É fácil chegar ao Boulevard Albert I. Siga as placas que
indicam o bairro de La Condamine e desça sempre. Mônaco é incrustado em
uma costa montanhosa e, quando mais se desce, mais perto se está do mar.
Chegando à avenida, não há problemas para se perceber do que se trata. A
avenida em sentido único, com curva suave para a direita e marcas de
grid no asfalto, e várias lojas para turistas fazendo questão de deixar
claro: é o ponto de largada do circuito de rua de Mônaco.
Para quem gosta de automobilismo, percorrer o traçado do grande prêmio mais tradicional da F1 é uma forma bastante eficiente de conhecer o principado. Afinal, as corridas de carro – aí se soma também o Rali de Monte Carlo – até hoje são intimamente ligadas à imagem do país, e chegam a ser referência mais constante nas ruas até que o casamento do Príncipe Albert II com Charlene Wittstock. Topar com algum piloto na rua não deve ser encarado como surpresa, pois quase todos têm residência oficial em Mônaco, em uma estratégia para pagar menos impostos.
Então, o único rumo lógico é seguir o fluxo do trânsito e, à pé ou de carro (é possível, nenhuma rua é contramão), ir à praça Ste-Devote e virar à direita. A avenida D’Ostende é uma subida com um ligeiro ziguezague que leva ao teatro Princesa Grace. A atriz, Grace Kelly na época de plebeia, casou-se com o Príncipe Rainier em um evento de potencial midiático maior até que a união de William com Kate Middleton. Só que foi na década de 1950 e internet, redes sociais e cobertura via satélite para o mundo todo ainda não existiam.
Após o teatro, a D’Ostende se divide, e é um momento que precisa de atenção. A entrada correta do circuito é meio escondida, uma descida à direita na avenida de Monte Carlo. Seguindo o fluxo, pode-se ir à esquerda e entrar na Avenida Princesse Alice. Quem entrar na rua errada e estiver de carro pode ter problemas. A malha viária de Mônaco muitas vezes é limitada pelas ladeiras e nem sempre o retorno aparece. Aí, corre-se o sério risco de só conseguir desfazer o equívoco em Roquebrune-Cap-Martin, já do lado francês da fronteira.
Quem entrou na rua certa se verá em Monte Carlo, bairro mais famoso dessa cidade-estado. E estará logo na parte mais sofisticada do país. O Cassino Café de Paris materializa tudo o que se imagina de luxo quando se pensa em Mônaco. Antes da F1 e da generosidade fiscal, foi o jogo que impulsionou o principado como grande destino turístico, ainda no século 19. Milionários de toda a Europa foram atrás das roletas e cartas, alimentando a economia monegasca.
Monte Carlo pode intimidar. Pelos carros, pelas roupas e pela pose ao caminhar, todos parecem milionários. E quem não é finge que é para não fazer feio. Mas há uma missão a cumprir: siga em frente no trajeto, contorne a Praça do Cassino e pegue a avenida dos Spélungues. Siga a via, que leva a uma curva fechada à direita (a Mirabeau) e a um dos pontos mais característicos do circuito: o grampo da Loews. Mais um ziguezague e se chega à entrada do túnel, ponto mais rápido do circuito.
Na realidade, o tal túnel nada mais é que uma via sob o edifício do Auditório Rainier III, principal casa de espetáculos do país. Quando não está cercada por guard rails, a via serve de acesso para estacionamento ou entrada para um hotel. Na saída, o sol forte pode causar um ligeiro incômodo, mas a vista vale a pena. A descida do Boulevard Louis II tem vista para toda a marina, com o mar impecavelmente azul e lanchas e iates que parecem obra de ficção.
Continue contornando o mar, e fica muito claro como a combinação clima agradável + eventos milionários + cassinos sofisticados + baixos impostos + liberdade propiciada por passeios de barcos ajudam a tornar o local tão atraente à elite europeia. A concentração de embarcações aumenta no trecho final do circuito, na Route de la Piscine. A área parece mais um estacionamento aberto que uma rua. Quando a concentração de veículos parados termina, é momento de virar à direita, prestar referência à estátua de Juan Manuel Fangio e retornar ao ponto de partida.
