24 de mar. de 2011

Já pensou em trabalhar CRIANDO carros?



Neste último final de semana estava contando a um amigo sobre o meu trabalho, sobre o Jalopnik, quando ele disse: “Interessante, meu irmão mais novo sempre quis trabalhar com carros, queria fazer engenharia mecânica, mas acho que ele vai prestar odontologia mesmo…”. Soltei um olhar de indignação oriental e imediatamente fiz o cidadão ligar para o moleque para convencê-lo a não fazer essa c@&%$a. Quer saber o que eu disse a ele?
Basicamente, expliquei que nunca na história desse país os profissionais da indústria automotiva foram tão valorizados. E não estou falando apenas do “chão da fábrica”, os operadores antigamente chamados de metalúrgicos que hoje cumprem três turnos de trabalho na maioria das fábricas, e dos quais não se ouve nenhuma notícia de greve, cortes ou desemprego há anos.
Não estou falando também da intensa expansão dos centros de produção automotiva, antes concentrados na região do ABC paulista, e hoje espalhados pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Manaus…
Também não me refiro à toda a cadeia de oficinas, seguradoras, inspetoras veiculares, fabricantes de autopeças e todo o tipo de comércio relacionado aos automóveis que já estão no mercado, e que continuarão a demandar um enorme contingente de trabalhadores nos próximos anos mesmo se toda a produção de novos veículos – que em 2010 bateu todos os recordes possíveis e imagináveis – cessasse nesse instante.

Estou falando é dos profissionais no topo da cadeia produtiva, aqueles caras com bons salários, inglês fluente e passaporte em dia, envolvidos no desenvolvimento de novos produtos estratégicos para as grandes marcas.
Gente com formação específica, oriunda das melhores universidades. Engenheiros e designers que são disputados a tapa por RHs e chefes desesperados por novos talentos, por uma simples razão: sobram planos, projetos e vagas no Brasil, e faltam profissionais com qualificação e competência suficiente para encarar a complexa tarefa de projetar, desenvolver e produzir automóveis.

O fenômeno é bastante fácil de entender. Se até pouco tempo atrás apenas as quatro grandes marcas presentes no Brasil (General Motors, Volkswagen, Ford e Fiat) se davam ao trabalho de criar produtos específicos para cá, e mesmo assim com ressalvas, hoje praticamente todos os personagens do mercado (quase duas dezenas) dispõem de planos ambiciosos para um dos lugares mais rentáveis do planeta – e um dos poucos que não foram afetados pela crise de 2008.
Quer exemplos? Separei algumas notícias que encontrei numa pesquisa de dez segundos no Google:
- Hyundai inaugura planta em Piracicaba
- Renault: Joinville entra na disputa por nova fábrica da marca francesa
- Nova fábrica da Toyota no Brasil quer produzir 400 mil veículos
- Fiat confirma nova fábrica em Pernambuco
- Volkswagen investirá R$ 360 milhões na nova fábrica em Taubaté (SP)
- AEA renova diretoria e quer incentivar mais jovens a ingressar na carreira automotiva
Se você tem interesse pela área, procura por emprego mas não consegue achar nada, das duas uma: ou vive no lugar errado, ou está com as qualificações defasadas em relação ao que o mercado precisa. Numa faculdade altamente especializada como a FEI de São Bernardo do Campo, por exemplo, é quase impossível encontrar recém-formados talentosos sem emprego garantido. Na disputa da Fórmula SAE que acompanhamos recentemente, o quadro era o mesmo: os melhores estudantes não se preocupavam exatamente com a possibilidade de emprego, e sim com as opções a escolher.
Tive outra constatação surpreendente ao conversar com outro amigo meu, um profissional que trabalha na área de clay de uma grande marca. O clay, caso você não saiba, é a modelagem em argila, um processo fundamental em qualquer desenvolvimento de automóvel, seja na criação de um novo modelo ou nas dezenas de facelifts externos e internos que afetam nossos carros.

Diante da especificidade de seu trabalho, e da constatação do quão necessária é essa etapa mesmo em tempos de digitalização e modelagem 3D (afinal nenhuma realidade virtual consegue substituir a prova física das linhas e volumes), perguntei quantos profissionais como ele haviam no Brasil. Veterano que conhece quase todos os colegas do setor, meu camarada colocou a mão no queixo, pensou por alguns segundos e disse: “uns vinte”.
Levando em conta não apenas o número de marcas que criam produtos e modificações específicas para nosso mercado, como também o fato de que os centros de desenvolvimento sediados no Brasil já começam a realizar trabalhos para as matrizes lá fora, fica fácil perceber que a conta simplesmente não fecha. Faltam profissionais de qualidade em todos os setores – basta ver a quantidade de pessoas com menos de 30 anos que já ocupam cargos importantes nos departamentos de produto, engenharia e design das indústrias automotivas no país.
“Para preencher uma vaga hoje leva meses” – Pedro Manuchakian, diretor de engenharia da General Motors do Brasil, em entrevista ao Diário do Grande ABC
Espero que tenha conseguido convencer o rapaz lá do início do texto, e todos vocês que por ventura estejam pensando em seguir carreira nesse setor. Mas aí entra a questão da formação ideal. Onde é possível escolher cursos, graduações e especializações capazes de te transformar em um profissional altamente valorizado?
Isso é assunto para um próximo post…

Fonte:jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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