13 de mai. de 2012

Teste: Mini One é um caso simplesmente complicado

Fotos: Jorge Rodrigues Jorge/CZN
Teste: Mini One é um caso simplesmente complicado
Mini One é ágil e instigante, mas conteúdo modesto demais para o preço de quase R$ 70 mil dificulta as vendas

por Igor Macário
Auto Press


Depois de consolidar sua imagem no Brasil com versões caras e potentes, a marca inglesa Mini – controlada pela germânica BMW – jogou para a variante mais simples, a One, a missão de aumentar seus negócios por aqui. A ideia era ampliar em 40% as vendas. Mas, passados dez meses, não foi bem o que aconteceu. As versões Cooper, mais caras e equipadas, mantiveram o mesmo patamar – cerca de 200 unidades mensais. Já a One fechou o ano passado com apenas 15% de participação na linha. No primeiro quadrimestre de 2012, foram 188 unidades do One, contra 527 Mini Cooper.


A culpa pelas vendas pouco expressivas pode estar na simplicidade do One. Para reduzir os preços, o carrinho não traz mais do que o essencial. Foram-se embora o ar-condicionado automático, as rodas de aro maior e o sistema de som mais sofisticado. Isso deixou o Mini básico demais para os R$ 69.950 cobrados – o preço não foi alterado, mesmo com o aumento do IPI. Ainda que a diferença seja superior a R$ 10 mil em relação ao Cooper Salt – o “degrau seguinte” na linha Mini –, a “modéstia” em termos de equipamentos parece ter espantado parte dos potenciais compradores. Na prática, em relação aos outros modelos com motor 1.6 litros disponíveis no mercado, ele traz a mais apenas controle de estabilidade, o ESP – que entre os carros de seu porte, apenas o Audi A1 tem. Talvez o público da marca esteja habituado a doses maiores de exclusividade.



Apesar de ser o mais “despojado” da Mini, o One tem lá seus atrativos. O motor 1.6 litro da família Prince, desenvolvido pela BMW em parceria com a francesa PSA, é extremamente versátil e eficiente. No One ele é aspirado e rende 98 cv a 6 mil rpm e bons 15,6 kgfm, disponíveis logo a 3 mil rpm. O conjunto é capaz de levar o carrinho do zero aos 100 km/h em 10,5 segundos e à máxima de 186 km/h. O câmbio é manual de seis marchas – ainda há a opção da transmissão automática, que acrescenta salgados R$ 9 mil. Esse motor é o mesmo capaz de gerar os 120 cv das versões intermediárias Cooper Salt, Pepper e Chilli, também aspiradas – que custam entre R$ 80.950 e R$ 98.950. Com a adição de um turbo, gera os 184 cv do Cooper S, vendido por R$ 128.750, e os 211 cv do topo de linha John Cooper Works, que não sai por menos de R$ 139.950.

Além da mecânica, o charmoso visual “retrô” dos modelos da marca conta muitos pontos. Por fora, apenas as rodas menores, de 15 polegadas, e o emblema “One” denunciam que se trata de um exemplar mais simples. Mas estão lá a mesma qualidade construtiva e carisma das linhas encontrados em qualquer Mini, independentemente do preço. E é justamente o valor cobrado nas concessionárias que aparentemente joga contra o Mini One. Apesar do conjunto bem aprumado e boas qualidades gerais, o One cobra alto pela imagem sofisticada da marca. Para efeito de comparação, um Ford New Fiesta mexicano, equipado com um motor 1.6 de 115 cv, custa R$ 53.200. Mas, de fato, não chega nem próximo ao nível de sofisticação empregado no One.



