13 de mai. de 2012

Butt-lift: quando a remodelação se resume à traseira


Normalmente estamos acostumados a modelos sofrendo uma reestilização mais ou menos no meio de seu ciclo de vida, e a mesma seguir mais ou menos um padrão: ou envolve só a parte frontal, com no máximo a traseira ganhando outras lanternas ou elementos que se fixam na mesma estamparia anterior, ou envolve alterações de estamparia tanto na frente quanto na traseira, por vezes mudando também a lateral. Entre outros nomes, há o anglicismo comum de chamar essas alterações de face-lift, até por ser a frente a primeira parte que prestamos atenção ao ver um carro.

Porém, há vezes em que frente e lateral estão perfeitamente OK, mas a traseira desagrada ao público. E aí entra um tipo de reestilização em que só há alteração da traseira, com o resto da estamparia ficando exatamente aquela que havia anteriormente, no máximo mudando um para-choque ou lanterna para só mesmo dizer que se mudou algo além da traseira. Ela pode acontecer em qualquer lugar do mundo, mas iremos nos ater ao Brasil, em uma certa analogia à considerada preferência nacional e que só mais recentemente teve a plástica aplicada a seres humanos se popularizando. Temos alguns casos importantes:

VW Fusca de 1979 a 1986 (e de 1993 a 1996)

Após a reestilização de 1973, em que o estilo de 1970 foi complementado por outro capô dianteiro e faróis em pé e com lente reta, o carro sofreu pequenas mudanças técnicas, como reforços estruturais e de segurança, mais boca externa de abastecimento. Não havia mais muita coisa a se fazer em um projeto que havia sido tão aperfeiçoado, ainda que muitos até hoje lamentem que por aqui não tenham sido adotadas inovações do alemão, como janelas maiores e suspensões tecnicamente superiores que tivemos aqui na Variant II. Além disso, era o líder de vendas há muitos anos, e o 1983 em que perderia para o Chevette ainda estava distante.

Porém, em 1979 quiseram dar outro ar inicialmente para as versões 1300L e 1600, com a adoção de novos para-lamas e grandes lanternas redondas e saltadas, que imediatamente geraram o apelido de “Fafá”. Havia também um ganho de simplicidade de produção, pois aquelas peças não mais tinham os apoios de metal das ovais ou das “canoas”.

A tal configuração, herdada do modelo alemão de 1971, também não afetava a coerência geral das linhas do besouro, que sempre tiveram as superfícies arredondadas como marca mais forte.

TL e Variant de 1974 a 1977

Continuamos dentro da Volkswagen, mas agora partindo para o degrau imediatamente acima do Fusca – ao menos até surgir o hatch Brasília. Neste caso, a dupla formada por TL e Variant já estava com a “frente Leiding”, de quatro faróis redondos e recuados em relação ao estampo dianteiro, desde 1971, mas seguia usando as lanternas pequenas e horizontais que existiam desde o lançamento do Zé do Caixão 1600 quatro portas.

O resto da reestilização viria nos modelos 1974, com uma pequena mudança para dar uma sobrevida ao produto, adotando lanternas maiores em formato retangular e mais rentes à carroceria.

Para tal, fez-se também outro estampo traseiro, em que o espaço da placa deixava de ser trapezoidal para ficar retangular e acompanhar a face interna das lanternas, que começaram sua vida com setas em âmbar e só mudariam de cor no modelo 1976 para cumprir a legislação, indo com os dois modelos até 1977, ano de sua descontinuação.

Chevrolet Chevette de 1980 a 1982


Em 1978, após herdar do Chevette americano a frente à Camaro e Pontiac Firebird de segunda geração, a segunda suave prestação da mudança de estilo viria em 1980, com a inclusão de lanternas maiores e mais envolventes, acompanhadas da vinda da versão hatch.

Com isso, foi preciso mudar o estampo traseiro para que abrigassem as carcaças mais volumosas dessas unidades, que seriam usadas até o modelo 1982. A mudança foi pouco extensa e também manteve a coerência estilística do modelo.

Chevrolet Vectra B de 2000 a 2005

Esta é uma daquelas reestilizações que alguns não gostariam que tivesse sido feita, por ter deixado o estilo mais pesado.

A partir do modelo 2000, foram aqui aplicadas as alterações feitas no equivalente alemão de 1999, em que a traseira passava a ter formas mais vincadas. A placa, até então fixada diretamente à tampa, passava a ficar em um módulo que incluía não só a fixação como também a luz de placa e a maçaneta da tampa.

Para não dizer que a frente não mudou, esta passou a ter novos faróis e para-choque, encaixados na estamparia original do lançamento. Na lateral, surgia o repetidor de seta, aproveitando um buraco no para-lama que já era usado para tal função desde o lançamento do modelo na Europa, e retrovisores maiores.
Porém, o carro, que chegara a ser o modelo sem opção 1.0 mais vendido do país, estava em linha descendente, de certa forma sendo ofuscado pelo Astra B Sedan, até sua descontinuação em 24 de junho de 2005. O Astra Sedan, por sua vez, acabaria sendo ofuscado a partir do fim de 2005 por um modelo feito sobre a mesma plataforma, mas usando entre-eixos igual ao da Zafira e chamado de… Vectra.

Fiat Marea de 2002 a 2007

Todos adoravam as linhas da Weekend, mas não tinham o mesmo apreço pelas do sedã, também lançado em 1998. Nesse, achavam estranhos os dois vincos verticais na tampa traseira acompanhados de lanternas com formato retangular, tudo isso com cantos bem arredondados e típicos da época do biodesign.

A solução veio a partir do modelo 2002 e seguiria com o carro até o fim, adotando-se as mesmas lanternas do Lancia Lybra e criando-se uma nova tampa traseira, com muitas linhas retas e sem outros vincos que não horizontais.

Na mudança, também uma simplificação na área da placa, que deixava de ser um módulo completo e passava a ter uma régua na parte superior com a luz e a chapa apoiada diretamente sobre a tampa. Da frente em diante, estamparia toda igual, mas o esforço foi insuficiente para que o carro conseguisse competir de frente com Civic e Corolla.

Ford Ka

Com defasagem de apenas seis meses em relação ao europeu, nosso Ka viria em 1997 e atenderia a parte dos anseios autoentusiastas devido a seu bom comportamento dinâmico. Parte dos pedidos dos brasileiros foi atendida em 1999, com a adoção dos motores Zetec Rocam, que permitiam bom desempenho ao carrinho mesmo na versão de 1 litro, ainda que pés mais nervosos tivessem de esperar até 2001 pelo lançamento do XR e seu motor 1.6 e mudanças na estrutura frontal.

Porém, a traseira com corte reto e altamente inclinado, tampa arredondada e lanternas de orientação horizontal em formato de elipse cuja parte mais alta estava na mesma altura do ponto mais alto do para-choque gerava comparações com uma frente de Romi-Isetta, enquanto outros diziam ser a parte Erundina de um carro que teria três Luizas em si. A mudança viria no ano seguinte, com uma pequena remodelagem, acompanhada de nova tampa traseira que passava a ter a placa nela montada, bem como um discreto defletor acima do vidro para livrá-lo um pouco, via pressão aerodinâmica, da sujeira que normalmente se deposita na traseira de hatches.

Para não dizer que o resto não mudaria, foram criados novos para-choques, com as laterais tendo um desenho de arco bem acentuado e remetendo à primeira geração do Focus, bem como mudanças pequenas nos faróis. Reestilização maior mesmo o Ka iria ter na reformulação apresentada no fim de 2007, em que só as portas seriam aproveitadas.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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