Muitos pilotos amadores passam anos discutindo ângulos de escorregamento e forças laterais, achando que isso os faz parecer pilotos muito, muito rápidos. Eles fazem afirmações sem pé nem cabeça, do tipo “para realmente aperfeiçoar a técnica de viragem da curva cinco você deve determinar o raio da curva e a carga estrutural produzida, levando em conta um ângulo de escorregamento desejável de 12 graus…”e blá blá blá. Que imensa quantidade de baboseiras.
Eu ouço esse tipo de “nerdisse” leiga o tempo todo. Por leiga, eu não estou dizendo que o que estão dizendo está errado – tenho certeza que eles eram estudantes que só tiravam 10 em física no colegial – mas que todo esse papo é irrelevante quando o assunto é dirigir rápido. Eu também sei que alguns de vocês que estão lendo isso devem estar me chamando de palhaço, e defendendo em alto e bom som que ângulos de escorregamento vencem, sim, corridas e que eu não tenho ideia do que estou dizendo.
Todos esses cálculos e fórmulas devem ser bastante importantes para quem projeta carros, pneus e componentes mecânicos a partir de uma folha em branco, e eu admiro bastante o trabalho desse pessoal. Dependo deles, na real. Mas a verdade é que nenhum dos grandes pilotos – de qualquer categoria do automobilismo – se importa com todo esse papo de ângulos e raios de curva. Literalmente nenhum. Veja bem, dirigir rapidamente não quer dizer aperfeiçoar ângulos e basear linhas de curva na relação dos raios contra o que quer que seja. Tem muito mais a ver com as sensações que você tem intuitivamente. Eu sei que pode parecer clichê, mas é verdade. É útil entender as leis básicas da física sobre o movimento? Certamente. Os melhores pilotos entendem os mecanismos de um carro e como fazê-lo ir mais rápido, mas não têm necessidade de traduzir toda essa física para os aspectos reais da pilotagem. Essa parte é feita usando a intuição, o talento e a experiência.
Vamos usar o golfe como exemplo. Você joga uma partida e começa acertando boas tacadas enquanto está só aproveitando o esporte e se divertindo. Aí, você percebe que está com uma ótima pontuação no jogo, e começa a analisar as variáveis da trajetória da bola e do arco do seu corpo antes da tacada. O que acontece? Você sistematicamente erra cada tacada, pois começou a pensar demais. É óbvio que você precisa de uma boa base de conhecimento técnico sobre o que está tentando fazer, mas é necessário simplificar seu raciocínio, não complicá-lo.
Nas corridas, isso é até mais crucial porque o conhecimento técnico não é nem de longe tão importante quanto é para o golfe. Acertar uma pequena bolinha com um taco fino e conseguir encaixá-la num buraco minúsculo a milhares de quilômetros envolve muito mais técnica do que pilotar um carro por um circuito de maneira rápida.
Aqueles que proclamam precisar de equações enormes e malucas para perfazer uma curva de maneira rápida, geralmente o fazem para mascarar o fato de que eles têm tanto talent para a pilotagem quanto o Nicholas Cage tem para ser ator.
Pois bem…Já falei sobre todas as bobeiras que você não precisa saber para dirigir rápido. Aqui está o que você precisa saber:
Pense em seu carro como se fosse uma banheira cheia de água. Quando você frear, o que irá acontecer com toda a água? Ela é arremessada para a frente da banheira. Quando você acelerar, ela vai com toda a força para a traseira. À medida que você virar para a direita, a água esparramará para a esquerda, e o contrário acontece quando você fizer uma curva para a esquerda.
É bem simples na verdade, mas é exatamente o que acontece com um carro quando ele acelera, freia e faz curvas. O peso está constantemente mudando e quando todo ele está na dianteira, a traseira está totalmente leve. Nosso objetivo principal nas curvas é tentar manter a base do carro (ou a água da banheira) o mais estável que der. Quando brecamos, é claro que o peso é todo transferido rapidamente para a frente. Mas quando soltamos o pedal do freio gentil e consistentemente nós podemos diminuir transferências agressivas de peso, o que causa a desestabilização do carro.
O mesmo vale para fazer curvas. Imagine que se você virar muito bruscamente, a água da banheira vai derramar, espirrar e simplesmente não irá estabilizar. Se você entrar na curva de maneira suave, a água irá cair para o lado oposto da banheira de maneira gradual. A ideia é que o mesmo ocorra em nossos carros de corrida – um fornecimento de peso gradual para que os pneus não percam aderência. Algumas vezes nós viramos um pouquinho antes e só com uma fração de bloqueio da direção. Isso melhora a transferência de peso inicial para os pneus do lado oposto antes que começemos o movimento completo da curva. Isso realmente ajuda no equilíbrio do carro na entrada da curva.
No meio da curva (principalmente se for uma grande curva), é muito importante que a água da banheira esteja o mais estável possível no sentido vertical. Novamente, isso ajuda a manter o carro equilibrado e a base firme.
Se você compreende e está intimamente afinado com o movimento e o arremesso do seu carro, e como isso afeta a distribuição de peso e a carga nos pneus, você matou a charada. Todo o resto é nerdisse desmesurada. Ignore. Caso contrário, você estará desperdiçando neurônios e complicando o que, na realidade, é bem simples. Entender o básico, treinar o básico e ter o talent para executar corretamente esse básico é tudo o que os melhores pilotos do mundo fazem.
Então da próxima vez que um nerd lhe contar que ele conseguiu tirar um segundo de seu tempo de volta ao concentrar-se somente nos tais 12 graus de ângulo de escorregamento, mande ele ir tomar banho.
Sobre o autor: @Alex_Lloyd começou a pilotar profissionalmente nos Estados Unidos em 2006. Um ano depois, ele venceu o campeonato da Indy Lights. Disputou duas vezes a prova das 24 horas de Daytona e quatro vezes as 500 milhas de Indianapolis – em 2010, chegou em quarto lugar. Nativo da louca Manchester, na Inglaterra, ele começou a pilotar karts aos oito anos de idade, monopostos aos 16 e em 2003 ficou com a segunda colocação no disputado campeonato britânico da Fórmula Renault, atrás apenas de um certo Lewis Hamilton, amigo próximo de Alex. Logo depois representou o time da Grã Bretanha no A1 Grand Prix e disputou algumas provas no campeonato de Fórmula 3000. Atualmente reside em Indianapolis com sua esposa Samantha (também inglesa) e os três filhos nascidos e criados nos Estados Unidos. Ele ainda compete em provas de triatlon e é um ávido defensor do ‘chá das seis’ inglês.
Fonte: Jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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