É fácil demais.
Mas só por que uma resposta é óbvia não significa que esteja errada, e carros podem ser clássicos do futuro por razões que não sejam tão aparentes. E é por isso que hoje estamos nomeando o Honda S2000: não só por que ele é uma máquina fantástica, mas também por que seu fim deixou um vácuo que ainda não foi preenchido entre os esportivos.
Quem olha casualmente pode achar que o S2000 foi só o carro que a Honda usou para concorrer com o Miata. Mas isto não é verdade. Ele está mais para o primo psicopata do Miata, que carrega um machado e fugiu da prisão onde cumpriu pena por assassinato e agora tem uma longa lista de policiais, inimigos e ex-namoradas para se vingar.
A primeira aparição do S2000 foi em 1995 como Sports Study Model Concept. A produção começou em 1999 como modelo 2000, e o carro foi batizado de S2000 em homenagem aos S500, S600 e S800 dos anos sessenta, e em alusão a seu motor 2.0.
Ele tinha respeitáveis 240 cv e não-tão-respeitáveis-assim 21 mkgf de torque, ambos em altas rotações. Famoso por ter 120 cv por litro, o motor tinha a potência específica mais alta entre todos os motores aspirados de produção no mundo.
Mas o que o S2000 sabia fazer de melhor era girar. O carro chegava rapidinho aos 9.000 rpm e, pesando 1,247 kg, podia chegar aos 100 km/h em 5,8 segundos.
Mas o S2000 não fora feito para passeios de domigo. Ele foi feito para acelerar. Em 1999 o Edmunds o descreveu como “minimalista”, e este é um adjetivo justo. Ele tem painel digital, volante, um excelênte câmbio manual de seis marchas (nada de automático aqui!) e, bem, basicamente é só isso. Os primeiros modelos não tinham nem relógio. Ah, já falamos que a capota abaixava?
As rotações altas e a dinâmica fizeram dele um sucesso de crítica, embora as publicações concordassem que ele não era para quem tinha coração fraco. A Motor Trend disse, em 1999, que era como se “engenheiros da Fórmula 1 tivessem construído um esportivo de rua”.
A maioria das pessoas jamais vai
dirigir na melhor faixa de rotação (de 7.000 a 8.500 rpm), trocando de
marcha cedo demais. Nosso conselho: trate o S2000 como se o odiasse e
você terá o máximo que ele pode oferecer. Nós fizemos, e adoramos cada
segundo.
O S2000 mudou pouco ao longo da vida. A maior mudança aconteceu em
2003, quando modelo AP2 foi apresentado, com um motor um pouco maior,
de 2,2 litros, para o mercado americano. Ele tinha mais torque e a faixa
vermelha do conta-giros chegava antes, mas o carro continuou
incomparável. A Car and Driver americana disse que o carro novo era “Mais flexível, melhor equilibrado, e ainda demoníaco”. Não temos argumentos contra isso.
O S2000 conquistou corações e mentes por anos com mudanças mínimas, incluindo um punhado de edições especiais bacanas, até finalmente sair de linha depois do ano-modelo de 2009. Embora ele conseguisse competir com BMW, Porsche e Audi de igual para igual, quando as vendas começaram a diminuir, a Honda decidiu colocá-lo para descansar.
O carro não foi substituído, pela Honda ou qualquer outro fabricante. E quem saiu perdendo fomos nós.
Vamos encarar desta forma: estamos tristes porque o Lancer Evolution está em sua última geração, mas pelo menos ainda vamos ter o Subaru WRX STI. Se a GM cancelar o Camaro amanhã, você ainda pode comprar um Mustang. Se o 370Z deixar de existir, ainda teremos vários outros cupês de tração traseira e motores potentes para escolher.
Quando você perde um carro legal, normalmente tem outras escolhas. Mas o que entrou no lugar do S2000? Algo que ofereça a mesma dinâmica afiada, interior básico e motor absurdamente girador que o S2K oferecia? Nada, quando pensamos a respeito.
A resposta mais próxima é o Toyobaru, mas ainda que eele seja fantástico e seja ótimo que ele exista, seu desempenho não está no mesmo nível. O mesmo vale para o Miata, que não é tão hardcore como o S2000. Em termos de motor girador e tração traseira, havia o Mazda RX-8, mas ele tinha quatro portas e teto fixo. E também está morto.
Para nós, o mais próximo que temos do S2000 hoje é o Porsche Boxster, ou o BMW Z4 2.0 turbo, mas eles são muito diferentes e bem mais caros. Nada tem a personalidade do S2000.
A verdade é que nenhum carro sucedeu o S2000. E a gente acha que só uma companhia poderá acertar a fórmula de novo: a Honda. Mas será que eles são mesmo capazes de fazer um roadster de tração traseira para competir com os melhores de novo? E será que eles querem, já que ultimamente eles tem se focado mais em economia de combustível?
Até que eles lancem um novo modelo, se é que isto vai acontecer, os entusiastas do S2000 terão que se contentar com os exemplares usados mais conservados. E para nós, brasileiros, é ainda pior: teremos que esperar o carro fazer 30 anos para poder importá-lo.
Daqui há alguns anos, quando as pessoas estiverem procurando um esportivo acessível e divertido, o S2000 certamente será uma escolha bem popular. Ele tem um pacote difícil de imitar, e isso vale ouro.
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