Nunca compreendi direito as inúmeras acusações de
falta de viveza lançadas ao supercarro da McLaren, o MP4-12C. Eu acho
que elas são fruto de convenções culturais.
Diz-se que o fenômeno do Supercarro – ou seja, o
supercarro italiano – tem um preço; um preço que para aqueles de nós que
entraram neste clube seleto aceitam como um ritual de aceitação. Nós
até nos vangloriamos disso. Supercarros vêm com porta-malas ridículos,
pontos cegos chocantes, falta de ritmo a baixas velocidades, listas de
opcionais estúpidas, transmissões peculiares, contas de oficina
assustadoras após pequenos incidentes rodoviários, comandos ilógicos, e
por aí vai. O McLaren não oferece nada disso, e portanto ele deve ser
“um pouco tedioso”.
Mas espere um pouco. “Meu supercarro é ótimo de
dirigir, funciona perfeitamente e é fácil de manter” não é o que um
simplório diz num pub. Há um prazer profundo e largamente desconhecido
em ter um verdadeiro carro de alta performance que funciona exatamente
como a propaganda diz. E mesmo assim, ele não funciona tão
perfeitamente, mas trataremos disso depois.
Enquanto acelero pelas mais altas vias pavimentadas
da Europa em Sierra Nevada, lembrei-me de tudo que achei profundamente
gratificante na McLaren quando a dirigi pela primeira vez, no Top Gear
da TV. A fidelidade dessas trocas de marcha, todos os controles com a
mesma pressão ao toque, a facilidade de guiá-lo em alta velocidade, a
maneira inteligente como dá para reconfigurar o rendimento do motor e o
ajuste do chassi separadamente. É tudo uma beleza. É legal zombar do Ron
Dennis e de sua constante busca por perfeição, mas quer saber? Ele pode
estar no caminho certo.
E agora, como normalmente diríamos no caso do Dacia
Sandero, há BOAS NOTÍCIAS! O McLaren MP4-12C foi melhorado. Primeiro,
ele agora está disponível em formato Spider, com um teto rígido
dobrável. Como o carro foi concebido do zero para ser assim, não houve
perdas na rigidez ou no espaço para bagagens, e o peso acrescido pelos
vários motores e alavancas que realizam a transformação foi de apenas 40
kg. O teto, que pode ser erguido com o carro andando a até exatos 40
km/h, é um dos mais rápidos do mercado, e ele retrai-se completamente em
apenas 17 segundos. A temperatura ambiente aparentemente tem um impacto
pequeno no tempo exato, e eu realmente não sei porquê, mas estou muito
impressionado que eles estejam numa posição para me dizerem isso. Este
povo é bem meticuloso.
O nome também mudou. Ao reconhecerem que MP4-12C
soava um pouco como um daqueles componentes atualizáveis de um PC, a
McLaren chama o carro simplesmente de 12C. Então isto agora é um McLaren
12C Spider. Despois de um tempo e de uma boa dose de confiança – e
porque este é o único carro que a companhia monta neste momento – ele
logo será conhecido como McLaren Spider. O carro normal será
simplesmente “o McLaren”.
A maneira boba e levemente ritualista de abrir as
portas também se foi. Agora há um discreto botão para abri-las, e
funciona sempre, poupando-o do embaraço de contorcer-se feito um mímico
incompetente realizando um ato sobre um iPhone gigante invisível. Esta
mudança, aparentemente, foi “uma resposta a pedidos dos clientes”;
provavelmente o pedido foi: “Por favor se livrem desse estúpido sistema
de abertura das portas ou irei comprar um Lamborghini”.
Tem mais. A potência saltou de 600 para 624 cavalos, o
som do escapamento pode ser alterado independentemente do ajuste
escolhido no seletor de potência, e o software do câmbio foi levemente
ajustado para ter reações ainda mais sinápticas. O 12C Spider, no
entanto, tem uma velocidade máxima 1,6 km/h mais lenta do que o cupê, o
que deve ter deixado o Ron Dennis acordado por vários meses.
Finalmente, e após mais de um ano de pesquisa e de
desculpas, o tela touchscreen central agora tem GPS incorporado. Esta é
uma das coisas sobre as quais queria falar, como havia prometido.
O GPS da McLaren tem sido a lição de Matemática do
mundo dos supercarros, de várias maneiras. Determinada em desenvolver
seu próprio software ao invés de comprar sistemas já existentes, isso
sem dúvida envolveu um monte de Matemática. E, como todas as lições de
Matemática que eu já fiz, ele não está completo.
Não é o fato dele às vezes travar e me deixar
resolutamente em um vilarejo, apesar de eu ter disparado para as
montanhas faz tempo. O ângulo da tela é tal que com o teto abaixado e o
sol acima de minha cabeça, eu simplesmente não conseguia enxergá-lo.
Isto significa que você precisa cobri-la com uma mão para poder
compreender as instruções, deixando-o sem mão nenhuma para tocar na
tela. E enquanto o resto da interface eletrônica é mais simples e lógica
do que o de uma Ferrari 458, o GPS é complicado.
Eu realmente não quero me prolongar muito sobre isto.
Sim, eu quero. Desenvolver o seu próprio software de navegação em um
mundo já saturado com excelentes softwares de navegação é meio como
tentar cozinhar sua própria comida indiana. Demora séculos, e ainda fica
horrível quando comparado com a comida do restaurante mais próximo.
Ainda assim, é bom saber que até mesmo Ron Dennis é
falível, e que mesmo o seu supercarro pode ter falhas exclusivas de
supercarros. Apesar de existir a chance dele ter feito isto para
deliberadamente confundir os seus críticos.
