25 de jun. de 2013

ACELERAMOS O MITSUBISHI ASX NACIONAL, VETERANO QUE QUER VIRAR O JOGO

Agora nacionalizado, crossover tem bom custo/benefício e predicados que podem torná-lo líder de vendas no segmento

Mitsubishi ASX começa a ser fabricado em Catalão (GO) (Foto: Divulgação)

Em um jogo cujas regras podem mudar a qualquer momento, a Mitsubishi Motors do Brasil decidiu pela jogada mais segura: montar o ASX na fábrica de Catalão, Goiás. A nacionalização permitirá ao fabricante escapar do fantasma do super-IPI e das cotas preferênciais de importação restritas.
É o mesmo lance que seguiu a Hyundai Caoa a menos de 300 km dali, na também goiana Anápolis, onde produz o Tucson e vai passar a fabricar o ix35 a partir de setembro, respectivamente líder e vice-líder do subsegmento.
Nesse tabuleiro, a Mitsubishi pretende avançar mais do que nas rodadas anteriores. O crossover lançado no final de 2010 vendeu bem desde seu primeiro ano completo. Foram 10.783 carros em 2011, 11.010 em 2012 e uma média consistente de 800 carros/mês neste ano. A nova jogada que envolve pouco mais de 60% de nacionalização dará a ele a carta bônus que permitirá fugir da cota restritiva e pular direto à outra casa, a de 1.100 unidades mensais ainda em 2013 e chegar aos 1.300 carros/mês no ano que vem. Isso o deixaria no patamar intermediário entre os modelos da Hyundai e bem à frente do terceiro colocado Kia Sportage.
Ambição de jogador experiente, que sabe que tem um trunfo: o bom custo/benefício auxiliado por pequenos descontos em relação ao japonês, que vão de R$ 1 mil no mais barato a R$ 2 mil no mais caro completo. O ASX básico com tração dianteira e câmbio manual de cinco marchas parte de R$ 83.490, porém responderá por apenas 5% das vendas. As fichas estão depositadas mesmo nos modelos mais caros. Equipado com câmbio automático do tipo CVT (de variação contínua) o crossover vai aos R$ 89.490 e chega aos R$ 99.990 na versão mais cara com tração 4x4. Só há dois opcionais, teto panorâmico e faróis de xenônio, que saem por R$ 6 mil em pacote único, o que eleva o preço do modelo testado a R$ 105.990.
São preços inferiores até aos do Hyundai ix35 e do Kia Sportage e bem longe dos concorrentes das marcas japonesas como o Honda CR-V e Toyota RAV4. Nem todos são tão parecidos, contudo. Tal como ocorre nas peças de xadrez, onde o rei pode ter 4,5 centímetros e o peão apenas 3,2 cm, o ASX também tem diferenças de tamanho em relação aos outros. Seu comprimento é de 4,29 metros, mais para Renault Duster (4,31 m) do que para CR-V (4,53 m) ou Toyota RAV4 (4,57 m). A distância entre-eixos é de bons 2,67 metros, a mesma do Duster, porém maior do que os companheiros de origem nipônica.
Mesmo assim, o espaço é pequeno para cinco adultos. Enquanto quem vai na frente não passa aperto, atrás o espaço disponível para as cabeças será empecilho para os que têm mais de 1,80 m, enquanto o vão para as pernas é limitado até para ocupantes menores. Ao menos há cinto de três pontos e encosto de cabeça para todos.
A estratégia passa mais pelo recheio em itens para não blefar diante dos rivais. O ASX 4x2 manual traz ar-condicionado automático, direção elétrica, volante multifuncional revestido de couro com comandos de som e controle de cruzeiro, trio elétrico, coluna de direção ajustável em altura e profundidade, sistema de som com entrada USB, auxiliar e viva-voz Bluetooth, além de indispensáveis airbags frontais e freios ABS com EBD. A linha inteira tem três anos de garantia total.
O top soma bancos dianteiros com aquecimento e ajuste elétrico para o do motorista, revestimentos de couro, sensor de estacionamento, sensores de chuva e de luminosidade, som multimídia com DVD, mostrador digital colorido e assistente de partida em rampa. A segurança é incrementada na versão e incorpora controles de estabilidade e de tração, airbags laterais dianteiros, do tipo cortina e para os joelhos do motorista.
Confiando no seu jogador, a marca não mexeu muito no produto. Como o ASX reestilizado já era importado, o nacional tem como única novidade visível as rodas aro 18 calçadas em pneus Pirelli Scorpion 225/55, contra o jogo 215/60 aro 17 de antes. A altura do perfil não foi afetada, pois a área do pneu cresceu também.
Desempenho
Fazer caras e bocas para intimidar quem está à sua frente esperando seu lance pode funcionar em muitas partidas. A grade estilo Lancer Evolution promete muito desempenho. A denominação jetfighter grille diz em inglês que a inspiração para o bocão foi a entrada de ar de um caça. Lembrando que a antiga divisão de aeronaves da Mitsubishi criou o famoso A6M Zero da Segunda Guerra. Mas será que ele voa baixo?
Se calcularmos a relação peso/potência, ela fica em bons 8,4 kg/cv. Os 1.345 kg são empurrados pelo 2.0 16V de comandos variáveis em abertura e fechamento de válvulas com 160 cv a 6.000 rpm. Ter os números da sorte podem ser sinônimo de felicidade no jogo. Na aceleração aos 100 km/h, o ASX marcou 11,9 segundos. Número bem acima dos 9,6 s divulgados pela marca, ainda assim pouco abaixo dos CR-V (12,4 s) e RAV4 (12,2 s), mas não o suficiente para quebrar o Sportage (11,1 s).
No modo sequencial, as trocas de marcha podem ser realizadas por borboletas metálicas enormes no volante. O câmbio automático do tipo variação contínua (CVT) simula seis marchas e as trocas são rápidas, mas fica claro que é preciso ir próximo da rotação de torque máximo. É na faixa dos 4.200 rpm que são liberados os 20,1 kgfm.

De acordo com a marca, as respostas foram recalibradas para ficarem mais rápidas. Só que no modo automático não foge da sina das caixas do tipo. Em acelerações até o talo, a agulha cola na escala máxima do conta-giros indicando um sobre-esforço que não é acompanhado na mesma pressa pelo velocímetro.
A viagem nos arredores de Catalão envolveu 100 km. Nas poucas trajetórias fechadas, a inclinação lateral foi bem controlada. Os movimentos são bem calculados e a frente não mergulha em demasia em frenagens. Junto com as novas rodas e pneus, a suspensão McPherson na dianteira e Multilink na traseira foi reajustada para ser mais complacente com imperfeições contínuas e ser mais durinha nos movimentos laterais mais lentos como nas curvas.
O fora de estrada foi resumido a poucos quilômetros de estrada de terra batida. A tração integral repassa sempre 20% de força para o eixo traseiro, percentual que sobe de 30% a 50% com a opção Lock acionada. Tem credenciais para aventuras, porém não é um off-roader pesado como o Pajero. Até porque o seu parceiro é o Lancer. É com ele que formará uma dupla capaz de colocar a Mitsubishi no grande jogo em 2014, quando o sedã passar a ser produzido em Catalão. Estratégia que pode incluir motor flex e libera a cota para importados como o novo Outlander. Prova de que o ASX é mais que um peão na partida.

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