16 de mar. de 2013

Revista: 7 times podem falir na F1 nos próximos anos


Revista: 7 times podem falir na F1 nos próximos anos

Fila de carros da F1 nos boxes de Melbourne (Brandon Malone/AP Photo)Fila de carros da F1 nos boxes de Melbourne (Brandon Malone/AP Photo)
 
A situação não está fácil para ninguém, já diz o ditado. Um artigo publicado nesta semana pela revista alemã “Auto Motor und Sport” afirma que, das 11 equipes que estão começando a temporada 2013 da F1, cinco podem falir até o fim deste ano, enquanto outras duas estão com situação financeira totalmente incerta para o futuro próximo.

De acordo com o texto, assinado pelo colunista Michael Schmidt, Lotus, Sauber, Force India, Caterham e Marussia não têm dinheiro para pagar pelos novos motores V6 turbo, que estão sendo produzidos para 2014. Os preços devem subir em mais de 30% com relação aos atuais V8 aspirados, pulando para patamares entre € 20 e 25 milhões. Os fabricantes (Ferrari, Mercedes e Renault) já avisaram que, dados os investimentos pesados no desenvolvimento das unidades, não dá para deixar os valores mais baixos que isso. Os dirigentes responderam que, se os custos permanecerem realmente em tal patamar, não será possível arcar. É quase um impasse mexicano, portanto. As outras duas nesse balaio são McLaren e Williams, que ainda possuem certo fôlego , porém com prognósticos sombrios para o caso de não  conseguirem repor diversas receitas perdidas ao longo das últimas temporadas.
No caso da primeira, a difícil condição ficou escancarada quando do anúncio do término da parceria com a Vodafone, existente desde 2007. A gigante de telecomunicações está revendo todos os seus investimentos em automobilismo e também encerrou seu duradouro vínculo com a Triple Eight na V8 Australiana. Segundo a revista inglesa “Financial Times”, um dos motivos para a fuga, no caso da F1, teria sido a imensa propaganda negativa gerada pelo GP do Bahrein de 2012. Embora a equipe garanta que já há alguns interessados em substituir a marca britânica no posto de patrocinadora principal para 2014, é difícil acreditar que a próxima parceira tope desemboldar os mesmos € 50 milhões que a antecessora pagava. Isso que, de 2011 para 2012, a própria Vodafone já havia feito uma redução de sua cota.
Recentemente, este não foi o único baque sofrido pela McLaren. Primeiro, e o mais importante de todos, ocorreu a saída da Daimler como acionista, em processo que começou com a compra da Brawn GP, no fim de 2009, para a formação do time oficial da Mercedes, e terminou há cerca de um ano e meio, com a venda dos últimos títulos da equipe que ainda pertenciam à montadora teutônica. Outras companhias, como a Johnnie Walker e a Aigo, também reduziram drasticamente suas contribuições, enquanto a Coca-Cola, apontada como potencial investidora no ano passado, preferiu ficar com o ambiente mais descolado da Lotus, já que a sisuda McLaren ainda tem acordo com a Lucozade, concorrente da Burn no ramo de bebidas energéticas.
McLaren: perda de vários investimentos nos últimos anos põe em risco saúde financeira do time (Rob Griffith/AP Photo)
McLaren: perda de vários investimentos nos últimos anos põe em risco saúde financeira do time (Rob Griffith/AP Photo)
Ao todo, calcula-se que a equipe de Woking tenha perdido quase US$ 40 milhões em investimentos nesse período, fora o impacto a ser deixado pela Vodafone, ainda não mensurado. Nesse prisma, a situação da escuderia vai depender bastante do possível apoio de Carlos Slim a Sergio Pérez, ou do desejo que a Honda tem em reinvestir na F1. Caso a montadora japonesa queira adotar a McLaren como time oficial, boa parte dos prejuízos deve ser revertida.
Sobre a Williams, que vive em uma penúria bem maior que sua compatriota já desde o fim da parceria com a BMW, em 2005, a dependência dos petropesos de Pastor Maldonado é algo reconhecido e praticamente lavrado em cartório. A morte de Hugo Chávez, e já discutimos isso neste texto, colocou um ponto de interrogação sobre o maciço apoio do governo bolivariano ao piloto do país, por meio da PDVSA. É claro que, mesmo que a oposição de Henrique Capriles vença no pleito marcado para 14 de abril, nenhum contrato deve ser rompido de forma brusca (pelo menos é o que se espera. Em se tratando de Venezuela e seu intenso conflito político, tudo é possível), mas é difícil acreditar que o volume de investimentos seja o mesmo – ou continue a existir – após 2015, quando as atuais rubricas expiram.
A Sauber é mais uma dependente de uma colossal corporação, a mexicana Telmex. Foi a família Slim quem pagou praticamente todas as contas do time mexicano nas últimas temporadas, e continua a fazê-lo agora que o novato Esteban Gutiérrez está na equipe. A grande questão é: e se o homem mais rico do mundo quiser focar mais na carreira de Pérez na McLaren, diminuindo os recursos destinados à simpática esquadra suíça? Pois é.
Das demais citadas, a Lotus perdeu a chance de ter a multinacional americana de tecnologia Honeywell como patrocinadora principal, um negócio que injetaria US$ 30 milhões à equipe em 2013. O grupo Genii continua a passar por dificuldades financeiras e está em busca de novos investidores. A Force India vê seus dois sócios, o grupo Sahara e o magnata indiano Vijay Mallya, enfrentarem graves crises nos setores do mercado de ações e aviação, respectivamente, enquanto Caterham e Marussia nem contam, coitadas, com apoios suntuosos. Por falar em Marussia, a revista inglesa “Autosport” publicou dia desses que o time russo é o único, até agora, a não ter recebido uma proposta comercial da FOM (leia-se Bernie Ecclestone) para fechar o novo Pacto de Concórdia. Sendo assim, sua posição pode ser a mais delicada de todas.
Apesar do tom alarmista do texto da “Auto Motor und Sport”, a F1 está realmente na corda bamba. Segundo Michael Schmidt, as equipes mais sólidas do grid continuam a extravagar em suas gastanças, empregando mais de 500 funcionários, contra uma média de 300 das concorrentes médias. O autor chega a mencionar como os dirigentes desperdiçam rios de dinheiro fretando peças novas e atualizadas das fábricas até os autódromos durante um fim de semana de GP, quando os treinos já estão rolando, ou quando contratam funcionários apenas para (e tão somente para isso, deixando bem claro) fazer o resfriamento dos freios quando os bólidos voltam aos boxes, porque senão as pastilhas superaquecem. Tudo é reflexo da forma agressiva co que os veículos são projetados para explorar o limite aerodinâmico e de suas peças, numa velocidade quase doentia de evolução.
Com muito dinheiro para investir na F1, Red Bull e Ferrari são, atualmente, exceções na F1 (Rob Griffith/AP Photo)
Com muito dinheiro para investir na F1, Red Bull e Ferrari são, atualmente, exceções na F1 (Rob Griffith/AP Photo)
Em entrevista recente ao site oficial da categoria, Ecclestone voltou a defender que a categoria não precisa de um teto orçamentário. Por outro lado, até a tricampeã Red Bull andou voltando atrás em algumas teimosias e parece mais afeita a essa medida. O problema é que times como este, ou a própria Ferrari, querem um limite de US$ 200 milhões por temporada, algo que já está além da realidade de todas as supramencionadas.
Algumas mentes precisam entender que a fase jactante e até voluptuosa da F1 já é coisa do passado. É como o ex-rico que perde tudo, mas continua gastando horrores para manter o “padrão de vida” de sua família, mesmo sem ter reservas nem para o dinheiro do feijão. Uma hora, como diria Fernando Vanucci, o castelo de areia vem abaixo, abaixo.

Disponível no(a):http://tazio.uol.com.br

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