De um extremo ao outro, o circuito tem cerca de 1,12 km, um terço de todo o país. Em torno dele foram criados alguns dos principais símbolos da vida do principado. Quem visitar Mônaco em fim de semana de GP terá mais dificuldades de percorrer o circuito, mas vale a pena chegar dias antes – ou esticar para depois – e tentar fazer o trajeto. Botar o pé na rua ajuda a entender o aperto por que passam os pilotos ao tentar passar a 150 km/h em ruas estreitas que mal cabem dois carros de passeios a 50 km/h.
Nada mais representativo, considerando que essa nação de 3,5 km de cumprimento tem a maior densidade demográfica do mundo, espremendo 36 mil habitantes espremidos em 1,98 km². Um lugar improvável, mas não dá para imaginar a Fórmula 1 sem ele.
Estádio Louis II
Se é esporte monegasco e não é automobilismo, grandes chances de o palco ser o estádio Louis II. A casa do Monaco, um dos clubes mais tradicionais da França (mas hoje na Ligue 2), também abriga anualmente a Supercopa da Europa, que reúne os vencedores da Liga dos Campeões e da Liga Europa, a etapa local da Liga Diamante de atletismo e o final da Maratona de Mônaco, única do mundo a passar por três países (no caso, Itália, França e Mônaco).
Coleção de Carros do Príncipe Rainier III
O amante de automobilismo vai gostar de dar uma passada no local, conhecido informalmente como Museu do Automóvel. A coleção conta com cerca de 100 carros, de carruagens a veículos militares, passando, claro, por carros esportivos clássicos. Está aberta à visitação todos os dias.
O clube está localizado em Roquebrune-Cap-Martin, cidade francesa imediatamente a leste do principado, e recebe o torneio monegasco da série Masters 1000 do tênis. Também recebeu a derrota francesa para os Estados Unidos na Copa Davis deste ano. Das quadras é possível ter uma bela vista do mar e de Mônaco.
Reportagem originalmente publicada na edição 31 (abril de 2011) da Revista ESPN.
Para quem gosta de automobilismo, percorrer o traçado do grande prêmio mais tradicional da F1 é uma forma bastante eficiente de conhecer o principado. Afinal, as corridas de carro – aí se soma também o Rali de Monte Carlo – até hoje são intimamente ligadas à imagem do país, e chegam a ser referência mais constante nas ruas até que o casamento do Príncipe Albert II com Charlene Wittstock. Topar com algum piloto na rua não deve ser encarado como surpresa, pois quase todos têm residência oficial em Mônaco, em uma estratégia para pagar menos impostos.
Então, o único rumo lógico é seguir o fluxo do trânsito e, à pé ou de carro (é possível, nenhuma rua é contramão), ir à praça Ste-Devote e virar à direita. A avenida D’Ostende é uma subida com um ligeiro ziguezague que leva ao teatro Princesa Grace. A atriz, Grace Kelly na época de plebeia, casou-se com o Príncipe Rainier em um evento de potencial midiático maior até que a união de William com Kate Middleton. Só que foi na década de 1950 e internet, redes sociais e cobertura via satélite para o mundo todo ainda não existiam.
Após o teatro, a D’Ostende se divide, e é um momento que precisa de atenção. A entrada correta do circuito é meio escondida, uma descida à direita na avenida de Monte Carlo. Seguindo o fluxo, pode-se ir à esquerda e entrar na Avenida Princesse Alice. Quem entrar na rua errada e estiver de carro pode ter problemas. A malha viária de Mônaco muitas vezes é limitada pelas ladeiras e nem sempre o retorno aparece. Aí, corre-se o sério risco de só conseguir desfazer o equívoco em Roquebrune-Cap-Martin, já do lado francês da fronteira.
Quem entrou na rua certa se verá em Monte Carlo, bairro mais famoso dessa cidade-estado. E estará logo na parte mais sofisticada do país. O Cassino Café de Paris materializa tudo o que se imagina de luxo quando se pensa em Mônaco. Antes da F1 e da generosidade fiscal, foi o jogo que impulsionou o principado como grande destino turístico, ainda no século 19. Milionários de toda a Europa foram atrás das roletas e cartas, alimentando a economia monegasca.
