18 de fev. de 2012

F-1-GP de Ímola, 1985: muita emoção e nenhum combustível



Thierry Boutsen empurra sua Arrows pela reta de chegada após ficar sem combustível
Uma corrida em que Stefan Johansson, um até então desconhecido piloto para os tifosi italianos, só não fez chover em sua segunda disputa pela Ferrari. O GP de San Marino de 1985 em Ímola foi recheada de surpresas em seu final, com um nível de consumo de combustível elevadíssimo que sucumbiu com as chances de vários pilotos.

Nas 56 das 60 voltas do Grande Prêmio de San Marino, a terceira etapa do Campeonato Mundial de Fórmula 1 de 1985, a corrida foi estonteante. Emoção, ultrapassagens, muitos pegas e escapes expelindo bolas de fogo. Nas últimas quatro voltas, transformou-se em uma corrida de reza e de total loteria.
Os anuários de Fórmula 1, as revistas e jornais de época e os sites atuais dão Elio de Angelis como o grande vencedor GP. Uma meia-verdade. Ele sequer liderou uma curva da prova. Mas como se sagrou o vencedor então?

Não dá para encher mais? Poucos mililitros seriam preciosos ao final da prova
Com uma distância de mais 303 quilômetros percorridos subindo e descendo ladeiras e rasgando longas retas com total aceleração, o GP de San Marino começava com um ponto de interrogação: será que os carros equipados com motores turbo seriam capazes de chegar até o final da prova com combustível em seus tanques? Essa era a maior dúvida que pairava sobre o paddock.
Para complicar ainda mais a situação, uma chuva que caiu sábado e domingo de manhã deixou a pista escorregadia e suscetível a deslizes que queimavam ainda mais gasolina. Para a cereja do bolo, tínhamos um tempo fechado porém seco na hora da corrida. Ou seja, uma mistura perfeita para que os carros pudessem alcançar as maiores velocidades possíveis, dizimando tudo o que tinham em seus tanques.
Depois de vencer sua primeira prova na carreira na etapa anterior em Portugal, Ayrton Senna vinha com muita moral a bordo de sua Lotus John Player Special preta e dourada. Ele pegaria a pole position com o sensacional tempo de 1min27s327, menos de 30 milésimos mais rápido que a Williams Honda de Keke Rosberg, campeão mundial de 1982.
Em sua segunda corrida pela Ferrari, Stefan Johansson começou destruindo a concorrência. Aquela parecia ser um começo e tanta do sueco que chegou para substituir Renè “cara-de-maluco” Arnoux. Logo nas primeiras sessões de treinos livres  fez bons tempos, mas quando a coisa era para valer… uma sequência de azares atormentou sua vida nos treinos oficiais. Eram pilotos mais lentos rodando em sua frente e motores que falhavam em momentos importantes da volta. O resultado foi uma péssima 15ª posição de largada para ele. Michele Alboreto, seu companheiro de equipe, partia em quarto.

Pilotos contornam a Tosa após passarem pelas velocíssimas Tamburello e Villeneuve
Senna fez uma largada perfeita, como estava acostumado. Segurou o ímpeto da concorrência e saiu acelerando tudo rumo a Tamburello. Quem se deu mal foi Rosberg, que largando na segunda posição já havia caído para quinto após a Tosa. Senna era seguido por Elio De Angelis, depois Alboreto e Prost.
Elio até tentou algo no início da prova, mas seu carro tinha uma peça (fundamental) diferente do carro de Senna: seu motor era o eficiente EF15, enquanto Ayrton pilotava um potente, mas beberrão EF4. De Angelis não conseguia colocar pressão em Senna.
E nem se defender muito. Michele Alboreto com uma Ferrari muito rápida e empurrado pela torcida local, se atrevia e ultrapassava o “Cavaleiro Negro”, como era chamado. E já com um carro vermelho no encalce, Senna se viu mais pressionado.

