11 de jun. de 2011

Inspeção veicular: uma esperança para os antigos



Depois do fracasso da placa amarela, mais uma esperança surgiu aos paulistanos que são donos de antigos e não possuem placa preta. Há alguns dias, o deputado estadual Itamar Borges propôs na Assembléia Legislativa de SP uma emenda à lei que instituiu a Inspeção Veicular; pesadelo de dez entre dez antigomobilistas sem a placa preta (que libera o veículo dos testes).

Nela, o Deputado propõe que sejam liberados da inspeção todos os antigos que sejam filiados a clubes credenciados pelo DENATRAN, porque estes não são utilizados como veículos de transporte comuns. De um lado, comemoram os antigomobilistas que não fazem parte da cúpula de elite, de outro, resmungam aqueles que temem pela circulação de Fuscas, Chevettes e Kombis caindo aos pedaços.
Bem, é hora de colocarmos alguns pingos nos i’s.
Vamos começar pelo começo: em itálico, segue o texto divulgado pela assessoria de imprensa de Itamar Borges. Depois, faço a minha análise do documento, e finalizo com algumas reflexões sobre os erros da inspeção veicular, e os chorões, cegos e os corruptos.
Para o deputado Itamar Borges (PMDB), o Projeto de Lei 1.187/2009, doExecutivo que institui o Programa Ambiental de Inspeção e Manutenção deVeículos em Uso no Estado de São Paulo precisa ter aprovada emenda desua autoria na ocasião em que for incluído na pauta de discussão e votação daAssembleia Legislativa.
A emenda tem por objetivo sanar uma omissão na lei, qual sejam os veículosantigos de coleção e filiados a clubes oficiais de carros antigos.
“Esses veículos devido ao tempo que foram fabricados não podem sersubmetidos aos mesmos testes de emissão de poluentes que um carro novo.Geralmente os carros antigos são filiados a clubes e circulam apenas paraparticipar de eventos, exposições e, eventualmente, para passeio. Portanto,não podem ser equiparados, nem tratados, como um veículo de utilizaçãohabitual” disse o deputado.
“Proponho que sejam isentos de inspeção os veículos que são relíquias, quepertencem a colecionadores e a clubes oficiais credenciados no DENATRAN.Se o projeto não tiver esta emenda, os referidos veículos não passarão nainspeção ou, se passarem, terão de se adequar às exigências legais, o que vaidescaracterizá-los” justificou.
Leia na íntegra a emenda do deputado Itamar Borges:
Emenda ao Projeto de lei nº 1187, de 2009
Trata da isenção dos Veículos de Coleção e dos Veículos Filiadosa Clubes Oficias de Carros Antigos
Acrescente-se ao Projeto de Lei nº 1187, de 2009 o seguinte § 1º,no artigo 2º:
Artigo 2º -…
§ 1° – Ficam Isentos da Inspeção de que trata o “caput” desteartigo, os Veículos de Coleção e os veículos filiados a clubesoficiais de carros antigos credenciados junto ao Denatran.
Itamar Borges
Deputado Estadual