Ponto a ponto


Desempenho – O 1.6 de 98 cv dá conta de empurrar os 1.110 kg do carrinho com decisão surpreendente. O torque máximo de 15,6 kfgm aparece já em 3 mil rpm e torna o modelo ótimo de acelerar. Além disso, o câmbio manual de seis marchas contribui muito na experiência positiva ao volante do Mini One. A marca de 10,5 segundos para a aceleração de zero a 100 km/h e 186 km/h de velocidade máxima são compatíveis com a potência do modelo. Nota 8.
Estabilidade – O acerto dinâmico faz mesmo o Mini mais barato ter uma dinâmica semelhante à dos demais. Isso se traduz num comportamento muito neutro, mesmo quando provocado. A suspensão Multilink na traseira mantém as rodas plantadas no chão e, apesar da tendência de sair de frente no limite, o carro é bastante previsível e a boa rigidez torcional da carroceria aceita conduções mais esportivas sem perder a compostura. Nem mesmo os pneus 175/65 montados em rodas aro 15 parecem jogar contra o ótimo acerto do conjunto. Nota 9.
Interatividade – O interior é bem resolvido. Os comandos estão bem posicionados e são de fácil uso, com exceção dos comandos de vidros, travas e luzes de neblina, em uma fileira de botões localizados na parte baixa do painel. É bonito, mas requer atenção para usar. Ao menos, o velocímetro digital no centro do conta-giros facilita a visualização. O sistema de som é simples e traz apenas rádio e CD, nem mesmo uma entrada USB faz parte do pacote. Mas o câmbio é dos melhores, com engates precisos, curtos e com a alavanca próxima do volante. Nota 8.
Consumo – O One marcou uma média de 9,3 km/l de gasolina em circuito misto. A Mini não disponibilizou o modelo para o InMetro fazer medições. Nota 7.
Tecnologia – O modelo mais simples perdeu muitos equipamentos, como o ar-condicionado digital e o sistema de som com entrada USB e conexão bluetooth, mas ainda há boa dose de tecnologia embarcada. A plataforma é relativamente recente, da segunda geração do Mini de 2006. O computador de bordo é completo, com indicadores de consumo instantâneo e autonomia. Mesmo sendo o mais barato, o modelo vem com airbags frontais, laterais e de cortina, freios ABS e EBD de série. A suspensão ainda é do tipo Multilink na traseira, o que melhora muito o comportamento do carro. Nota 8.



Conforto – Apesar do acerto mais “durinho” da suspensão, os pneus mais altos ajudam no conforto a bordo. Mesmo sobre asfalto de má qualidade, o carro chacoalha pouco e mantém a compostura. Os bancos têm espuma mais densa e não cansam em percursos mais longos. No entanto, há espaço suficiente apenas para os ocupantes da frente. Atrás, somente crianças se sentem confortáveis, já que o vão para as pernas e cabeça é diminuto, sem contar na dificuldade de chegar ao banco traseiro. Ao menos, os assentos dianteiros correm para frente e abrem algum espaço. Nota 8.
Habitabilidade – As portas grandes e com bom ângulo de abertura facilitam o entra e sai dos passageiros. Mas o porta-malas é bem pequeno – apenas 160 litros. Há muitos porta-objetos espalhados pelo interior, são dois porta-luvas, dois porta-copos no console central e as portas têm espaços para acomodar garrafas de até 1,5 litro. Apenas o acesso ao banco de trás fica comprometido. Nota 7.
Acabamento – Os materiais usados e os encaixes são muito bons. Não há exageros, como aço escovado ou imitações de fibra de carbono – até para manter o custo mais baixo. A atmosfera é simples mas de muita qualidade. Até mimos como “spots” de luz nos puxadores de porta foram mantidos e criam um ambiente agradável. Mesmo em tecido, o revestimento dos bancos é bem feito e nada passa a impressão de ser barato. Nota 8.
Design – É, indiscutivelmente, o maior charme do Mini. Não há como negar o carisma das linhas do carrinho, que se mantêm imaculadas desde o lançamento da segunda geração, em 2006, que não difere muito da primeira da “era BMW”, de 2001. Os faróis redondos, lanternas traseiras pequenas e teto quase plano fazem uma interessante releitura do original e tornaram o modelo uma febre no mundo. As possibilidades de personalização, com faixas atravessando o carro e até a bandeira da Inglaterra plotada no teto, apimentam ainda mais o visual e aumentam a exclusividade do modelo. Nota 9.
Custo/beneficio – Como um legítimo carro de nicho, custo/benefício não é uma das maiores qualidades do Mini One. Com um conjunto refinado e bom, mas desprovido de luxos, os R$ 69.950 que a marca pede pelo carro parecem um valor elevado. A versão fica sozinha nesse patamar, já que o concorrente mais próximo, o Audi A1 – de R$ 94.900 –, acaba sendo rival direto das versões Pepper e Chilli, mais completas, potentes e com câmbio automático como o alemão. Entre os “carros de imagem” há ainda o Hyundai Veloster. O coreano de três portas também tem motor 1.6 com 126 cv, mas é maior e mais pesado, o que o deixa em pé de igualdade com o Mini One em termos de desempenho. A Hyundai fala em R$ 60 mil para o Veloster mais barato. Nota 5.
Total – O Mini One somou 77 pontos em 100 possíveis.



