Qual dos SUVs até R$ 70 mil te deixaria mais feliz? Nós sabemos a resposta
Por João Anacleto // Fotos: Leo Sposito
Imaginamos o utilitário esportivo na casa dos R$ 70 mil que mais vale a pena comprar hoje em dia. O Hyundai Tucson é com um LP de vinil. Há gente que ainda gosta dele, mesmo que tenha de pagar um pouco mais. O motor flex e a nacionalização do carro feito na linha da Caoa em Anápolis (GO), deram fôlego e bom preço ao modelo. Hoje, ele sai por R$ 67 mil e tem quase tudo o que você precisa em conforto.
Quem está mais antenado e deixa o vintage para os móveis da casa deve estar de olho no Chevrolet Tracker, que sai por R$ 72.190 e traz a modernidade de quem quer um SUV pequeno e só encontrava nas concessionárias Ford. Vê-lo na vitrine causou a mesma sensação de quando lançam um novo iPhone.
3º HYUNDAI TUCSON
O Tucson já foi um baita SUV, mas o tempo passou e escolher o modelo é um ato quase tão adulto como saber que Papai Noel não existe. Claro, o nome é forte, mas há um abismo tecnológico entre ele e os seus concorrentes. Se por fora o Tucson é como uma árvore de Natal, reconhecido à distância e um símbolo da categoria, basta entrar nele e perceber que tudo ali parou no tempo. Não houve nenhuma reestilização em toda a vida do carro, desde dezembro de 2005.O painel é bem simples, quase uma viagem no tempo, de volta ao ano de 2001, quando ganhar um bom presente era levar para casa um laptop de 9 kg. Os instrumentos são simples, ainda há informes digitais com iluminação esverdeada, e o painel prima pela superfície lisa, sem mostrar uma clara definição de que o cockpit está dividido. A versão avaliada, mais cara, vem com bancos de couro classudos, mas com padrão diferente dos que você pode ver no Tracker e no EcoSport. Para 2005, era bom.
Os bancos não têm ajustes refinados, o comando para acertar a altura do assento é feito por uma roldana tão prática quanto abrir nozes com garfo, o ajuste de distância é mais curto do que nos rivais e o do volante só dá pra mudar a altura. O acabamento não é ruim, mas as formas que a gente se acostumou a ver nos SUVs de hoje sugerem que falta capricho. Não é bem isso, é que a idade agora pesa.
No entanto, o projeto só não mudou porque era bem moderno para a sua época áurea e ainda consegue cativar novos donos, principalmente quando se pensa na praticidade. No porta-malas você consegue levar muito mais presentes do que na dupla novata: são 528 litros, e no banco de trás três convidados ficariam bem confortáveis. O Tucson ainda tem como charme a possibilidade de você poder bascular o vidro traseiro e abri-lo para pegar algo menor que esteja no porta-malas, sem levantar a tampa. Aptidões do tipo fazem dele o quarto SUV mais vendido – foram 13.330 carros até novembro, isso sem falar do seu histórico de sucesso, que elevou a marca a um patamar onde outras levaram muito mais tempo para chegar.
Hyundai Tucson aut.
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+ Confiabilidade, preço das revisões, espaço de SUV médio
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- Transmissão, desenho e motor muito bons para uma viagem no tempo
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= Se você ganhar um, está bom. Pagar por ele é de se pensar.
E não é só isso que faz o Tucson ir tão mal. Com todo respeito que um carro com essa história merece, ter um câmbio desses, de quatro marchas, e uma central eletrônica de calculadora HP12C em um mercado tão concorrido é como ir à festa da Glorinha Kalil com pantufas de tigre. Seria muito pedir algo mais moderno? Achamos que não.
Ele também foi mal em desempenho, e essa culpa não é só do câmbio nem do motor e, sim, mais uma vez, da idade. Os 1.549 kg do seu conhecido corpo são demais para serem puxados pelos 146 cv do motor 2.0 flex. Já o torque de 19,7 mkgf poderia deixar a experiência do passeio melhor se houvesse ali uma transmissão mais refinada. Ele levou mais de 13 s para ir de 0 a 100 km/h, e quase 20 s para ir da imobilidade até atingir o quarto de milha.
E como não poderia ser diferente para um carro fora de seu tempo, o consumo denuncia que o motor, apesar da tecnologia flex, precisa de melhorias. Abastecido com etanol, o Tucson fez 6,4 km/l na cidade e não chegou aos 10 km/l na estrada, mesmo com o câmbio com marchas mais longas.
Com argumentos desse tipo e rivais mais evoluídos tecnologicamente, o Tucson ainda é um bom presente – você vê valor nele, vai ficar satisfeito em ter um mas... Vai ficar olhando o SUV do vizinho.
2º CHEVROLET TRACKER
“Como assim o Tracker perdeu?”, você pode perguntar. O novo SUV da Chevrolet ganhou o primeiro comparativo contra o EcoSport e o Renault Duster (C/D 69). À época fomos até a Argentina conhecer o modelo antes que ele desembarcasse por aqui. A versão manual surpreendeu, em especial pelo consumo com a gasolina dos hermanos e pela perspectiva atrativa de preço, na casa de R$ 60 mil, como imaginamos. Mas o carro chegou só na versão automática topo de linha, por salgados R$ 72.130. Aí o jogo virou.chevrolet tracker ltz
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+ Estilo, melhor posição de dirigir e bancos que parecem de sedã de luxo
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- Motor e câmbio não se entendem
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= É uma boa novidade. Mas deveria custar menos
O motor 1.8 e o câmbio de 6 marchas formam um conjunto com menos harmonia do que se poderia prever inicialmente. Nem lembra o Tracker que aceleramos na Argentina, com câmbio de cinco marchas formidável. A transmissão GF6 não casa assim tão bem com o Ecotec 1.8. Enquanto um dá uma passada, o outro tem de dar duas. O motor é bom, tem torque satisfatório em baixa e boa potência, apesar da baixa cilindrada, mas o câmbio automático GF6 abusa da preguiça.
