24 de mar. de 2011

A mágica do automobilismo dos velhos tempos em exposição em São Paulo



O cheiro de um carro antigo de competição é diferente do cheiro de um carro apenas antigo. Há uma espécie de aura formada por borracha, asfalto, suor e glória que faz desses bólidos coisas especiais para se ver e se tocar. É esse tipo de experiência que uma mostra organizada em São Paulo oferece até o próximo dia 02 de abril, no Conjunto Nacional.

Estão reunidos uma dúzia de carros de corrida e três protótipos experimentais da FEI. Mas apesar de entre os corredores estarem um Lamborghini e uma Ferrari atuais, confesso que nem dei bola para eles. O que me prendeu mesmo a atenção foram cinco personagens com muita, muita história para contar: o Karmann-Guia Porsche da equipe Dacon, o Willys Interlagos da equipe Willys, a assustadora carretera nº 18 de Camilo Cristófaro, um Alfa Romeo GTA vestido para brigar e um Allard J2 com mecânica Cadillac e um currículo de respeito.

Como o nome indica, o Karmann-Guia Porsche aproveitou as semelhanças entre as duas plataformas para trazer o motor boxer 1.6 (depois 2.0) do Porsche 356 no lugar dos fraquinhos VW a ar, junto com suspensões e freios reforçados e uma prolongada ponteira de escape que deve berrar com gosto – eu disse deve no presente pois, com exceção da carretera de Christófaro, todos estão funcionais!

Este é o único sobrevivente dos quatro exemplares feitos para correr pela equipe Dacon nos anos 60, e o nome dos pilotos da época escrito na caixa de roda dianteira não deixa dúvidas quanto à sua importância história: Wilson Fittipaldi (o Tigrão) e José Carlos Pace (o Moco), futuros pilotos de F1.

Outra relíquia dos tempos em que as fábricas dominavam o automobilismo brasileiro é a berlineta Willys Interlagos amarela pertencente à equipe Willys. Ela carrega o nome de Bird Clemente impresso na lateral, e as assinaturas de diversas lendas daquela época, como o recentemente falecido Luiz Pereira Bueno. Tinha um motorzinho Renault de apenas 1,0 litro, mas extraía performance e emoção de cada gota de volume cúbico.

Ao seu lado, o principal adversário independente das equipes de fábrica, a inacreditável carretera nº18 de Camilo Cristófaro, o “Lobo do Canindé”.

Este frankestein das pistas misturava uma carroceria de Chevrolet 1937 rebaixada e sem para-lamas com mecânica V8 americana de até 400 cavalos, generosos pneus slicks e uma aparência Mad Max que nos faz imaginar o quão loucos eram esses caras ao encarar corridas de longa duração a bordo de um carro que dá a impressão que vai se desmanchar se o motor for ligado.

O mais incrível é saber que Cristófaro correu quase 20 anos com a máquina – e que, além de vencer diversas corridas, sobreviveu ileso a tudo isso!

Um pouco mais recente (e tão intenso que dá vontade de roubar a chave e sair por aí) o Alfa Romeo GTA é um dos grandes clássicos do automobilismo mundial. O modelo em exposição no Conjunto Nacional está simplesmente apaixonante. Possui frente invocada, uma abertura no capô para o filtro de ar, gaiola de proteção completa no interior e um exuberante aerofólio traseiro. Desculpem o deslumbramento, mas é que Alfas mexem demais comigo…

Para encerrar a viagem no tempo, outra raridade: o Allard J2 com mecânica Cadillac V8 que fez história em Le Mans e no rali de Monte Carlo. A unidade da mostra tem no currículo uma quebra de recorde em Interlagos nos anos 50 e provas disputadas no mitológico circuito da Urca, no Rio de Janeiro.

Perca alguns minutos observando o cockpit pequeno e aberto, sem cinto de segurança nem apoio para a cabeça, a pequena alavanca de câmbio quase horizontal, a portinhola que mal alcança a altura das coxas, e perceba que a escala do velocímetro vai até os 280 km/h. Sem comentários.

A mostra Semana Cultural da Velocidade foi organizada pelo artista plástico Paulo Soláriz, cujas obras de arte inspiradas no automobilismo também estão expostas no Conjunto Nacional, e dura até o próximo dia 02 de abril, com entrada franca e horários generosos, até as 22h.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

Nenhum comentário: