A indústria automotiva argentina não possui uma grande tradição. Mesmo assim, nossos vizinhos tem uma longa paixão por automóveis e, principalmente, por automobilismo – desde a época do pentacampeão de Fórmula 1 Juan Manuel Fangio. Sem um mercado local forte, algumas pequenas marcas portenhas sobrevivem ao tempo e a extinção. É o caso da Scuderia Bucci, uma fabricante com 100 anos de história e umas das atrações do Salão de Buenos Aires 2013 – que acontece na capital argentina até 30 de junho. Lá está o belo Bucci Special, com um motor V12 7.3 litros de 650 cv e de origem do Mercedes-Benz SL 600. O superesportivo argentino ainda é um protótipo, mas seu presidente tem grandes planos para ele. "Se encontrarmos algum grande fabricante de automóveis que queira realizar uma parceria conosco, o Bucci Special pode começar a ser produzido rapidamente", avisa Pablo Bucci, sobrino-neto do fundador e atual presidente da marca.
Mas até chegar a idade centenária e ao recente protótipo, a Scuderia Bucci carrega muita história. Tudo começou em 1911 quando Domingo Bucci – fundador da marca – já mostrava habilidade para consertar bicicletas e carroças na província de Santa Fé. Aos 17 anos fez uma curta viagem à Itália. Lá conheceu a Escola Caproni de Aviação, localizada em Milão, que oferecia cursos para aprender a voar. Isso chamou rapidamente sua atenção e logo se inscreveu para participar do curso de piloto. Em 1913, Domingo voltou para a Argentina com um motor Bleriot desmontado e com os planos para construir um avião em sua oficina. Com a ajuda de um carpinteiro, consegue a proeza e começa a voar fazendo o transporte de passageiros em torno da província.
Toda a adoração por mecânica e aerodinâmica o levaram a empregar seus conhecimentos técnicos na construção de carros de competição. Em 1922, amplia sua oficina para produzir tais veículos e ajudar a preparar carros de outros pilotos. Já em 1923 começa a competir a bordo de um Hudson. Sua carreira no automobilismo é vencedora. Das 64 corridas que participou, conquistou a vitória em 58 delas até falecer no dia 7 de março de 1933 em uma competição em Recifes, uma província de Buenos Aires, com apenas 39 anos.
Bucci contava com a ajuda de seus filhos, Rholand e Clemar, na oficina. Quando morreu, a paixão por automobilismo já estava enraizada em seus herdeiros, que seguiram os passos do pai. Rholand trabalhou a maior parta da sua vida como mecânico dedicado à preparação dos carros da família, e acompanhou seu pai e irmão desde os boxes. Tentou a carreira de piloto, mas Clemar tinha um talento superior. Clemar Bucci foi o primeiro argentino a correr na Europa em uma etapa que aconteceu em Genebra, na Suíça, em 1948, pilotando um Maserati.
Anos depois, em 1954, o governo argentino liderado por Juan Domingo Perón manda três pilotos para competir na Europa. Entre eles estão Clemar Bucci e o lendário Juan Manuel Fangio. No mesmo ano, Bucci entra na Fórmula 1 convocado por Amadeo Gordini na escuderia que levava o seu nome. O argentino disputa apenas cinco corridas com estrito sucesso e chega até correr com a equipe oficial da Ferrari em outras competições.
Junto com a carreira automobilística, os irmãos Bucci tocaram o negócio do pai produzindo autopeças em sua fábrica para marcas como Ford e Chrysler. E depois de Clemar se aposentar das pistas, as veias de corridas nunca foram abandonadas. Rholand e Clemar desenham o primeiro protótipo chamado Bucci Special, como motor da Alfa Romeo. Mais tarde planejam e dão vida um Ford Bucci 3000 com motor de V8 3.0 litros 32 para a categoria "Sport Protótipo" com chassi similar a de um McLaren, porém mais curto. O propulsor alcançava até 9 mil rpm e contava com um sistema de injeção. A Bucci também fabricou um Fórmula 4 com propulsor BMW.
Dando continuidade a sua história automotiva, em 1969 a Scuderia Bucci cria um superesportivo argentino batizado de DOGO. O "bólido" com motor central, transmissão da Porsche de cinco marchas, freios a disco nas quatro rodas e portas asa de gaivota, não foi para frente. O desenho pioneiro era tido como muito a frente de sua época.
Depois de alguns anos no ostracismo, em 2001, Clemar e seu filho Clemar Júnior – já fotógrafo profissional e diretor de arte –, recriam edições dos Mercedes-Benz SLR de 1955, mais conhecidos como "flechas de prata". Feitas em pequena escala, as recriações eram idênticas e foram zelosamente cuidadas por Clemar. Quanto à mecânica, freios, caixa de velocidades e diferencial, eram próprias da Mercedes-Benz.
Já em 2009, aos 87 anos, Clemar embarcou novamente para um projeto sonhador: criar um novo superesportivo autenticamente argentino. O ex-piloto argentino reuniu sua equipe de design e começou a fazer uma série de esboços que foram digitalizados e tomando forma. Na sua cabeça era a idéia de desenhar um superesportivo integrando duas características distintas: elegância e inovação. O projeto sofreu uma baixa em 2011 com a morte de Clemar.
Mas o sonho de Clemar não foi esquecido. Pablo Bucci, sobrinho-neto de Clemar, e que fazia parte da equipe tornou-se diretor da Scuderia Bucci em março de 2011, e deu continuidade ao veículo. Todas as peças de carbono do carroceria foram montadas e unidas ao chassis, os arcos de roda foram construídos, assim como o chão do carro; o habitáculo foi fechado, as poltronas foram desenhadas e construídas. O mesmo aconteceu com as luzes dianteiras e traseiras, relógios, grades laterais e traseiras, o volante, pára-brisas, etc. Todas essas peças foram feitas e montadas à mão na Argentina e o projeto final foi apresentado em solo argentino: no Salão de Buenos Aires.
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