Entidades acreditam que faltam fiscalização e transparência por parte das montadoras que atuam no Brasil
Entre os chamados deste ano, destacam-se os que envolvem itens diretamente relacionados à segurança ativa dos passageiros, como airbags e sistemas de freios e combustível. Especialistas alertam que os chamados coletivos podem ser reflexo de um menor rigor por parte das montadoras.
Durante os últimos onze anos, a Fundação Procon-SP registrou 716 campanhas de recall, sendo que 474 (66%) foram relacionadas ao setor automotivo. Em 2013, já foram registradas 53 campanhas para averiguar possíveis defeitos em veículos. Somente esses chamados incluíram 215.907 unidades, segundo levantamento da equipe de Autoesporte. Esses dados não incluem os procedimentos conhecidos como recall branco, em que há substituição geral de peças que não representam grande risco ao consumidor, porém sem abertura de chamado coletivo (mais abaixo).
A grande quantidade de processos de recall é positiva por alertar motoristas e evitar possíveis acidentes. No entanto, os chamados podem demonstrar falhas no processo de produção dos carros. “O que nós vemos é que o controle de qualidade que está cada vez mais falho”, afirma Maria Inês Dolci, coordenadora institucional do PROTESTE. “Não tem uma razão para você ter um aumento tão grande de recalls como vem acontecendo. Isso significa que eles estão fazendo uma grande produção em série sem controlar a qualidade”, completa.
A análise de Márcio Marcucci, diretor de fiscalização do Procon-SP, segue o mesmo tom. “A partir do momento em que a fabricante precisa o mais rápido possível inserir um modelo no mercado e fazer frente à concorrência, é evidente que há um comprometimento do tempo necessário para se fazer testes e isso afeta toda a cadeia, envolve até os fabricantes de autopeças”, afirma. Ele explica, ainda, que a montadora é responsável inclusive por defeitos em peças adquiridas de outros produtores. “A fabricante de automóvel, como é a fornecedora final, tem a responsabilidade de promover campanha de recall, ainda que o defeito seja causado em uma peça fabricada por outra empresa”, completa.
Segundo dados do Procon-SP, entre os chamados dos últimos seis meses, a maior parte (21%) era relacionada ao sistema de airbag e ao sistema de combustível (10%). “Isso tem chamado atenção principalmente porque esses tipos de defeitos colocam em risco a segurança dos passageiros, então é um ponto importante que tem que ser considerado e não deveria acontecer”, explica Maria Inês.
Ranking dos recalls automotivos do primeiro semestre no Brasil por tipo de defeito segundo o Procon | ||
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Defeito | Quantidade | Percentual |
Sistema de Airbag | 6 | 21,43% |
Sistema de Combustível | 3 | 10,71% |
Itens elétricos (adaptador, bateria, interruptor, transformador, cabo de força, no-break, estabilizador e outros) | 2 | 7,41% |
Projeto e/ou fabricação/montagem do produto | 2 | 7,41% |
Sistema de fechamento (de portas, vidros, capô, capota, teto solar e outros) | 2 | 7,41% |
Sistema de freios | 2 | 7,41% |
Sistema de tração (diferencial, câmbio, embreagem, eixo de transmissão e outros) | 2 | 7,41% |
Sistema elétrico/eletrônico | 2 | 7,41% |
Composição/componentes do produto | 1 | 3,57% |
Descanso lateral de motocicletas/bicicletas | 1 | 3,57% |
Efeitos colaterais nocivos à saúde | 1 | 3,57% |
Embalagem | 1 | 3,57% |
Sistema de direção | 1 | 3,57% |
Sistema de regulagem do produto | 1 | 3,57% |
Sistema de rodas | 1 | 3,57% |
TOTAL | 28 |
Quando a montadora detecta uma falha recorrente em diversas unidades de um determinado modelo, mas que não gera riscos à saúde ou segurança dos passageiros, é permitido que ela realize o chamado recall branco, ou recall de exceção. O procedimento substitui a peça defeituosa conforme os proprietários levam os carros à concessionária para realizar uma revisão, por exemplo. “A empresa não teria a obrigação de fazer um recall, mas ela não pode ficar omissa diante dessa situação. Ela tem que dar amplo conhecimento aos consumidores desse problema e colocar sua rede de concessionárias à disposição para fazer o reparo sem ônus pro consumidor. É uma questão até de respeito e transparência com o publico consumidor”, explica Marcucci.
Apesar de permitido pela legislação, a coordenadora do PROTESTE acredita que o recall de exceção deve ser tratado com maior transparência por parte das montadoras. “É muito negativo que o recall de exceção quase se torne norma em função de falhas no processo de qualidade das indústrias. É evidente que elas podem fazer aos poucos se o risco é menor. Agora, elas tem que demonstrar de que forma eles vão fazer. O consumidor tem que saber que aquela peça vai ser substituída”, afirma Maria Inês. (Colaborou Alberto Cataldi)
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