No verão de 1956 o famoso transatlântico italiano SS Andrea Doria foi atingido pelo navio sueco MS Stockholm próximo à costa de Massachussetts a caminho de Nova York. Ele naufragou 11 horas depois. A colisão resultou na perda de 51 vida e um Chrysler muito especial que quase ninguém viu. Nem mesmo os engenheiros que o desenvolveram.
Este carro especial é o conceito Chrysler Norseman, uma belíssima página na história do automóvel. A Wikipedia fala um pouco sobre ele, mas para entender melhor o que foi esse carro, recorri à história contada por David W. Temple, que é especialista em carros desse período.
A Chrysler Corporation pode ter perdido a chance de competir com o Corvette ou o Thunderbird, mas nunca parou de fazer protótipos e estudos com formas e estilos radicais.
Começando em 1953, os projetistas da Chrysler passaram 50.000 horas em um projeto liderado por Virgil M. Exner. Quando a Ghia terminou o Lincoln Futura (que mais tarde se tornaria o Batmóvel), os mestres de Turim começaram a trabalhar na transformação do novo sonho da Chrysler em realidade.
Os americanos queriam um protótipo
funcionante para o salão de 1957. A mecânica era a parte mais fácil, já
que eles usaram um V8 HEMI e um conjunto experimental de suspensão com
barras de torção na dianteira e feixes de mola na traseira.
Mas o projeto do teto em arco sem
colunas A e B (cantilever) com teto solar elétrico integrado exigiu 15
meses de trabalho da Ghia, já que o conceito usaria apenas as colunas C
para suportar o peso do teto, ainda que ele fosse apoiado em um
para-brisa estrutural de vidro temperado. O teto também teria uma
inserção de alumínio escovado e um para-brisa traseiro de 1,1 m2 que poderia ser recolhido por meio de um interruptor.
O resto do conceito também era sensacional. Faróis e maçanetas ocultados, barbatanas traseiras encurtadas, arcos de roda com recorte baixo e lanternas traseiras verticais faziam deste fastback 2+2 uma coisa linda de se ver, enquanto por dentro os bancos e instrumentos com ajustes elétricos eram revestidos com couro de dois tons e metal cromado ou acetinado. O resultado final foi chamado de Chrysler Norseman.
Os especialistas dizem que uma simples lâmpada sobre o radar do MS Stockholm teria evitado o acidente em 1956. O que se sabe é que desde que o SS Andrea Doria afundou, 16 mergulhadores morreram tentando chegar ao navio que repousa a 50 metros da superfície. Graças às correntes do Oceano Atlântico, o casco do navio acabou fraturado e se rompeu depois de meio século na água salgada.
Embora muito dos artefatos tenham sido recuperados, incluindo dois dos três sinos do navio, a Chrysler nunca conseguiu recuperar seu carro. Com apenas 25 minutos para permanecer nos destroços, os mergulhadores não conseguem chegar em cada compartimento de carga. Dizem que o Norseman estava no segundo porão quando saiu de Gênova…
[Fotos: Chrysler Historical Collection, AP Images/Guarda Costeira dos EUA]
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