20 de jan. de 2011
* Leitor narra sua maratona nas 24 horas de Le Mans em Gran Turismo 5
Depois de 24 horas e 381 voltas, boa parte delas sob chuva forte, finalmente consegui concluir as 24 horas de Le Mans (França) em Gran Turismo 5 (PlayStation 3). Iniciei na sexta-feira (14) às 19h, logo que cheguei do trabalho, e terminei no sábado às 19h06. Os seis minutos a mais foram por conta de um esquecimento e o costume de ficar pausando o jogo.
A princípio, quando chegamos ao “level” 25 e a guia de “Endurances” é liberada, surgem dois testes de resistência de 24 horas. A primeira coisa me veio à mente foi “esse Kazunori [Yamauchi] é ‘charopeta’ das ideias”. E garanto que pensei isso até minutos antes de iniciar a corrida.
Mas quando você começa a correr e a notar a magia (ops) de uma corrida de 24 horas como essa, com a alteração do tempo de forma extremamente natural, você começa a perceber que o japonês é realmente um cara muito fera nessa história de fazer um jogo de corrida. E que os eventos de 24 horas estão lá disponíveis simplesmente porque esse é um jogo que traz a experiência completa no que diz respeito a conduzir carros de corridas.
Então você para de ficar de “mimimi, corrida de 24 horas sux” e começa a detonar, agradecendo a oportunidade de imitar a realidade e reproduzindo as condições dessas corridas em um jogo. E, sim, muitas das condições de uma corrida longa aconteceram comigo nessa noite, e a mais marcante delas foi a INCERTEZA. Não saber se você vai ou não terminar a corrida e, mais importante, se vai vencê-la. Incerteza no videogame? Não estou louco. Vamos a elas:
1- Não saber se iria conseguir terminar porque não tenho “no break” e estamos em plena temporada de chuvas e tempestades. Nessas ocasiões, acabar a energia é coisa corriqueira, e eu sabia que a qualquer momento uma coisa dessas poderia ocorrer e eu estaria fora da corrida. Só isso já garante uma emoção do c******, podem apostar.
2- Comecei às 19h, abri cerca de 25 voltas de vantagem, fui tomar banho e jantar. Quando voltei, ainda tinha 18 voltas de vantagem. Lá pelas 3h da manhã resolvi tirar um cochilo de 2 horas. Eu estava novamente com 25 voltas de vantagem, mas peguei no sono pesado e só acordei mais de 4 horas depois, quando já estava 41 voltas atrás do líder e com 12 horas restantes. Já não tinha mais a certeza da vitória. E isso reproduz muito bem os problemas de uma corrida de longa duração, quando até os favoritos têm diversos problemas e acabam por não vencer a corrida. E o pior: cheio de sono e no escuro, você simplesmente não consegue virar um tempo bom, e vai ficando tenso.
3- Mais problemas. O PlayStation 3 estava fervendo de tão quente. Meu medo era que ele morresse e me deixasse na mão depois de mais de 12 horas de corrida.
4- O dia amanheceu aqui em Guarulhos, eu jogava e olhava pela janela para ver se ia chover ou não – preocupado, novamente, com a queda de energia. Eu estava correndo num “modo automático”, sem prestar muito atenção no jogo em si. Quando começo a prestar atenção, o tempo estava fechado era dentro do jogo, com o início de um belo temporal. Eu estava pilotando o protótipo X1, com as assistências desligadas. Quando começou a chuva forte (no jogo), meu tempo subiu 40 segundos por volta, e as rodadas eram constantes a cada volta. Mais uma vez a incerteza da vitória soprou ao meu ouvido e me peguei questionando o que eu tava fazendo ali, há mais de 15 horas e ainda sem a certeza de que iria ganhar. Eu não queria ter de fazer tudo de novo.
5- O pôr do sol, a corrida à noite, com direito a fogos de artifício, a beleza gráfica dos carros competindo à noite, com direito a “backfire”, discos de freios incandescentes e as luzes de freio que se vê à distância. Tudo isso é algo que simplesmente não dá para descrever, e certamente ficará na minha mente por um bom tempo.
6- Para fechar com chave de ouro, nada com um bom acidente. Eu estava há mais de 23 horas na pista, quando minha esposa apareceu para me contar sobre o capítulo final da novela. Bem, X1 não é bem um carro, é meio que uma mulher e requer toda a nossa atenção enquanto o pilotamos. Minha mulher reclamou que eu não estava prestando atenção no que ela estava falando. Como não sou loco de arrumar confusão com a patroa, fui correndo e olhando para ela e fazendo sinal de “concordo com tudo” com a cabeça. Mas isso acabou por tirar minha atenção na mulher do jogo (o X1) e, em uma das chicanes, entrei a mais de 400 km/h de lado na zebra, o que fez com que o carro decolasse e capotasse, parando com as rodas para o ar em uma caixa de brita. Nesse momento pensei: “se ele não resetar, não tenho mais como sair daqui!!”. Pois bem, foram os 10 segundos mais intensos da corrida até o carro resetar para o meio da pista, enquanto eu pensava que tinha perdido 23 horas de corrida. No fim ainda fui “ownado” pela patroa, que ao ver a cena disse “Nossa, você conseguiu capotar o carro?”. Olhei para ela e nem falei nada.
7- Carros rápidos consomem muito combustível. Durante a corrida foram nada menos que 55 paradas pra reabastecer o X1 (vulgo Dodjão), que a cada sete voltas pedia 90 litros de combustível.
Agora só faltam em torno de 15 milhões de XP pra chegar ao nível 40 e poder fazer as 24 horas de Nurburgring.
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Cristiano Ferreira (PSN e Live: CristianoBr) estreia a seção Player Dois no Kotaku Brasil com sua épica jornada no jogo de corrida Gran Turismo 5. Se você, leitor, também tem alguma história legal para contar, ou quer compartilhar alguma experiência ou textos de sua autoria, envie um e-mail para dicas@kotaku.com.br com o assunto “Player Dois”. As melhores contribuições vão aparecer por aqui.
[Imagens: A saga de Cristiano Ferreira por Le Mans (imagens 3 e 4/fotos do leitor) e o carro protótipo X1 usado na corrida (imagens 1 e 2/divulgação)]
Fonte:kotaku.
Disponível em:http://www.kotaku.com.br
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