Elio de Angelis enfileira adversários: Michelo Alboreto, Alain Prost e Keke Rosberg
Mas para desespero da Ferrari, Alboreto começou a perder rendimento em seu carro. Seu motor dava sinal de desgastes e ele pararia nos boxes pela primeira vez. Em um pit de mais de 30 segundos, suas chances de vitória foram aniquiladas.
Enquanto isso, o professor Alain Prost ultrapassava Elio e partia para a caça de Senna. Foram 30 voltas em que o francês ficou atrás do brasileiro. Ora com ação suficiente para passar (mas sem bolas, prefiro dizer), ora poupando equipamento para não haver problemas de combustível ao final da prova.
Mas você deve estar se perguntando, cadê esse tal de Johansson? Largando em 15º, na 19ª volta já estava na zona de pontuação e subia pelas tabelas como um desvairado. Segundo seus relatos ao fim da prova “Usei meu boost até a metade da corrida. Depois disso, pilotei com muita agressividade para manter minha escalada”.

O sueco Stefan Johansson fez uma das provas mais fantásticas de sua carreira
Johansson foi aniquilando seus concorrentes um a um. Só começou a encontrar um pouco mais de dificuldade quando topou com De Angelis pela frente. Mas passou. Quando viu a briga de Nelson Piquet com Thierry Boutsen à sua frente, não hesitou. Contornou a Tosa por fora, segurou firme no volante, se posicionou atrás da Arrows do belga, cravou o pé ladeira acima, passou os dois e foi ovacionado pelos milhares de torcedores postulados ao lado da pista. Era uma ultrapassagem fantástica do mais novo garoto prodígio ferrarista.
Com gritos de Ste-fan, Ste-fan, Ste-Fan por todas as curvas, o sueco não se intimidou com quem encontraria pela frente. Alain Prost não foi páreo para o ímpeto do sueco, que a seis voltas do fim já se encontrava em segundo lugar após ter largado lá de trás.
A cinco voltas do fim, Johansson estava sete segundos atrás de Senna; na volta seguinte já diminuía a diferença para cinco. Os tífosi locais foram à loucura. E teria mais!

Ayrton Senna liderou todas as voltas até ficar sem combustível na parte final da prova
Senna, pouco antes de completar 56ª volta no total de 60, balançou seu carro. Era sinal que seu motor Renault tinha bebido além da conta. E logo na frente da maior parte da torcida, a câmera focaliza Senna em frangalhos e Johansson a toda! O sueco encaminhava-se para sua primeira vitória na carreira logo em sua segunda corrida pela Ferrari. E tudo isso dentro da Itália!
Só que alegria de pobre sueco realmente dura pouco. Trinta segundos após assumir a ponta, seu 156/85 também começa a engasgar e ele encosta. Era o fim de um sonho a apenas três votas do fim. Lágrimas escandinavas certamente rolaram por dentro de seu capacete.
Naquele momento quem herdava a ponta era Prost, com De Angelis em segundo. Seu motor mais econômico que o de Senna aparentemente não tinha problemas de combustível. E com a pane seca de Nelson Piquet e sua Brabham, quem figurava em uma heroica terceira posição era Thierry Boutsen.
Nas últimas duas voltas, Prost se fez valer da diferença aberta para De Angelis e apenas navegou até o final em primeiro, mas quando estava para cruzar a linha de chegada, deparou-se com uma cena pouca vista. Boutsen já se encontrava sem combustível, e para se segurar na terceira posição, desceu e empurrou sua Arrows A8 rumo à linha de chegada, debaixo de muitos aplausos. Em quarto, e com sua caquética Renault, aparecia Patrick Tambay.

Alain Prost ergueu o troféu, mas quem levou os 9 pontos pela vitória foi De Angelis
Na volta de retorno aos boxes, o motor Tag Porsche secou o tanque pela primeira vez desde o início da parceria com a McLaren. Prost ficaria a pé. Teria que ser apanhado por Tambay para retornar aos boxes.
Agora o mais pitoresco. Por ter ficado zerado de combustível, seu carro não passou no exame de teste de mínimo de peso exigido pela FISA ao final das corridas. Prost pesou apenas dois quilos a menos que o permitido, por isso foi posteriormente desclassificado.
Elio de Angelis conquistaria a vitória na prova em que ele sequer liderou ou ergueu o troféu. Foi o segundo e último triunfo de sua carreira na F1. Infelizmente, ele faleceria num acidente em Paul Ricard no ano seguinte enquanto testava uma Brabham, história que já contamos aqui  em posts anteriores.
Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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