8 de jul. de 2013

Impressões clássicas: Mercedes-Benz 190SL 1961

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Quanto vi este carro estacionado, dei uma olhada nos arredores para ver se encontrava o proprietário. Acabei encontrando um jovem casal que usava uma combinação perfeita de proteção para o sol e estilo: os dois usavam chapéus, ela usava um lenço esvoaçante de época, e ele usava óculos de sol — tinha que ser eles. E eram mesmo.

O proprietário chama-se Aram, e ele tem este Mercedes-Benz 190 SL 1961 desde que tinha 19 anos — agora ele tem trinta e poucos. Sua família tem uma oficina de restauração de Mercedes chamada Vaco Precision, assim fica claro por que um cara de 19 ano tem a chance de ter um carro como esse. Na verdade o carro era de um antigo cliente que morreu, e seus filhos não queriam a preciosidade conversível. Aram viu o potencial do carro e o arrematou.
O 190SL é um carro interessante. Ele foi projetado para ser uma espécie de versão popular do incrível 300SL, que é frequentemente considerado o primeiro supercarro da história. O 190 tinha um estilo parecido, mas era feito sobre o chassi do modelo W120, antecessor da atual Classe E, de quem também recebeu o motor 1.9 de quatro cilindros, em vez do seis-em-linha do 300.
Particularmente, gosto muito dos detalhes tipicamente germânicos deste carro. Por exemplo, a bomba de combustível tem uma pequena bomba manual para fazer o combustível chegar aos carburadores se o carro ficou muito tempo parado. Nunca vi nada disso antes.
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Mesmo sem a bombinha sob o capô, ele é um carro belíssimo, e o modelo de Aram está impecável. Não é o tipo de carro que vence concursos, mas está bom para ele e para qualquer um que curta carros como este. Este é um carro feito para ser usado, e usado ele é.
Na verdade, é o carro principal de Aram. Ele anda de moto também, mas este conversível e um outro Ponton (a versão sedã deste carro) são ideais. Acho isso muito legal. Crescer em uma oficina de Mercedes deu a ele uma imensa bagagem para manter um carro como este, e ele também tornou-se incrivelmente especializado nos Mercedes desse período.
Ele me contou que o filtro de ar desses Mercedes usa: uma trama de pelo de javali. Os alemães usaram pelo de javali no filtro de ar? Isso é a coisa mais perturbadora que já ouvi.
A coisa mais legal que notei neste Benz é sua solidez. Já dirigi antigos com melhor desempenho, mas nunca andei em um carro dessa idade que fosse tão bem construído e sem ruídos de acabamento como este. Nada parecia solto, ou delicado, ou desgastado. É realmente impressionante.

Por fora

Este carro é um exemplo perfeito do design europeu da época, e todos aquele cromados e aquela tinta preta demonstra tanta classe que eu me senti despido ao lado deste carro. Não é um design revolucionário, mas é muito bem definido. Há alguma influência do estúdio Ghia, e as curvas fluidas e a profusão de cromo têm algo de americano, mas o conjunto é justo, limpo e elegante. As saliências dos para-lamas remetem ao 300SL, e dão um ar distinto ao carro. As calotas que repetem a cor da carroceria são perfeitas.
Ele é bonito de quase qualquer ângulo. Mais interessante é que este não tem teto de tecido, apenas um teto rígido removível. A fábrica fez pouquíssimos como este, e embora continue com o visual limpo e elegante com ele, é melhor que sua previsão do tempo seja muito boa, ou você passará a passear por aí com uma banheira ambulante alemã. Algumas propagandas antigas sugerem que uma pessoa é capaz de remover o teto sozinha, mas a menos que você seja um produto da engenharia genética, isso não será possível. É um trabalho para quatro mãos.
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Por dentro

