Confesso que fiquei muito feliz com a série de comentários e emails perguntando: “pô, cadê os outros posts da série sobre o Museu da TAM?”.
Sinal de que a galera também curte os aviõezinhos, como eu. Dessa vez,
vamos olhar em detalhes os caças e treinadores operados pela humilde mas
gloriosa Força Aérea Brasileira.
Comecemos pelo inglês Gloster Meteor, o primeiro avião a jato operado
pela FAB, a partir de 1953. Foi uma inovação radical, mas um pouco
tardia. O primeiro Meteor havia voado dez anos antes, em 1943, em meio à
corrida tecnológica que os Aliados disputavam frente aos geniais
engenheiros alemães durante a Segunda Guerra. Tornou-se o segundo jato
operacional da história, atrás apenas do Messerchmitt Me 262, e seriam dos poucos aviões capazes de abater as bombas voadoras V1 que aterrorizaram a população inglesa no final do conflito.
No início da Guerra Fria, quando a cada 12 meses os parâmetros de
aviões de combate mudavam radicalmente, o Gloster Meteor tornou-se
obsoleto com certa rapidez. Apesar de formar o núcleo da Royal Air Force
e de muitas outras Forças Aéreas aliadas no início da década de 50, não
seria páreo para os MiG-15 durante a Guerra da Coréia. Quando as 62
unidades encomendadas chegaram ao Brasil, em 1953, a Argentina por
exemplo já operava uma versão mais primitiva (o Meteor F4) há cinco
anos.
Mesmo assim, o bimotor representou um salto gigantesco frente aos
P-47 Thunderbolt com motores a pistão, veteraníssimos dos combates na
Itália. Ele permitiu que a FAB atualizasse completamente seus métodos
operacionais, e exigiu uma grande reformulação na infra-estrutura das
bases aéreas onde iria operar.
Os Meteor F8 e TF7 (bipostos de treinamento) são caças-bombardeiros
concebidos durante a Segunda Guerra. Apesar da inovação dos motores a
reação, seu design foi considerado ortodoxo. Possuem asas retas, sem
enflechamento, que abrigam dois turbojatos Rolls-Royce Derwent com 1.588
kg de empuxo cada. Sua máxima de 965 km/h era ótima para a época, porém
o avião não era dos mais ágeis em combate aéreo.
Entre suas qualidades, estava a robustez, a facilidade de operação e o
poder de fogo dos quatro canhões Hispano de 20 mm, complementados por
foguetes e bombas montadas sob as asas. A versão F8 operada pela FAB
trouxe como grande inovação o uso de assentos ejetáveis, possibilitando
ao piloto escapar em caso de pane. Os Meteor voaram no Brasil até 1971,
quando haviam sido superados por pelo menos três gerações de caças.
Antes disso, em meados dos anos 60, a FAB já detectara fissuras nas
asas dos exemplares que equipavam seus esquadrões de primeira linha, e
se viu em apuros, pois não possuía fundos suficientes para adquirir em
regime de urgência nenhum avião de combate moderno. A solução provisória
foi destacar os treinadores Lockheed T-33 Shooting Star para a missão.
Um deles está exposto no Museu da TAM ao lado do Meteor. Mesmo tendo
um projeto alguns anos mais recente, o downgrade em relação ao caça que
ele substituiu fica evidente. O T-33 é um avião menor, mais leve, menos
potente e de performance inferior, impulsionado por um único turbojato
Alisson com 2.449 kg de empuxo.
Seu armamento também é bastante reduzido: duas metralhadores de 12,7
mm montadas no nariz, e uma carga leve de bombas ou foguetes sob as
asas. Na virada dos anos 60 para os 70, a FAB precisava substituir o
T-33 tanto nas missões de caça quanto de treinamento. Para isso, dois
processos foram iniciados. Um era a aquisição dos modernos supersônicos
Mirage III sobre o qual falaremos mais adiante. O outro foi a produção
sob licença do jato de treinamento Aermacchi MB-326, que aqui seria
conhecido como Xavante.
Nada menos que 166 exemplares do rebatizado EMB-326 GB Xavante
(AT-26, na nomeclatura da FAB) foram produzidas pela então nascente
Embraer. O modelo tornou-se um dos treinadores mais populares da segunda
metade do século XX, e teve uma longa e produtiva carreira no Brasil,
formando várias gerações de pilotos de caça e ataque até ser totalmente
substituído em 2010 pelo EMB-314 Super Tucano, o atual orgulho da
aviação militar brasileira, um turbohélice de projeto nacional que
compensa a velocidade e aceleração menores com o fato de ser mais
econômico e possuir aviônicos bem mais modernos.