Outra questão é que a turbulência ao redor do apoio
para cabeça é um tanto extrema a altas velocidades. Outra é que, devido à
maneira como a porta se abre e à inclinação do pára-brisas, é estranho
entrar e sair de qualquer 12C. Eu completarei 50 anos daqui a uns meses,
e há muito eu reconheci que eu estava velho demais para dirigir um
conversível com qualquer dignidade. Agora estou começando a parecer
velho demais para sair de um com qualquer dignidade, ou mesmo com
qualquer impressão de senso de equilíbrio. A força que eu antes tinha
quando mais jovem está se esvaindo, e é deprimente descobrir como
dirigir um supercarro deixa isso tão evidente.
Enfim. Estamos subindo as montanhas, e ninguém
poderia enxergar o meu pênis se eu estivesse dirigindo este carro com o
teto abaixado, e, de acordo com minhas próprias regras, isso significa
que posso abaixar o teto. Assim que ele está abaixado, o tampão atrás
dos bancos pode ser erguido de novo para revelar um segundo porta-malas.
O vidro vertical entre os bancos pode ser erguido e abaixado
indepentendemente. Abaixe-o, mas levante os vidros laterais se estiver
dirigindo rápido. Isto parece amenizar a turbulência dentro da cabine.
O aquecedor é uma beleza, assim como os bancos
aquecidos. Lá vamos nós, então. Seleciono trocas de marchas manuais,
ajusto o chassi e a potência para os modos Sport e Track
respectivamente, e o McLaren 12C Spider ganha vida e vigor
instantaneamente.
O que gostei mais sobre o 12C é que ele é fácil de
dirigir. É provavelmente o supercarro mais benigno que já testei. De
novo, alguns gostariam de serem admirados por sua coragem em domar uma
Ferrari GTO ou o exigente Aventador, mas não ligo para isso. Eu posso
desafiar-me tentando aprender a tocar violino. Isto é um carro divertido
e eu quero me divertir. E me diverti.
A princípio, e após ter saído de uma 458, eu achei
que a direção do McLaren ficou ainda mais rápida e mais nervosa. Mas
logo sou assegurado de que nada foi mudado mecanicamente, então acho que
deve ser o ar me afetando.
O que definitivamente mudou foi o motor, o motivo
principal para os reclamões de plantão dizerem que o McLaren era um
tanto enfadonho; o pesquisador quantitativo de pé na cozinha da festa
dos supercarros. Vários ajustes no mapeamento do motor – só Deus sabe
que ajustes são esses, e, para variar, concordo com o Clarkson e eu
literalmente não estou interessado – fizeram com que o V8 biturbo
latisse com mais ferocidade. O exemplar grunhido em baixa velocidade
agora é complementado pelo tipo certo de som – um tanto nefasto, como
uma risada de uma rapariga viçosa em uma taverna de uma novela de época.
Ou algo do tipo.
Este motor – e ele está como deveria ser – define o
caráter essencial do McLaren e distingue-o perfeitamente da Ferrari 458.
Eles são bem diferentes, e ninguém deveria desprezar a operação de
Woking como uma tentativa da Grã-Bretanha de ter sua própria Maranello. O
mais importante, você já esteve em Woking?
O motor da Ferrari é excitante, áspero e metálico.
Ele o encoraja a dirigir com tudo. O motor da McLaren é rouco, e gosta
de trocas de marcha rápidas para que ele possa rosnar para você. A
Ferrari é como um Terrier um pouco tagarela, o McLaren é como um cão de
caça ligeiramente mal-humorado. A Ferrari é dramática, enquanto o
McLaren é um pouco mais contido. É ligeriamente mais amigável, apesar de
parecer uma proposta mais clínica e acadêmica a princípio.
Em outras palavras, a experiência na Ferrari é bem
“cool” e um tanto artística. É como pilotar uma estátua brilhantemente
esculpida. O McLaren é mais como acariciar um ser humano de verdade; é
mais quente e confortante. Isto é o oposto do que o preconceito popular
sugeriria.
Agora não é mais segredo – embora o homem da McLaren
não soubesse, então eu não falei – que eu recentemente comprei uma 458.
Mesmo no último minuto, eu imaginei se o McLaren seria a melhor escolha.
Eu ainda penso a respeito, e quando um homem tuitou para mim outro dia
dizendo que ele encomendou o carro antes conhecido como MP4-12C, não
pude dar uma resposta a favor da Ferrari rapidamente. Não tem como. O
McLaren é um carro e tanto.
Eu curti uma daquelas experiências únicas dirigindo
pelas montanhas. A estrada cortava a face da montanha com primor, como
se tivesse sido feita com um passe de mágica do carpinteiro divino. As
nuvens que a previsão do tempo prometeu estavam rolando pelo forte
declive à minha direita, movidas pelos famosos ventos de Sierra Nevada.
Então a nuvem cruzou a estrada, mas não a cobriu totalmente. Eu
encontrei-me dirigindo pelo lado interno e horizontal de um túnel no
formato de um triângulo reto de um exercício de Geometria, com os outros
dois lados formados pela face da montanha e pela nuvem totalmente
branca a menos de 3 metros acima da minha cabeça. Era o equivalente
sobre rodas do que eu acho que é conhecido como “tubo” no mundo do
surfe. Nunca senti-me tão contente por ter um carro sem teto.
Foi verdadeiramente mágico, e deve ter durado uns
dois minutos. Tempo o bastante para imaginar se a experiência poderia
ser melhorada por um carro diferente. Para ser honesto, não poderia. O
McLaren 12C, em todas suas formas, é tremendo.
Talvez a única coisa que esteja me mantendo em uma Ferrari é que eu posso sair dela mais facilmente.
TEXTO: James MayFOTOS: Lee Brimble
Fonte: Topgearbr
Disponível no(a): http://topgearbr.wordpress.com/
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