A versão manual que testamos na Argentina pareceu mais ligeira, embora tenha registrado só 3 décimos de segundos a menos na aceleração 0 a 100 km/h, usando gasolina. Outra boa diferença foi notada no consumo. As relações pouco elásticas e as sinapses deficientes entre as partes vitais do conjunto mecânico renderam um consumo de combustível com etanol abaixo do esperado. O Tracker não chegou aos 6 km/l de etanol na cidade e na estrada sofreu para fazer 9 km/l. Com a gasolina dos hermanos, sem etanol e a tranmissão manual, ele fez 11,9 km/l na cidade e 14,1 km/l na estrada. Uma diferença brutal, na prática e no bolso.
Mas se ele perde em desempenho, consumo e na falta de um equipamento tão trivial para quem pensa em, um dia, atravessar um campo de terra encharcado, não dá para reclamar do tratamento dado ao motorista. Vindo da mesma escola do Sonic, o Tracker abusa da oferta de regulagens dos bancos e do volante e tem ergonomia elogiável até para os adeptos da lei do mínimo esforço. Os comandos dos vidros elétricos ficam inclinados, mais próximos das suas mãos ao volante, e a tela do My Link não exige que você desvie muito a atenção do tráfego.
O acabamento é o melhor dos três, apesar de ter tantos plásticos quanto uma loja de brinquedos. O desenho interno também agrada e seus bancos, com assentos mais largos e extensos, reforçam a impressão de carro maior. Sua suspensão suporta bem as pancadas que as rodas de 18 polegadas levam, e a direção um pouco mais pesada que a dos rivais intensifica a sensação de que o carro está bem na mão.
Não fosse pelo preço, ele venceria facilmente a disputa na casa dos R$ 65 mil. Mas por um valor mínimo de mais de R$ 72 mil (um Tracker como o testado sai por R$ 75.590), você já tem uma opção: embarcar no EcoSport Titanium, o melhor da nossa lista de presentes.
1º FORD ECOSPORT TITANIUM
Aqui está aquele presente que quando você vir embrulhado pensará: “Tomara que seja o meu, tomara que seja o meu…”. Se o Eco 1.6 não fez os nossos olhos brilharem nem alterou nossa sístole (que cazzo é isso? procure no dicionário, decore a palavra e esnobe seus amigos), o 2.0 conseguiu isso e mais um pouco. Ele tem bom torque e a ajuda fundamental de um câmbio muito melhor que o dos rivais. Com o Powershift do Eco você se sente comandando uma briga de Ben-Hur, com cavalos bem domados e acostumados com uma tocada mais ligeira.O comportamento da transmissão de dupla embreagem com o EcoSport é melhor do que vimos no novo Focus. Parece que o motor 2.0 flex de 147 cv, sem injeção direta, nasceu para o Powershift. O Eco conseguiu o melhor desempenho do trio nas acelerações, retomadas e também foi o melhor no consumo, no qual, aliás, humilhou os rivais. Com a média de 8,9 km/l na cidade, ele bebeu tanto quanto o Tracker na estrada.
Uma diferença e tanto no dia a dia do seu bolso, que farão os R$ 1.800 de diferença entre ele e o Tracker serem simples como uns tijolos a mais na sua chaminé.
Ford ecosport titanium
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+ Desempenho, câmbio, consumo e controle de estabilidade
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- Interior simples demais para um carro de R$ 73 mil
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= Você nunca mais vai esquecer esse presente de Natal
A suspensão, apesar de dar algumas vaciladas nas arrancadas, empinando levemente a frente em especial quando você sai acelerando em uma curva, consegue um equilíbrio bem aceitável entre o conforto e a dinâmica. Mas mesmo em situações drásticas, você pode confiar nele, pois, como todo SUV que se preze nesse mundo, o EcoSport traz AdvanceTrac (uma central que controla as rodas, sua tração e estabilidade em momentos críticos).
Lá dentro o acabamento poderia ser melhor. O EcoSport é como um panetone sem frutinhas. O desenho cheio de vincos remete a uma modernidade que é enterrada pelos plásticos que poderiam ter melhor qualidade e pelos grafismos um tanto sem graça para um carro de R$ 74 mil.
Na versão Titanium, avaliada, os bancos de couro só podem vir casados com air bags laterais e de cortina, o que lhe obriga a partir para a versão Titanium Plus, que sai por R$ 77.690. Quer uma dica? Fique com os de tecido, pois em ambos os casos os assentos são bem curtos para apoiar as pernas, o que só diminui a sensação de conforto.
Quem viaja atrás reclama um pouco, mas se forem dois adultos passar um tempo ali não será um sacrifício tão grande. Agora, colocar três marmanjos naquele espaço é para quem tem a certeza de que a generosidade vive no coração de todos eles. O porta-malas, apesar do bom volume, tem espaço curto entre o começo do compartimento e o costado dos bancos. Caberia um frigobar em pé ali, mas se você precisar de um guarda-sol dos grandes, vai ter de entrar em uma negociação com a Física. Mas também não dá para querer tudo de um SUV que já te deu algo que poucos conseguem: um mínimo de prazer ao volante. Parece pouco? É muito.
O EcoSport, além de ir bem no consumo, também dá um baile nas revisões diante do rival Tracker. Com R$ 2.924 você faz todas as revisões até os 60 mil km. Com o Chevrolet, neste mesmo período, o custo chega a R$ 3.636, uma diferença de R$ 712, grana considerável.
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