Voltando ao Xavante, ele é equipado com um turbojato Rolls-Royce
Viper com 1.524 kg de empuxo, e atinge velocidades pouco acima dos 800
km/h. A produção brasileira acabou exportada para a Argentina, o
Paraguai, o Togo e o Zaire. Na Itália, seu país de origem, seria
substituído por uma versão aperfeiçoada, o MB-339, ainda hoje bastante
utilizado.
Uma parte ínfima dos pilotos formados por ele foram direcionados para
o caça que, durante três décadas, representou a elite da defesa aérea
brasileira: o Dassault Mirage III, o delta francês que se tornou
lendário nas mãos dos israelenses em 1967, quando ajudou a varrer dos
céus os MiGs das Forças Aéreas árabes derrotadas por Israel durante a
Guerra dos Seis Dias.
Um lote de 13 caças Mirage IIIE e quatro bipostos de treinamento
Mirage IIID começou a chegar ao Brasil em 1972 para equipar o
recém-criado 1º Grupo de Defesa Aérea sediado em Anápolis (GO), no
centro do país, perto da nova capital federal, Brasília. A versão IIIE
era mais avançada que o interceptador puro IIIC empregado pelos
israelenses, com um nariz alongado para receber o radar Thomson-CSF
Cyrano II com dois modos de operação para missões ar-ar e ar-solo.
Também possuía um segundo radar do tipo Doppler para navegação num
radomo localizado abaixo do cockpit.
O avião que aparece aqui é um dos treinadores IIID, com dois assentos
e sem nenhum dos dois radares. Como as inscrições laterais indicam,
trata-se da unidade que em 1989 foi tripulada pelo piloto mais famoso do
Brasil, um tal de Ayrton Senna. Mais ou menos na mesma época, os
exemplares brasileiros receberam um upgrade estrutural na forma de
canards, pequenas asas auxiliares montadas na região das entradas de ar,
destinadas a melhorar sensivelmente a manobrabilidade e a encurtar o
tamanho das pistas de pouso necessárias para sua operação.
Seu motor é um Atar 9C-3 com pós-combustão, produzindo
impressionantes 6.200 kg de empuxo. Muito mais do que se tornar o
primeiro jato supersônico em operação no Brasil, o Mirage era capaz de
atingir Mach 2.0, ou duas vezes a velocidade do som. A turbina Atar 9C-3
é enorme para os padrões atuais, e pode ser vista à parte no Museu da
TAM, num estande dedicado exclusivamente aos motores dos aviões
expostos.
Como armamento, o Mirage IIIE carrega dois canhões DEFA de 30 mm,
mais uma carga máxima de quatro toneladas de bombas, mísseis, foguetes e
tanques de combustível em cinco pontos de fixação, um sob a fuselagem e
quatro sob as asas. No exemplar das fotos, além dos dois tanques
alijáveis nas asas, é possível observar um terceiro tanque auxiliar
integrado na parte inferior da fuselagem traseira.
Além das 17 unidades da encomenda inicial, a FAB acabaria adquirindo
outros dezesseis aviões usados da Armée de l’Air (Força Aérea Francesa)
ao longo dos anos. Eles foram necessários para repor as perdas
operacionais ao longo do tempo, e que tempo: os Mirage III formaram a
primeira linha de defesa do país ao longo de espantosos 33 anos.
A marca é um tributo à competência dos técnicos brasileiros, mas ao
mesmo tempo uma mostra do descaso de vários governos: nos últimos dez
anos, a utilidade desses caças na arena de combate atual já era
praticamente nula. Além disso, manter em operação um caça tão antigo,
com linhas de suprimento já extintas, custa muito mais caro (e dá muito
mais trabalho) do que operar um avião moderno.
De qualquer forma, a visão de um Mirage III é sempre inspiradora.
Trata-se da síntese da aerodinâmica perfeita e pura, um interceptador
cuja missão basicamente era decolar, ascender o mais rápido possível,
encontrar seu alvo e apertar o gatilho. Na FAB, ele seria substituído em
2005 por seu sucessor na linha de montagem da Dassault, o Mirage 2000C.
Os próximos posts a respeito do Museu da TAM serão menores e mais
curiosos, mas igualmente imperdíveis para quem valoriza a audácia das
máquinas voadoras. Aguardem!
Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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Um comentário:
Hoje achei seu blog enquanto procurava sobre o Meteor. Sou da cidade de Goiânia e tive o prazer de ver desde pequeno um destes exemplares que era um monumento na praça do aeroporto. Inclusive entrar nele, apesar de apenas a carcaça quando vi os comandos por cabo de aço imaginava a força que os caras tinham que fazer. Perdemos o avião, pelo que soube a falta de interesse política levou a FAB a resgata-lo Hoje penso que talvez seja ele nesta exposição e fico feliz. Um abraço.
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