SLK 55 AMG: muito motor para pouco carro?
Aceleramos a versão endiabrada do roadster, que traz um V8 de 421 cv e custa US$ 244.900
Daniel Messeder
Saídas de ar no capô e nos para-lamas, spoilers e rodas aro 18 já dão o aviso: esse SLK é brabo!
Em meio à neblina daquela fria manhã de segunda-feira, a visão do
SLK 55 AMG nos boxes do autódromo de Interlagos parecia um sonho. Sim, eu ainda estava com sono, bocejando, quando me dei conta: a Mercedes realmente fez isso? Colocou um motor 5.5 V8 de 421 cv e 55,1 kgfm no pequeno
SLK? Esses caras da
AMG andam tomando Red Bull demais...
Dias antes eu havia acelerado esse carro em Affalterbach, sede da
AMG
na Alemanha. Foi apenas um tira-gosto, mas saí com a impressão de motor
demais para chassi de menos. Desligue o controle de estabilidade e boa
sorte: você vai brigar arduamente com o roadster para não ver o mundo ao
contrário. Se for numa pista fechada, e em mãos experientes, isso tudo
vira diversão. Mas a verdade é que não me senti tão confiante quanto no
rival Porsche
Boxster S. Aquela força toda despejada no eixo traseiro de um carro com entre-eixos curto torna o
SLK 55 AMG algo pouco amigável.
O roadster só está fazendo a curva assim, sem escapar de traseira, porque o controle de estabilidade está segurando a onda
Nas vias germânicas, algumas com curvinhas desafiadoras, o
SLK
foi menos afiado do que eu esperava. Com o ESP ligado, a dianteira
longa e pesada espalha demais se você entrar no cotovelo com vontade.
Com o ESP desligado, aí você negocia com o acelerador o quanto a
traseira vai escorregar. Sem o auxílio eletrônico, é um carro para
iniciados. Por isso, a
Mercedes logo foi avisando antes da volta em Interlagos. “Não mexam no botão do ESP!”
Motorzão 5.5 V8 aspirado rende 421 cv, mas é a patada dos 55,1 kgfm de torque que impressiona. E que ronco!
OK,
fucei somente em outro botão, o do câmbio. Com apenas quatro voltas
para degustar o esportivo, eu não iria testar o modo econômico, né?
Pulei direto para o manual, que permite fazer as trocas nas grandes
hastes atrás do volante. E vamos embora! O ronco do V8 aspirado
impressiona – até mais que sua versão biturbo de 557 cv que equipa o
E63 AMG.
É um barulho borbulhante, grave, daqueles que faz tremer a janela da
vizinhança. Dou umas patadas no acelerador só pra ouvir a máquina
berrando e saio devagar.
Cabine tem desenho até comportado. Legal mesmo é o volante de base reta com as hastes de metal para trocas manuais de marcha
À minha frente, o
SLS Roadster guiado por um instrutor do curso de direção da
AMG
faz a função de coelho. A missão, ao menos na minha cabeça, é andar o
mais próximo desse cara. Deixamos os boxes e começamos a ganhar
velocidade na reta oposta. Como anda! A primeira freada para a curva à
esquerda já anuncia que o pedal, muito leve, poderia ter melhor
modulação. Mas as pinças mordem os discos tão bravamente que diminuo
demais a velocidade e perco tempo. Nada, porém, que o V8 não recupere
logo na reta seguinte, em direção ao miolo. Aponto a frente do
SLK
para a direita e a luz do ESP não para de piscar, segurando o ímpeto da
traseira. O carro segue bem agarrado ao chão, mas deixa claro que é a
eletrônica que está fazendo aquilo.
Bancos
com fartos apoios laterais para segurar o corpo e ponteiros para baixo
no quadro de instrumentos: esportividade à flor da pele
Conforme vou relembrando o traçado ideal (fazia uns dois anos que eu não andava por lá), o
SLK
corrige as pequenas escapadas da traseira com discrição. A direção é
macia e rápida, mas não me conta exatamente o quanto a dianteira está
desgarrando – poderia ser mais comunicativa. Na reta dos boxes, o
velocímetro belisca os 220 km/h quando convoco o freio e a haste de
reduzir as marchas. E aí está a maior decepção do carro. O câmbio
automático de sete velocidades é lento nas mudanças e não permite
reduções com o giro elevado. Num universo em que os concorrentes
Porsche Boxster e BMW
Z4 trazem transmissão automatizada de dupla embreagem (muito mais rápida e eficiente nas trocas), o
Mercedes parece fora de órbita.
Você pode argumentar que os rivais não têm um V8 à disposição, e
isso é verdade. Virilidade nas arrancadas (0 a 100 km/h em 4,6 s) é com
o
SLK mesmo. E o som é magnífico. Mas, como eu
desconfiei lá na Alemanha, o chassi não está à altura do motorzão. É
tanto motor que ele até desativa quatro cilindros, para economizar
combustível, quando não exigido a fundo – além de ter sistema
start-stop.
Capacidade de frenagem é absurda, mas o pedal do freio poderia ser um pouco mais firme
De volta aos boxes, desço do carro e dou um tapa na lataria, satisfeito pela brincadeira. Bem divertido esse
SLK
metido a muscle car, que chega às lojas em agosto por US$ 244.900
(cerca de R$ 514 mil). Mas não chega a entrar na minha lista de
favoritos. Se eu fosse comprar um carro nessa faixa de preço, esperaria
pelo novo
Boxster que logo estará entre nós.
Fonte: revistaautoesporte
Disponível no(a):
http://revistaautoesporte.globo.com
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