Bem, onde assino? A idéia é muito bacana, o argumento é bom, mas Borges poderia ter pesquisado um pouquinho mais antes de declarar “esses veículos, devido ao tempo que foram fabricados, não podem ser submetidos aos mesmos testes de emissão de poluentes que um carro novo“, para que sua proposta não perca credibilidade.
Os valores de emissão para os carros fabricados antes de 1980 são diferentes na inspeção veicular. Para estes, a tolerância para a emissão de CO (gás carbônico) é de 6%; e nos veículos posteriores a este período, o valor vai baixando cada vez mais, até chegarmos nos abusivamente rigorosos 0,3% de carros de 2006 em diante – que têm levado à reprovação muitos automóveis praticamente 0km, em perfeito estado.
Os problemas são outros. Primeiro: 6% é muito pouco para um antigo. Há registros de testes feitos pela Robert Bosch do Brasil, com um equipamento EFAW-173, que aferiu 10% de CO na marcha lenta do Dodge Charger 1971, 9% no Dart, 8,5% no Aero Willys 2600, e assim vai… até o pequenino Fusca 1500 emitiu 7,6%! Isso quando todos estes veículos eram 0km, imagine após trinta anos. Então, baseado em quê, que a turminha da Controlar determinou estes seis por cento? O famoso chutômetro, balizado em uma amostra de meia dúzia de pangarés? Não duvide…
Ah, claro, perfeitamente, você consegue fazer um carro destes passar: deixe a carburação irrealmente magra, em uma condição feita apenas para passar no teste. Em uso normal, ele tende a ferver, fritar pistões, perde rendimento. Muito realista, não é mesmo?
O segundo problema é a emissão de hidrocarbonetos (HC): o limite é o mesmo – 700 ppm de hexano -, seja para um carro 2010 ou um 1950. É ridículo partir do pressuposto que um carro de 50 anos atrás vai ter a mesma eficácia de queima de combustível de um Honda Civic 2010, com sistema de injeção e ignição eletrônica.
E Itamar Borges tem razão, quando diz que os antigos não devem ser equiparados nem tratados como um veículo de transporte comum. Quem tem um velhote na garagem, o utiliza para um passeio ocasional, às vezes durante a semana (eu mesmo, não passeio com o meu Dart há mais de mês…); mas de claro uso esporádico. Estes carros não aguentam o tranco que um popularzinho 0km aguenta, ao contrário do que os leigos supõem. São veículos que são tratados como xodós, e que acabam poluindo muito menos – porque quase nunca vão às ruas.

E outra: não podemos misturar alhos a bugalhos. Há quem defenda tanta intolerância da inspeção para supostamente retirar Chevettes, Brasílias e Fuscas caindo aos pedaços de circulação. Vocês sabem, aqueles carros remendados, podres e que vivem quebrando por aí – e ferrando o nosso trânsito, que já é péssimo.
Esta é uma crença ingênua, eufemismo de “imbecil”. Primeiro: estes caras não têm a documentação regularizada há séculos, e vão continuar rodando por aí, com ou sem aprovação na inspeção – quem se ferra é quem tenta viver corretamente, de acordo com a lei. Segundo: quem deveria fazer nas ruas este tipo de inspeção de condição de circulação é a polícia e os órgãos de trânsito, que estão mais interessados em arrecadar grana com multas. Dito?

Caso aprovada em plenário, esta emenda dará um passo importante em direção a uma aplicação mais correta da inspeção veicular. Outro passo que precisa ser dado é a compreensão adequada de quem possui veículos modificados (preparados de fabricação atual), que eram perfeitamente de acordo com a lei até a Inspeção surgir, e agora são marginalizados porque obviamente não conseguem passar com tolerâncias tão baixas. Muitos moralistas, que não gostam de carros mexidos, viram nesta questão uma conveniente exclusão, exatamente como no parágrafo acima. Intolerância e egoísmo são as marcas registradas da sociedade do século 21. Quem perde, somos nós mesmos.
Pense a respeito: uma proposta quase infantil, mas imbatível, seria dispensar quem possui veículos preparados ou antigos não-placa preta da inspeção; em troca de uma ação a favor do meio ambiente – doações, plantio de árvores, reciclagem de lixo, o que for. Não seria bacana? Mas infelizmente, sabemos bem que a Controlar é apenas um mecanismo de arrecadação de dinheiro – e neste universo, a natureza não tem vez.

E outra: quando é que o Brasil vai aprender que o excesso de rigor das leis e impostos é o maior estímulo à inadimplência e à corrupção?
Fonte:jalopnik.com.br
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

2 comentários:

Lord Pimpão de Catanduva SP disse...

Tenho um Galaxie Landau 1979 e uso ele todos os dias, até para viagens. Estou um pouco preocupado com estas novas leis de políticos que só querem atrapalhar e ajudam muito pouco. O carrão está inteiro e eu estou sempre melhorando o mesmo, quero o meu direito de continuar a usar e viajar com o meu GALAXIE LANDAU 1979 enquanto eu viver. Ass. Lord Pimpão de Catanduva SP

Lord Pimpão de Catanduva SP disse...

Tenho um Galaxie Landau 1979 e uso ele todos os dias, até para viagens. Estou um pouco preocupado com estas novas leis de políticos que só querem atrapalhar e ajudam muito pouco. O carrão está inteiro e eu estou sempre melhorando o mesmo, quero o meu direito de continuar a usar e viajar com o meu GALAXIE LANDAU 1979 enquanto eu viver. Ass. Lord Pimpão de Catanduva SP .