30 de jan. de 2014

TESTAMOS O NOVO JEEP GRAND CHEROKEE

Luxuoso utilitário chega ao mercado brasileiro com retoques para enfrentar uma concorrência que muda a cada dia

por JULIO CABRAL
 
Jeep Grand Cherokee (Foto: Divulgação)
Atestado médico. Esse poderia ser o apelido da atual geração do Jeep Grand Cherokee. Pré-apresentada ao governo norte-americano como uma prova de que a Chrysler tinha futuro em plena crise de 2008, a quarta encarnação foi o passe que ajudou o grupo se recuperar e, agora, ser comprado de vez pela Fiat.
Com exceção talvez de Preston Tucker e seu Torpedo, nunca um produto fora apresentado com tanta esperança diante do Senado americano.No Brasil, tem uma simbologia  e peso diferentes. O Grand Cherokee retocado deve vender 1.200 unidades neste ano, um naco dos 174.275 vendidos em 2013 nos EUA.

Parece pouco para o modelo que foi numa encarnação passada a síntese dos utilitários de luxo nos anos 1990 e, até mesmo, tinha nome mais forte que a própria marca. Isso até ser seguido de perto pelos ingleses da Land Rover e também pelos então iniciantes alemães. Quando acertar seus planos de produção nacional, os descontos tributários da Jeep começarão a aparecer, mesmo para os produtos importados. Sem corrida às lojas, afinal, ainda é um carro que parte de R$ 185.900 na versão Laredo e R$ 214.900 na top Limited avaliada, que deve responder por 70% das vendas.
Jeep Grand Cherokee (Foto: Divulgação)
É justamente da Alemanha que vem boa parte do borogodó do Grand Cherokee, incluindo o novíssimo câmbio ZF de oito marchas, principal novidade mecânica da linha que, até o ano passado, tinha caixa de seis velocidades. Daquele primeiro Grand Cherokee de 20 anos atrás sobrou pouco além do nome. Eixos rígidos, construção sobre chassi, motor V8, quase tudo ficou no passado. O modelo atual se escora em tecnologias modernas e, pelo menos no Brasil, dispensou o oito canecos em favor do universal 3.6 V6 Pentastar – o turbodiesel chegará em março.
Jeep Grand Cherokee (Foto: Divulgação)
Deixe a mecânica de lado por um segundinho e olhe bem para os faróis e lanternas reestilizados com contornos de leds. É a maquiagem que atualiza o visual e lembra um pouco os Audi, ainda que case bem com a identidade dos demais Chrysler. O resto é herança do antigo casamento Daimler-Chrysler, que deixou como principal espólio a plataforma. Se o 300C é o Classe E com roupa de futebol americano, o Jeep é o ML vestido de cowboy. Não é necessário dissecá-lo para notar a herança. Basta se aboletar no banco do motorista e reparar na alavanca única no volante e o freio de estacionamento no pedal. Coisa de Mercedes.
Falar do casamento anterior não deve ser motivo de constrangimento na nova família. A relação fez bem ao refinamento do jipão, silencioso e estradeiro em longas viagens. De preferência, em rodovias dos EUA, e não em ritmo veloz de Autobahn, quando as oscilações laterais deixam claro que correr não é sua vocação – talvez a suspensão a ar não oferecida aqui melhorasse essa sensação. As suspensões independentes convencionais fazem bem o trabalho, mas com 2.211 kg e centro de gravidade elevado, pegar leve é mais do que uma questão de prudência. Trate ele como um Cherokee SRT (não previsto para o Brasil) de 512 cv e talvez você compre um terreno em uma curva mal calculada.
Ficha técnica
Dados da montadora
Preço R$ 214.900
Motor Dianteiro, longitudinal, 6 cilindros em V, 24 válvulas, comando duplo, injeção eletrônica, gasolina
Cilindrada 3.064 cm³
Potência 286 cv a 6.350 rpm
Torque 35,4 kgfm a 4.300 rpm
Transmissão Automática de oito marchas, tração integral
Direção Eletro-hidráulica
Suspensão Independente, McPherson dianteira e multilink traseira
Freios Discos ventilados
Pneus 265/50 R20
Dimensões Compr. 4,828 m, largura 1,943 m, altura 1,802 m, entre-eixos 2,915 m
Capacidades Tanque 93 l, Porta-malas 457 l
Peso 2.211 kg
 Melhor levá-lo para a terra por bem. Nessa hora, o nome Jeep é justificado. As suspensões têm curso elástico, enquanto o sistema Terrain Response é uma mão na roda – como novidade, as opções neve e lama foram separadas. A trilha enfrentada foi leve, com pitadas de emoção na travessia de um riacho e numa subida com pedras. Dava para manter a tração integral permanente Quadra-Trac II no modo normal quase o tempo todo. O repasse sob demanda é rápido e, em cada um dos modos, deu para sentir os elfos eletrônicos correndo de uma roda para outra, segurando a aceleração e mudando parâmetros. Nem os “urbanos” pneus Kumho 265/50 aro 20 jogaram contra. A tração ajuda a se virar na terra e também a economizar. No modo econômico, 80% do torque vai para a dianteira, evitando a tarefa de tracionar demais as rodas traseiras quando não é necessário. Durante o teste, o consumo ficou entre 7,5 km/l e 10,9 km/l.
Não é o único sinal dos tempos. Por dentro, o quadro ganhou velocímetro capaz de mudar sua aparência (no modo Sport o instrumento é coroado por um halo vermelho). Combina com o ronco afinado (ainda que educadamente abafado) dos seis cilindros, sonoridade que dá vontade de pisar mais. É chegada a hora de buscar as borboletas no volante... e a vontade passa rápido. São muitas marchas para escolher e, no final, é no automático que a transmissão faz render melhor o 3.6. Segundo a Chrysler, são necessários 8,3 s até os 100 km/h, enquanto a velocidade máxima fica nos 206 km/h.   Além disso, a oitava marcha longuíssima permite rodar a 120 km/h a plácidos 2 mil giros.
Ele se tornou gentil, menos saltitante e mais espaçoso. Tomou um banho de loja com os alemães e tornou-se até adepto de algumas vaidades como o delineador de olhos. Nada disso mudou a essência de unir conforto e valentia, como sua primeira geração e seu antecessor, o Wagoneer de 1963, considerado o primeiro utilitário-esportivo. E mesclar tradição com modernidade ainda parece ser a trilha do Grand Cherokee.
Jeep Grand Cherokee (Foto: Divulgação)

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