4 de mai. de 2013

Com 660 infrações, nove ônibus são flagrados avançando sinal vermelho



Almoço. O motorista deixa o ônibus da linha Central-Leblon parado na faixa da esquerda e sai para comprar uma quentinha
Foto: Marcelo Carnaval / O Globo
Almoço. O motorista deixa o ônibus da linha Central-Leblon parado na faixa da esquerda e sai para comprar uma quentinha Marcelo Carnaval / O Globo
RIO — O ônibus da linha 132 (Central-Leblon), da Viação Real, chega ao Terminal Procópio Ferreira, na Central do Brasil, às 11h40m de sexta-feira. O motorista deixa o veículo numa curva, onde é proibido parar e estacionar, sai para comprar quentinha e, na volta, fica mais 20 minutos ali, dificultando a passagem de outros coletivos.
Almoço encerrado, anda cem metros até o ponto oficial, de onde sai às 12h19m. No trajeto para a Zona Sul, faz fila dupla na Avenida Rio Branco para pegar passageiros na Cinelândia; anda emparelhado com mais dois coletivos no Aterro; passa do ponto na Praia de Botafogo; deixa passageiro em cima da faixa de pedestres na Rua Raul Pompeia, em Copacabana; avança sinal na esquina da Rua Rainha Elizabeth, antes de, enfim, chegar ao Leblon. Em uma única viagem, foram, segundo a prefeitura, cinco infrações ao Código de Trânsito Brasileiro e ao código disciplinar da Secretaria de Transportes.
Esse mesmo ônibus, placa LSK-1589, foi um dos nove coletivos flagrados pelo GLOBO avançando o sinal na esquina das Avenidas Vieira Souto e Henrique Dumont, em Ipanema, na madrugada de quarta-feira, 24 horas depois do atropelamento do triatleta Pedro Nikolay. Sozinho, o veículo registra 126 multas em 4 anos de vida útil, período em que foi conduzido por diversos motoristas. Apesar do corolário de infrações, não lidera a lista dos ônibus analisados, que somam 660 multas. O campeão é outro coletivo (placa KWC-2807) da mesma linha e empresa, com 136 infrações em quatro anos.
No ranking de autuações — os nove ônibus são de quatro empresas e seis linhas — há de tudo. Trafegar fora das faixas exclusivas dos BRS é a infração mais comum, com 207 autuações. Andar acima da velocidade permitida aparece em segundo lugar, com 163 multas. O avanço de sinal vermelho surge em terceiro, com 73 autuações.
O levantamento mostra ainda que eles reúnem 71 multas por diversas modalidades de parada e estacionamento proibido, desde estar longe da calçada até o bloqueio de vias públicas e cruzamentos. Tantas irregularidades, muitas delas sem dono, levaram a prefeitura a multar as empresas (Translitorânea, Viação Vila Isabel, Viação Real e São Silvestre) 61 vezes por não informarem seus reais infratores.
O rosário de irregularidades inclui até mesmo desobediência à autoridade de guardas e fiscais. Foram 22 multas nesse quesito, mesmo número de infrações por parar em fila dupla. A amostra dá uma dimensão da realidade das ruas, ao revelar que motoristas foram flagrados sem cinto de segurança (cinco multas), dirigindo usando fone de ouvido (5) e celular (5), e com o braço para fora da janela (1). Houve ainda quem trafegasse na contramão (3), em local proibido (3), sem atenção (1), sem usar a seta (1), ocupando faixa de pedestres (11), dando ré em via movimentada (1) e ameaçando outros veículos e pedestres (3).
O levantamento foi feito a partir das placas dos veículos informadas ao GLOBO pela prefeitura. Segundo a Secretaria de Transportes, dos nove ônibus, dois acumulam ainda três multas pelo código disciplinar da secretaria, que pune, por exemplo, a má conservação. Um deles, o ônibus da linha 591 (São Conrado-Leme), placa KVN-9049, da Viação Translitorânea, está com os licenciamentos anuais da secretaria e do Detran vencidos desde 2011, mesmo ano em que foi emplacado. O ônibus acumula 97 multas em um ano e quatro meses.
O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osorio, disse ontem que o ranking levantado pelo GLOBO é um retrato do comportamento de uma parcela expressiva dos motoristas do Rio. Ressaltando que a categoria tem 18 mil profissionais na cidade e que “não se pode demonizar todos pela atitude de alguns”, o secretário afirmou que o número de infrações e a quantidade de acidentes registrados preocupam a prefeitura.
Para pôr um freio de arrumação no sistema, um decreto publicado na quinta-feira dá um ano para a Rio Ônibus reciclar todos os profissionais. A entidade terá que criar um cadastro informatizado com as fichas dos condutores e a relação de todas as multas já recebidas pelos profissionais. A partir da quantidade de infrações e sua gravidade, os motoristas poderão ser afastados ou até demitidos. O decreto estabeleceu ainda 20 dias para cem guardas municipais começarem a trabalhar na fiscalização dos ônibus, ao lado dos fiscais da Secretaria de Transportes.
A Rio Ônibus disse em nota que o “número de multas precisa ser ponderado, uma vez que os ônibus percorrem uma quantidade de quilômetros superior à dos carros particulares”. A entidade argumenta ainda que tem investido em educação e que enfrenta problemas de oferta de mão de obra. “Os motoristas de ônibus são recrutados no seio da população e apresentam, de modo geral, as mesmas virtudes e vícios do conjunto de nossa sociedade.” A entidade disse ainda que infrações e acidentes devem “ser contextualizados, uma vez que este não é um problema isolado dos motoristas de ônibus”. A Rio Ônibus reclamou ainda da carência de vias preferenciais e defende que iniciativas como BRS e BRTs sejam ampliadas.

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