19 de jan. de 2013

James May testa o McLaren 12C Spider

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Nunca compreendi direito as inúmeras acusações de falta de viveza lançadas ao supercarro da McLaren, o MP4-12C. Eu acho que elas são fruto de convenções culturais.

Diz-se que o fenômeno do Supercarro – ou seja, o supercarro italiano – tem um preço; um preço que para aqueles de nós que entraram neste clube seleto aceitam como um ritual de aceitação. Nós até nos vangloriamos disso. Supercarros vêm com porta-malas ridículos, pontos cegos chocantes, falta de ritmo a baixas velocidades, listas de opcionais estúpidas, transmissões peculiares, contas de oficina assustadoras após pequenos incidentes rodoviários, comandos ilógicos, e por aí vai. O McLaren não oferece nada disso, e portanto ele deve ser “um pouco tedioso”.

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Mas espere um pouco. “Meu supercarro é ótimo de dirigir, funciona perfeitamente e é fácil de manter” não é o que um simplório diz num pub. Há um prazer profundo e largamente desconhecido em ter um verdadeiro carro de alta performance que funciona exatamente como a propaganda diz. E mesmo assim, ele não funciona tão perfeitamente, mas trataremos disso depois.
Enquanto acelero pelas mais altas vias pavimentadas da Europa em Sierra Nevada, lembrei-me de tudo que achei profundamente gratificante na McLaren quando a dirigi pela primeira vez, no Top Gear da TV. A fidelidade dessas trocas de marcha, todos os controles com a mesma pressão ao toque, a facilidade de guiá-lo em alta velocidade, a maneira inteligente como dá para reconfigurar o rendimento do motor e o ajuste do chassi separadamente. É tudo uma beleza. É legal zombar do Ron Dennis e de sua constante busca por perfeição, mas quer saber? Ele pode estar no caminho certo.
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E agora, como normalmente diríamos no caso do Dacia Sandero, há BOAS NOTÍCIAS! O McLaren MP4-12C foi melhorado. Primeiro, ele agora está disponível em formato Spider, com um teto rígido dobrável. Como o carro foi concebido do zero para ser assim, não houve perdas na rigidez ou no espaço para bagagens, e o peso acrescido pelos vários motores e alavancas que realizam a transformação foi de apenas 40 kg. O teto, que pode ser erguido com o carro andando a até exatos 40 km/h, é um dos mais rápidos do mercado, e ele retrai-se completamente em apenas 17 segundos. A temperatura ambiente aparentemente tem um impacto pequeno no tempo exato, e eu realmente não sei porquê, mas estou muito impressionado que eles estejam numa posição para me dizerem isso. Este povo é bem meticuloso.
O nome também mudou. Ao reconhecerem que MP4-12C soava um pouco como um daqueles componentes atualizáveis de um PC, a McLaren chama o carro simplesmente de 12C. Então isto agora é um McLaren 12C Spider. Despois de um tempo e de uma boa dose de confiança – e porque este é o único carro que a companhia monta neste momento – ele logo será conhecido como McLaren Spider. O carro normal será simplesmente “o McLaren”.
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A maneira boba e levemente ritualista de abrir as portas também se foi. Agora há um discreto botão para abri-las, e funciona sempre, poupando-o do embaraço de contorcer-se feito um mímico incompetente realizando um ato sobre um iPhone gigante invisível. Esta mudança, aparentemente, foi “uma resposta a pedidos dos clientes”; provavelmente o pedido foi: “Por favor se livrem desse estúpido sistema de abertura das portas ou irei comprar um Lamborghini”.
Tem mais. A potência saltou de 600 para 624 cavalos, o som do escapamento pode ser alterado independentemente do ajuste escolhido no seletor de potência, e o software do câmbio foi levemente ajustado para ter reações ainda mais sinápticas. O 12C Spider, no entanto, tem uma velocidade máxima 1,6 km/h mais lenta do que o cupê, o que deve ter deixado o Ron Dennis acordado por vários meses.
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Finalmente, e após mais de um ano de pesquisa e de desculpas, o tela touchscreen central agora tem GPS incorporado. Esta é uma das coisas sobre as quais queria falar, como havia prometido.
O GPS da McLaren tem sido a lição de Matemática do mundo dos supercarros, de várias maneiras. Determinada em desenvolver seu próprio software ao invés de comprar sistemas já existentes, isso sem dúvida envolveu um monte de Matemática. E, como todas as lições de Matemática que eu já fiz, ele não está completo.
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Não é o fato dele às vezes travar e me deixar resolutamente em um vilarejo, apesar de eu ter disparado para as montanhas faz tempo. O ângulo da tela é tal que com o teto abaixado e o sol acima de minha cabeça, eu simplesmente não conseguia enxergá-lo. Isto significa que você precisa cobri-la com uma mão para poder compreender as instruções, deixando-o sem mão nenhuma para tocar na tela. E enquanto o resto da interface eletrônica é mais simples e lógica do que o de uma Ferrari 458, o GPS é complicado.
Eu realmente não quero me prolongar muito sobre isto. Sim, eu quero. Desenvolver o seu próprio software de navegação em um mundo já saturado com excelentes softwares de navegação é meio como tentar cozinhar sua própria comida indiana. Demora séculos, e ainda fica horrível quando comparado com a comida do restaurante mais próximo.
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Ainda assim, é bom saber que até mesmo Ron Dennis é falível, e que mesmo o seu supercarro pode ter falhas exclusivas de supercarros. Apesar de existir a chance dele ter feito isto para deliberadamente confundir os seus críticos.