A cor do interior — um tom intenso de vermelho — combina perfeitamente com a cor preta da carroceria. Com o teto desmontado, você pode ver partes do revestimento vermelho mesclado com o preto, um efeito arrebatador. O painel é repleto daqueles adoráveis instrumentos e botões cromados dos anos sessenta, quase todos sem identificação. Não é difícil descobrir o que cada um deles está mostrando, mas é um bom lembrete que naquela época os fabricantes consideravam que os motoristas sabiam o que estavam fazendo.
O retrovisor interno é montado em posição baixa no próprio painel, algo que eu sempre gostei, embora sua primeira reação seja olhar para cima. Minha única reclamação é que, para um cara baixo como eu, a parte superior do volante branco fica exatamente no meio do campo de visão. Às vezes olhava por cima do volante, às vezes por baixo do aro. Foi um pouco estranho.
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Acho que para a maioria das pessoas ele é normal, mas se você for baixinho como eu e está considerando comprar um desse, mantenha a dignidade e traga um travesseiro para colocar no assento.

Como acelera, como anda

Usando os padrões modernos como referência, pouca coisa fabricada nos anos sessenta pode ser considerada rápida, e este carro não é uma exceção. O motor produz quase 110 cv, e o carro pesa pouco mais de 1.110 kg, por isso ele é bem razoável, mas nada estimulante. Aram me deixou dirigi-lo na rodovia e me encorajou a levá-lo a 4.000 rpm, que é quando a potência aparece. O carro empurra muito bem, considerando todo o contexto. Você só precisa afundar o acelerador.
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Só que em um carro tão bonito como este, você não precisa andar rápido. As pessoas merecem ver este carro por mais tempo.
O 190SL não era tão esportivo, e sim um carro para viagens. Por isso a rodagem é confortável, e livre dos trancos e solavancos típicos de suspensões de esportivos. O peso do carro e a qualidade de construção o mantém suave e tranquilo. A suspensão engole as imperfeições sem floreios.
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É um carro ideal para fazer uma longa viagem sem parecer que você dormiu no chão quando chegar ao destino.

Dinâmica

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Embora não seja um esportivo, ele é gostoso de guiar. Há braços oscilantes na traseira e triângulos sobrepostos na dianteira, e ele faz curvas muito bem. Andei com ele por algumas estradinhas sinuosas e ele se saiu muito bem. Um pouco de rolagem da carroceria, obviamente, e os braços oscilantes deixam a traseira um pouco boba, mas em geral ele é um carro divertido e nunca desequilibrado.

Câmbio

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Gostei muito das trocas deste carro. A alavanca é finíssima e comprida, mas as trocas são precisas. Engatar a primeira marcha é um pouco mais difícil do que se espera, ao menos no começo, mas depois as trocas de marcha e a embreagem, embora firme, não é pesada.

Praticidade

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Você pode muito bem usar um carro desses diariamente. Bem, é o que Aram faz. Ele é confortável, anda tranquilamente nas velocidades máximas de hoje, é fácil de estacionar etc. Ele tem um bom porta-malas e até um compartimento secreto atrás do banco do motorista.

Bottom line

O 190SL sempre ficou um patamar abaixo do 300SL em termos de raridade e valor de coleção. Mas à medida em que os preços dos 300SL dispararam, o 190SL pegou uma carona, e hoje é um dos modelos de grande produção mais valorizados da marca. Eles raramente custam menos de R$ 200.000, e pouca gente os conhece a fundo, então não é um carro para endinheirados de bom gosto, e sim para os iniciados no mundo dos carros antigos.
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Ficha técnica

Motor: 1.9, quatro cilindros a gasolina
Potência: 106 cv a 5.700 rpm
Câmbio: manual de quatro marchas
Aceleração de zero a 100 km/h: 9,5 segundos (estimada)
Velocidade máxima: 170 km/h
Tração: traseira
Peso: 1.100 kg
Lugares: dois
Consumo: 9,5 km/l
Preço original: US$ 4.295 em 1962 (R$ 75.300 em valores corrigidos)

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