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O que move tanto bairrismo? Necessidade de autoafirmação, vontade de criar polêmica, desejo de fazer parte de um clã isolado? Não sabemos – a única coisa certa é que estas rixas são antigas. E, se é tudo divertido quando o pessoal pega leve, por outro lado, ocasionalmente as coisas chegam às vias de fato…
Vamos começar com um caso clássico. Toda sexta-feira, na zona norte de São Paulo, havia um encontro de donos de V8 e seus muscles – na verdade, ainda acontece, mas o local mudou. Mas há uns dois ou três anos, numa tentativa de integração Veloz e Furiosa, uns donos de seis e quatro cilindros (Opala, Gol, Voyage, etc) começaram a compartilhar o espaço e o horário dos caras. Até alguns tunados começaram a aparecer. Foi o suficiente para começar a troca de farpas verbais e visuais – já vi “burnout de desprezo” sendo feito sobre os caras, princípio de briga, polícia, nego berrando e tudo o mais. Talvez seja um dos motivos que o encontro mudou de local.
Culpa dos V8teiros? Não somente. O preconceito vem dos dois lados. Muita gente conhece aquele carinha que tem um Gol caixinha, equipado com um turbo do tamanho de uma melancia e pneus Toyo R888 na frente e rodas de bicicleta no eixo traseiro, gerando pra lá de 500 cavalos, se orgulhando porque deu bucha em um Mustang – “V8 é tudo lixo!”. Meu amigo, desde que carro é carro, o que determina um vencedor é a relação peso-potência complementada pela aderência – e claro, a pecinha atrás do volante. Não tem tipo ou marca ideal, não tem receita pronta.
Mas nessa hora, entra o argumento Favela Racing Team – “tá tá, mas quanto que custa um Mustang? E quanto que custa um Golzinho?? Hein, hein?”. Muitos donos de Subarus e Mitsubishis fazem o mesmo com Porsches e Ferraris. Mas Einstein, se a lógica do automobilismo se resume a orçamentos, pegue um carrinho de supermercado e coloque um motor de fusca: ninguém te pega, olha como você é bom!
Por outro lado, tá cheio de dono de Dodge, Opala e Maverick por aí, com o miolo deste tamanho, achando que o carro deles é uma Ferrari, e que todo o resto da cultura automotiva é lixo – incluindo a própria Ferrari, claro. Convivendo com eles, você descobre que muitos (não todos) sequer se aturam: além de falar mal das marcas rivais, queimam o carro dos colegas do meio.
“Fulano cagou com gosto dentro do carro. Vc. viu os reloginhos que ele botou no painel? Parece penteadeira de put@!”
“O carro de Ciclano tá bacana, tá bacana. Mas que merd@ que ele fez no tom do branco hein?”
“Original?? Cê não viu o tecido dos bancos do carro do Beltrano??”
“Capô de fibra de vidro? Matou o carro!!”
“Tá original, tá lindo, mas ô corzinha de velho aquele do Dell Trano”
Uma coisa que podemos dizer é que rixas são divertidas, uma tiraçãozinha de sarro não faz mal a ninguém. Mas numa boa? O que eu tenho visto e ouvido em encontros (legais e ilegais) mostra um lado mais tenso disso tudo, e por isso até me afastei desses eventos. É um desprezo pouco saudável, que chega a envolver as pessoas: não é o Golzinho que é desprezado, é o tal do “seu APzeiro de merda”. Em qualquer prova de arrancada, você pode “saborear” um pouco desse comportamento primata. Me dá meu osso aqui! São raras as exceções, e a maioria delas eu descobri longe desses lugares…
Claro, todo mundo possui as suas preferências. Eu, por exemplo, não gosto de nitro e continuo não curtindo os carros extremamente tunados, com 15 telas de DVD e etc. A questão é, você não precisa menosprezar o diferente com tanta violência para autoafirmar o que você gosta. Esses caras curtem tanto carro quanto você. Tire um sarro, mas mantenha o nível.
Algumas das rixas mais clássicas:
DKW vs. Willys - a mais saudável que conheço, vem dos tempos das equipes oficiais de corrida nas provas de turismo brasileiro da década de 60
Opala vs. Maverick - uma das menos saudáveis que conheço, vem dos tempos das equipes oficiais de corrida nas provas de turismo brasileiro da década de 70
Dodge vs. Maverick – por ambos serem V8, há um certo respeito – pero no mucho
Opala vs. Dodge – sai sangue porque são duas das marcas com mais xiitas por metro quadrado
AP vs. o mundo – barato de preparar, resistente, muita potência e pouco torque, muito ego
V8 vs. o mundo - caro de preparar, resistente, muita potência e muito torque, muito ego
Subaru vs. Mitsubishi – caso curioso de respeito mútuo, ou será que não convivi com eles o suficiente?
Opala Seis vs. Opala Oito – caso clássico de xiitas. Opala tem que ser seis, é o motor do Chuck Norris. Vai explicar que a Holden montava um V8 327 na mesma plataforma do Opala, na Austrália?
Low Rider vs. o mundo – “não quero falar com bandeirantes”. São os caras mais fechados e xiitas do universo. Não duvide, não se envolva, não tire sarro. Você pode ser morto
Tuning vs. Muscle – lá fora, o “Tuning” vira “Imports”, ou seja, carros importados do oriente. Aqui, todo tunado entrou no bolo: de um Astra a um Civic. O povo do Tuning tende a gostar dos muscle cars. Já o contrário…
Circuito vs. Arrancada – a tendência é de que os primeiros desprezem os últimos com uma dose desnecessária de egocentrismo tipicamente europeu
Marea Turbo – nunca vi um carro ser tão amado e odiado com a mesma proporção, por grupos distintos
Placa Preta vs. Preparados – se pudessem, os primeiros exterminariam os últimos da face da Terra. Os donos de preparados amam o “clube do frisinho” na mesma dose.
Porsche vs. Ferrari – ninguém tem os carros, a maioria nunca sequer andou neles, mas os defendem com um orgulho maior que o da própria família
Audi vs. Mercedes vs. BMW – tendem a desprezar todo o resto da cultura automotiva e também gostam de brigar entre si. Por exemplo, o BMW M3 da última geração, com motor V8, é odiado pelos bimmers mais xiitas
Davi vs. Golias – Peugeot 105, Celta, Kadett, Gol caixinha… o grande orgulho deles é derrotar um BMW, Porsche, um Muscle. Síndrome do Sr. Miyagi?
Subaru e Mitsubishi vs. Exóticos – versão “de préibói” do caso acima
Alguma outra rixa que vocês se lembram? Ou alguma história bizarra dentro deste contexto?
Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br
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