Monte Carlo pode intimidar. Pelos carros, pelas roupas e pela pose ao caminhar, todos parecem milionários. E quem não é finge que é para não fazer feio. Mas há uma missão a cumprir: siga em frente no trajeto, contorne a Praça do Cassino e pegue a avenida dos Spélungues. Siga a via, que leva a uma curva fechada à direita (a Mirabeau) e a um dos pontos mais característicos do circuito: o grampo da Loews. Mais um ziguezague e se chega à entrada do túnel, ponto mais rápido do circuito.
Na realidade, o tal túnel nada mais é que uma via sob o edifício do Auditório Rainier III, principal casa de espetáculos do país. Quando não está cercada por guard rails, a via serve de acesso para estacionamento ou entrada para um hotel. Na saída, o sol forte pode causar um ligeiro incômodo, mas a vista vale a pena. A descida do Boulevard Louis II tem vista para toda a marina, com o mar impecavelmente azul e lanchas e iates que parecem obra de ficção.
Continue contornando o mar, e fica muito claro como a combinação clima agradável + eventos milionários + cassinos sofisticados + baixos impostos + liberdade propiciada por passeios de barcos ajudam a tornar o local tão atraente à elite europeia. A concentração de embarcações aumenta no trecho final do circuito, na Route de la Piscine. A área parece mais um estacionamento aberto que uma rua. Quando a concentração de veículos parados termina, é momento de virar à direita, prestar referência à estátua de Juan Manuel Fangio e retornar ao ponto de partida.
De um extremo ao outro, o circuito tem cerca de 1,12 km, um terço de todo o país. Em torno dele foram criados alguns dos principais símbolos da vida do principado. Quem visitar Mônaco em fim de semana de GP terá mais dificuldades de percorrer o circuito, mas vale a pena chegar dias antes – ou esticar para depois – e tentar fazer o trajeto. Botar o pé na rua ajuda a entender o aperto por que passam os pilotos ao tentar passar a 150 km/h em ruas estreitas que mal cabem dois carros de passeios a 50 km/h.
Nada mais representativo, considerando que essa nação de 3,5 km de cumprimento tem a maior densidade demográfica do mundo, espremendo 36 mil habitantes espremidos em 1,98 km². Um lugar improvável, mas não dá para imaginar a Fórmula 1 sem ele.
LOCAIS PARA VISITAR
Estádio Louis II
Se é esporte monegasco e não é automobilismo, grandes chances de o palco ser o estádio Louis II. A casa do Monaco, um dos clubes mais tradicionais da França (mas hoje na Ligue 2), também abriga anualmente a Supercopa da Europa, que reúne os vencedores da Liga dos Campeões e da Liga Europa, a etapa local da Liga Diamante de atletismo e o final da Maratona de Mônaco, única do mundo a passar por três países (no caso, Itália, França e Mônaco).
Coleção de Carros do Príncipe Rainier III
O amante de automobilismo vai gostar de dar uma passada no local, conhecido informalmente como Museu do Automóvel. A coleção conta com cerca de 100 carros, de carruagens a veículos militares, passando, claro, por carros esportivos clássicos. Está aberta à visitação todos os dias.
Boutique Formule 1
Paraíso do consumo para amantes de automobilismo. Na loja, é possível encontrar diversos produtos – oficiais ou não – de equipes e pilotos da Fórmula 1 e, em menor grau, do Mundial de Rali. Até peças do passado, algumas usadas, estão à venda. Os preços são salgados, como boa parte das coisas na cidade. Fica no número 15 da Rua Grimaldi. Quem prefere o futebol, basta atravessar a rua que encontra a loja oficial do Monaco.
Monte Carlo Country ClubParaíso do consumo para amantes de automobilismo. Na loja, é possível encontrar diversos produtos – oficiais ou não – de equipes e pilotos da Fórmula 1 e, em menor grau, do Mundial de Rali. Até peças do passado, algumas usadas, estão à venda. Os preços são salgados, como boa parte das coisas na cidade. Fica no número 15 da Rua Grimaldi. Quem prefere o futebol, basta atravessar a rua que encontra a loja oficial do Monaco.
O clube está localizado em Roquebrune-Cap-Martin, cidade francesa imediatamente a leste do principado, e recebe o torneio monegasco da série Masters 1000 do tênis. Também recebeu a derrota francesa para os Estados Unidos na Copa Davis deste ano. Das quadras é possível ter uma bela vista do mar e de Mônaco.
Reportagem originalmente publicada na edição 31 (abril de 2011) da Revista ESPN.
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