Impressões ao dirigir

Diversão garantida


Mesmo com a redução de equipamentos e uma decoração externa bem mais discreta que os outros modelos da gama, o Mini One certamente atrai olhares curiosos e interessados na rua. O desenho simpático é um dos pontos altos do carrinho, que parece não se cansar com o passar dos anos. Está lá toda a genética da BMW, explicitada pelo ótimo acabamento e acerto dinâmico do modelo.

O 1.6 litro perdeu 22 cv em relação ao motor usado nas versões Cooper Salt, Pepper e Chilli, mas nem por isso se tornou um carro lento. O One tem boa distribuição de torque – 15,6 kgfm a apenas 3 mil rotações – o que faz do modelo um carro esperto e divertido. O propulsor parece gostar de regimes mais altos e responde com muita suavidade a todos os comandos do acelerador. O escalonamento correto do ótimo câmbio de seis marchas permite aproveitar sempre o máximo dos 98 cv, que empurram o carro com desenvoltura. Ainda que o desempenho em si não seja nada arrebatador, a sensação é muito superior e ele nem parece ser até menos potente que muitos 1.6 litro nacionais.



Apesar da simplicidade geral do interior – não há equipamentos como navegador por GPS e nem mesmo uma singela entrada USB para o sistema de som –, não é difícil identificar onde boa parte dos quase R$ 70 mil foi investida. O acabamento não traz excessos, mas tem qualidade notável. O volante de dois raios destoa do ar “moderninho” do painel, onde estão os clássicos mostradores redondos, com o velocímetro enorme – e de difícil leitura – ao centro e o conta-giros na frente do motorista. Ao menos, a velocidade pode ser repetida no pequeno mostrador do computador de bordo, junto do conta-giros. O banco traseiro é quase figurativo, já que o espaço para as pernas ali é bastante reduzido.

Além das aparências, uma das grandes atrações do One é o seu comportamento dinâmico. Suspensão e freios têm calibragens muito bem acertadas e são capazes de abrir um sorriso no rosto do motorista após praticamente qualquer viagem, curta ou longa. O Mini mais barato faz curva “como gente grande” e os quatro discos ventilados são mais do que o suficiente para parar o carro sem sustos. A direção é direta e torna fácil fazer a dianteira apontar para onde se quer. De quebra, as rodas menores, de 15 polegadas e calçadas em pneus de perfil mais alto, ajudam o carro a sofrer menos com a buraqueira do asfalto brasileiro. É claro que R$ 69.950 podem ser um preço alto a se pagar por um carro que pode não ser muito potente nem dos mais práticos. Mas ao menos o custo é retribuído com um padrão de refinamento digno de um BMW.
   


Ficha técnica

Mini One 1.6 16V


Motor: A gasolina, dianteiro, transversal, 1.598 cm³, com quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro e comando simples no cabeçote. Acelerador eletrônico e injeção eletrônica multiponto sequencial.
Transmissão: Câmbio manual de seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira.
Potência máxima:
98 cv a 6 mil rpm.
Aceleração 0-100 km/h: 10,5 segundos.
Velocidade máxima: 186 km/h
Torque máximo: 15,6 kgfm a 3 mil rpm.
Diâmetro e curso: 77 mm X 85,8 mm. Taxa de compressão: 11,0:1.
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson, com rodas independentes, braços triangulares transversais e barra estabilizadora. Traseira independente do tipo Multilink e amortecedores hidráulicos.
Pneus: 175/65 R15.
Freios: Discos ventilados na frente e atrás. Oferece ABS como opcional.
Carroceria: Hatchback em monobloco com duas portas e quatro lugares. Com 3,72 m de comprimento, 1,68 m de largura, 1,43 m de altura e 2,46 m de entre-eixos. Airbags frontais, laterais e de cortina de série.
Peso: 1.110 kg.
Capacidade do porta-malas:
160 litros.
Tanque de combustível: 40 litros.
Produção: Cowley, Inglaterra.
Lançamento no Brasil: 2011.
Itens de série: Ar-condicionado, direção hidráulica, airbags frontais, laterais e de cortina, freios ABS com EBD, apoios de cabeça traseiros, vidros, travas e retrovisores elétricos, sensores crepuscular e de chuva, retrovisor interno eletrocrômico, rádio CD, Hill Holder, rodas de liga leve, faróis e lanterna de neblina. Opcionais: Pintura metálica e câmbio automático.
Preço: R$ 69.950.



Fonte: motordream
 Disponível no(a): http://motordream.uol.com.br
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