Outra questão é que a turbulência ao redor do apoio para cabeça é um tanto extrema a altas velocidades. Outra é que, devido à maneira como a porta se abre e à inclinação do pára-brisas, é estranho entrar e sair de qualquer 12C. Eu completarei 50 anos daqui a uns meses, e há muito eu reconheci que eu estava velho demais para dirigir um conversível com qualquer dignidade. Agora estou começando a parecer velho demais para sair de um com qualquer dignidade, ou mesmo com qualquer impressão de senso de equilíbrio. A força que eu antes tinha quando mais jovem está se esvaindo, e é deprimente descobrir como dirigir um supercarro deixa isso tão evidente.
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Enfim. Estamos subindo as montanhas, e ninguém poderia enxergar o meu pênis se eu estivesse dirigindo este carro com o teto abaixado, e, de acordo com minhas próprias regras, isso significa que posso abaixar o teto. Assim que ele está abaixado, o tampão atrás dos bancos pode ser erguido de novo para revelar um segundo porta-malas. O vidro vertical entre os bancos pode ser erguido e abaixado indepentendemente. Abaixe-o, mas levante os vidros laterais se estiver dirigindo rápido. Isto parece amenizar a turbulência dentro da cabine.
O aquecedor é uma beleza, assim como os bancos aquecidos. Lá vamos nós, então. Seleciono trocas de marchas manuais, ajusto o chassi e a potência para os modos Sport e Track respectivamente, e o McLaren 12C Spider ganha vida e vigor instantaneamente.
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O que gostei mais sobre o 12C é que ele é fácil de dirigir. É provavelmente o supercarro mais benigno que já testei. De novo, alguns gostariam de serem admirados por sua coragem em domar uma Ferrari GTO ou o exigente Aventador, mas não ligo para isso. Eu posso desafiar-me tentando aprender a tocar violino. Isto é um carro divertido e eu quero me divertir. E me diverti.
A princípio, e após ter saído de uma 458, eu achei que a direção do McLaren ficou ainda mais rápida e mais nervosa. Mas logo sou assegurado de que nada foi mudado mecanicamente, então acho que deve ser o ar me afetando.
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O que definitivamente mudou foi o motor, o motivo principal para os reclamões de plantão dizerem que o McLaren era um tanto enfadonho; o pesquisador quantitativo de pé na cozinha da festa dos supercarros. Vários ajustes no mapeamento do motor – só Deus sabe que ajustes são esses, e, para variar, concordo com o Clarkson e eu literalmente não estou interessado – fizeram com que o V8 biturbo latisse com mais ferocidade. O exemplar grunhido em baixa velocidade agora é complementado pelo tipo certo de som – um tanto nefasto, como uma risada de uma rapariga viçosa em uma taverna de uma novela de época. Ou algo do tipo.
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Este motor – e ele está como deveria ser – define o caráter essencial do McLaren e distingue-o perfeitamente da Ferrari 458. Eles são bem diferentes, e ninguém deveria desprezar a operação de Woking como uma tentativa da Grã-Bretanha de ter sua própria Maranello. O mais importante, você já esteve em Woking?
O motor da Ferrari é excitante, áspero e metálico. Ele o encoraja a dirigir com tudo. O motor da McLaren é rouco, e gosta de trocas de marcha rápidas para que ele possa rosnar para você. A Ferrari é como um Terrier um pouco tagarela, o McLaren é como um cão de caça ligeiramente mal-humorado. A Ferrari é dramática, enquanto o McLaren é um pouco mais contido. É ligeriamente mais amigável, apesar de parecer uma proposta mais clínica e acadêmica a princípio.
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Em outras palavras, a experiência na Ferrari é bem “cool” e um tanto artística. É como pilotar uma estátua brilhantemente esculpida. O McLaren é mais como acariciar um ser humano de verdade; é mais quente e confortante. Isto é o oposto do que o preconceito popular sugeriria.
Agora não é mais segredo – embora o homem da McLaren não soubesse, então eu não falei – que eu recentemente comprei uma 458. Mesmo no último minuto, eu imaginei se o McLaren seria a melhor escolha. Eu ainda penso a respeito, e quando um homem tuitou para mim outro dia dizendo que ele encomendou o carro antes conhecido como MP4-12C, não pude dar uma resposta a favor da Ferrari rapidamente. Não tem como. O McLaren é um carro e tanto.
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Eu curti uma daquelas experiências únicas dirigindo pelas montanhas. A estrada cortava a face da montanha com primor, como se tivesse sido feita com um passe de mágica do carpinteiro divino. As nuvens que a previsão do tempo prometeu estavam rolando pelo forte declive à minha direita, movidas pelos famosos ventos de Sierra Nevada. Então a nuvem cruzou a estrada, mas não a cobriu totalmente. Eu encontrei-me dirigindo pelo lado interno e horizontal de um túnel no formato de um triângulo reto de um exercício de Geometria, com os outros dois lados formados pela face da montanha e pela nuvem totalmente branca a menos de 3 metros acima da minha cabeça. Era o equivalente sobre rodas do que eu acho que é conhecido como “tubo” no mundo do surfe. Nunca senti-me tão contente por ter um carro sem teto.
Foi verdadeiramente mágico, e deve ter durado uns dois minutos. Tempo o bastante para imaginar se a experiência poderia ser melhorada por um carro diferente. Para ser honesto, não poderia. O McLaren 12C, em todas suas formas, é tremendo.
Talvez a única coisa que esteja me mantendo em uma Ferrari é que eu posso sair dela mais facilmente.
 TEXTO: James May
FOTOS: Lee Brimble

Fonte: Topgearbr
Disponível no(a): http://topgearbr.wordpress.com/
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