 5.5 V8 aspirado rende 421 cv, mas é a patada dos 55,1 kgfm de torque que impressiona. E que ronco!
OK, fucei somente em outro botão, o do câmbio. Com apenas quatro voltas para degustar o esportivo, eu não iria testar o modo econômico, né? Pulei direto para o manual, que permite fazer as trocas nas grandes hastes atrás do volante. E vamos embora! O ronco do V8 aspirado impressiona – até mais que sua versão biturbo de 557 cv que equipa o E63 AMG. É um barulho borbulhante, grave, daqueles que faz tremer a janela da vizinhança. Dou umas patadas no acelerador só pra ouvir a máquina berrando e saio devagar.
Mercedes-Benz/ Divulgação
Cabine tem desenho até comportado. Legal mesmo é o volante de base reta com as hastes de metal para trocas manuais de marcha
À minha frente, o SLS Roadster guiado por um instrutor do curso de direção da AMG faz a função de coelho. A missão, ao menos na minha cabeça, é andar o mais próximo desse cara. Deixamos os boxes e começamos a ganhar velocidade na reta oposta. Como anda! A primeira freada para a curva à esquerda já anuncia que o pedal, muito leve, poderia ter melhor modulação. Mas as pinças mordem os discos tão bravamente que diminuo demais a velocidade e perco tempo. Nada, porém, que o V8 não recupere logo na reta seguinte, em direção ao miolo. Aponto a frente do SLK para a direita e a luz do ESP não para de piscar, segurando o ímpeto da traseira. O carro segue bem agarrado ao chão, mas deixa claro que é a eletrônica que está fazendo aquilo.
Mercedes-Benz/ Divulgação
Bancos com fartos apoios laterais para segurar o corpo e ponteiros para baixo no quadro de instrumentos: esportividade à flor da pele
Conforme vou relembrando o traçado ideal (fazia uns dois anos que eu não andava por lá), o SLK corrige as pequenas escapadas da traseira com discrição. A direção é macia e rápida, mas não me conta exatamente o quanto a dianteira está desgarrando – poderia ser mais comunicativa. Na reta dos boxes, o velocímetro belisca os 220 km/h quando convoco o freio e a haste de reduzir as marchas. E aí está a maior decepção do carro. O câmbio automático de sete velocidades é lento nas mudanças e não permite reduções com o giro elevado. Num universo em que os concorrentes Porsche Boxster e BMW Z4 trazem transmissão automatizada de dupla embreagem (muito mais rápida e eficiente nas trocas), o Mercedes parece fora de órbita.

Você pode argumentar que os rivais não têm um V8 à disposição, e isso é verdade. Virilidade nas arrancadas (0 a 100 km/h em 4,6 s) é com o SLK mesmo. E o som é magnífico. Mas, como eu desconfiei lá na Alemanha, o chassi não está à altura do motorzão. É tanto motor que ele até desativa quatro cilindros, para economizar combustível, quando não exigido a fundo – além de ter sistema start-stop.
Mercedes-Benz/ Divulgação
Capacidade de frenagem é absurda, mas o pedal do freio poderia ser um pouco mais firme
De volta aos boxes, desço do carro e dou um tapa na lataria, satisfeito pela brincadeira. Bem divertido esse SLK metido a muscle car, que chega às lojas em agosto por US$ 244.900 (cerca de R$ 514 mil). Mas não chega a entrar na minha lista de favoritos. Se eu fosse comprar um carro nessa faixa de preço, esperaria pelo novo Boxster que logo estará entre nós.

Fonte: revistaautoesporte
Disponível no(a): http://revistaautoesporte.globo.com
Comente está postagem.

Nenhum comentário: