26 de mar. de 2013

Avaliação: Honda VFR 1200X Crosstourer se destaca pelo câmbio

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No universo de duas e quatro rodas, sempre fica um dilema quando o assunto é preço versus status. Muitas marcas premium cobram caro por seus produtos, mas, em compensação, oferecem mais equipamentos e, claro, o status inerente à grife. Na hora da revenda, isso cai por terra, vale lembrar: o preço pode desvalorizar até mais que uma moto de marca “comum”.

É o caso típico de Volkswagen versus Audi entre os carros, e de Honda versus BMW com as motos. Tome como exemplo o lançamento da marca japonesa para uso misto, a grande cruzadora de continentes VFR 1200X Crosstourer. Irmã da elogiada estradeira VFR 1200F, a moto é de fato uma Honda à parte: traz certa vocação fora-de-estrada, freios com ABS, motor V4 e estreia controle de tração. Porém, o preço é para poucos: R$ 79.900, o mesmo cobrado pelo mito da BMW, a R 1200 GS.
Concorrentes nipônicas de peso oferecem pouco a menos em termos de equipamento, por cifras mais módicas: a Yamaha Super Ténéré 1.200 custa R$ 61 mil e a Kawasaki Versys 1.000, com motor amansado da Ninja, é vendida por R$ 50 mil. A Triumph Tiger Explorer 1.200, mais nova concorrente da turma, também para lá de completa, tem status britânico e custa “apenas” R$ 62.900. Veja como anda a nova “Hondona” e faça suas contas.
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X-Tudo
Em termos de design, a Crosstourer é interessante. Porém, traz um visual pacato se comparada à Triumph Tiger Explorer, por exemplo. A dianteira e o conjunto óptico são muito parecidos com os da irmã menor NC 700X. O acabamento é bem cuidado, porém, um tanto quanto simples para o segmento, a exemplo dos retrovisores que parecem vir de motos mais baratas. Em contrapartida, os piscas trazem lâmpadas de LED e o painel de cristal líquido é completíssimo. Outro diferencial é o quadro em alumínio, bastante reforçado.
Apesar de alta, a big touring/trail traz assento com 850 mm de altura, de maneira a atender também aos mais baixos – apenas menores de 1,70 m vão sofrer um pouco. A ergonomia é bem acertada, com posição de pilotagem ereta e agilidade na medida certa. As principais dimensões, comprimento x largura x altura, são respectivamente de 2.284 x 916 x 1.335 mm, com distância entre-eixos de 1.596 mm. Ou seja, é uma moto que não tem como fugir do elevado peso (261 kg a seco, sem líquido algum).
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Mesmo assim, a Cross se mostra ágil na cidade e mal parece ter a massa real. O guidão largo esterça bastante e passa com folga por cima da maioria dos espelhos de carros, bem amparado por protetores de mãos. Desagrada a largura exagerada do tanque, o que obriga o condutor a ficar com as pernas muito abertas. Também é preciso certo cuidado ao passar por trechos esburacados: o banco avança pouco sobre o tanque, o que pode causar severo choque de “ovos”, conforme infelizmente pudemos vivenciar… O para-brisa, por sua vez, poderia ter ajuste de altura por roldanas – como na Versys –, e não chave específica. Mas cumpre bem a tarefa de proteger o condutor. Em especial ao viajar, algo que a Crosstourer cumpre com louvor e grande aptidão.
Tecnologia extensa
O pacote motor/transmissão da VFR é um capítulo à parte. Trata-se basicamente da mesma mecânica da irmã “F”, só que amansada. O quatro cilindros em “V” manteve os generosos 1.236 cc de capacidade, mas passou por mudanças no cabeçote e até na saída de escapamento mais restrita. A potência passou de 172,7 cv a 10.000 rpm para 129,2 cv a 7.750 rpm e o torque, de 13,2 kgfm a 8.750 rpm para 12,8 kgfm a 6.500 rpm. Ainda assim, há força de sobra desde giros mais tenros, o que dispensa elevar a rotação em uso urbano.
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A potência da Cross perde apenas para a Triumph Explorer 1.200, com seu tricilíndrico de 137 cavalos. Com o “ronronante” V4 acoplado ao câmbio automatizado com dupla embreagem (discos independentes para engrenagens das marchas pares e ímpares), o resultado é uma moto precisa nas mudanças, tanto para subir como para descer marchas. As trocas são mais rápidas do que o normal, e levam em conta o tipo de condução e posição do acelerador. No início o condutor fica bastante “perdido”, procurando o câmbio com o pé, e a embreagem com a mão. Porém, bastam algumas voltas para se acostumar ao conforto do sistema.
Do lado esquerdo do guidão ficam diversos comandos, dentre eles as teclas de “- e +” para efetuar as trocas manuais de marchas e até um bem-vindo freio de mão. Já ao lado direito estão as teclas para engatar o câmbio: “Drive”, “Neutral” e a posição Sport, para o motorzão encher cada marcha até giros mais altos. Há também a opção de usar o câmbio em posição manual – na verdade, digital, apenas pelas teclas.
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Ao parar a moto, a posição “N”, de neutro, deve ser acompanhada do freio-de-mão. Aliás, a capacidade de frenagem da Crosstourer é das melhores: o sistema com discos dianteiros de 310 mm e traseiro de 276 mm é bem modulado e, em conjunto com o ABS, mostra-se preciso e muito seguro. Se a proposta for encarar um fora-de-estrada, vale lembrar que há duas ressalvas: ao passar por ondulações, o controle de tração corta bem a aceleração, o que na terra é algo ingrato. Apesar de não contar com modos de atuação – como na Super Ténéré –, ele pode ao menos ser desligado.
Outro detalhe é que as suspensões – dianteira invertida e traseira com monobraço – são um tanto firmes. Com longo curso (165 mm na dianteira e 146 mm no link traseiro), até encaram estradinhas ruins, mas são boas mesmo para o asfalto. Em conjunto com os largos pneus mistos – 150/70 R17 traseiro e 110/80 R19 dianteiro – a Cross adora curvas e não nega o parentesco com a irmã. Destaque para a transmissão por eixo cardã, que dispensa maiores manutenções e atua de maneira suave junto ao “supercâmbio”.
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O desempenho é muito bom, com torque abundante, baixa vibração e disposição de sobra acima dos 4.000 rpm. Em movimento, a Cross mal parece beirar os 300 kg, saindo-se bem também na cidade. Algo auxiliado pelo bom ângulo de esterço do guidão. Mas, para manobras e paradas em vagas “comuns”, sente-se bem seu peso e porte. Não há milagre! O tanque de combustível de 21,5 litros garante boa autonomia, mas atenção porque a reserva é pequena e acontecer uma “pane seca” não é difícil.
Conclusão
Assim como a irmã VFR 1200F, a Crosstourer é um produto extensamente testado, e aprovado. Porém, não justifica preço tão salgado para uma moto que não causa maiores suspiros. Tanto no condutor, que apesar do conforto da transmissão perde prazer de pilotagem, como nos outros, por “culpa” do design pacato. A garantia de um ano sem limite de rodagem. E as cores são branca ou vermelho metálico.
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Pelo preço, tende a ser um produto de vendas contidas, uma vitrine de tecnologia da marca. Poderia custar até uns R$ 70 mil, valor tido como justo para a tecnologia embarcada e para a realidade do mercado. Uma versão com câmbio tradicional, que existe lá fora, também seria bem-vinda. Afinal, só rodando com uma moto “automática” para saber se vale ou não a pena ter o sistema – e levar seu peso extra – pagando bem mais por ele.
Por Guilherme Silveira
Disponível no(a):http://carplace.virgula.uol.com.br

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