17 de fev. de 2013

F-1:Por que os pilotos de hoje são tão certinhos (e chatos)?

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Como um piloto se prepara para disputar a última corrida do campeonato? Se você for James Hunt, a preparação é regada a álcool, maconha e cocaína. Talvez uma maratona sexual com 33 comissárias de bordo em duas semanas. Você consegue imaginar Sebastian Vettel pegando umas gatas da British Airways, e enxugando um barril de Heineken antes de entrar em seu carro da Red Bull?

Hunt era a essência do piloto playboy. Depois de vencer o GP da Grã-Bretanha de 1976 tudo o que ele queria era fumar um cigarro no pódio, e o ex-chefão da F1 Max Mosley testemunhou Hunt aspirar duas esticadas de cocaína no Rio de Janeiro, e disse que não ficaria surpreso se o inglês chegasse à linha de chegada muito louco.
Não estou dizendo que os pilotos devem usar drogas e arrumar encrenca, mas seria legal ver um pouco mais de autenticidade em vez daquela monotonia robótica que testemunhamos ao longo da temporada. A exceção que prova esta regra é nosso ídolo Kimi Raikkonen. Todo mundo lembra do cara bêbado, caindo de cara em um iate em Mônaco, não é mesmo?
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Sim. Kimi é o cara e seu retorno à F1 no ano passado apenas enfatizou o quanto sentíamos sua falta. Os pilotos de hoje se acorrentam por algemas corporativas e dançam como marionetes em um teatro — só que de um jeito menos interessante.
Sir Stirling Moss (nosso outro ídolo) diz que “é isso o que acontece quando a grana fala mais alto. Quando a corrida termina, em vez de procurar umas gatas como fazíamos na minha época, eles têm que agradecer à Vodafone.”
O campeão Alan Jones completa:
“São todos preciosistas hoje, não? Quando eu corria se alguém te sacaneasse, você colocava o nome do cara em um caderninho e esperava uma oportunidade de dar o troco. Dar a ele algo para pensar a respeito. Agora eles reclamam por terem atrapalhado sua volta, por serem bloqueados — nós acertávamos as contas do nosso jeito, sabe?”
Mas nem tudo está perdido hoje, é claro. Lembra quando Will Power mandou aqueles dedos ao fiscal de prova ao vivo em rede nacional? Aquilo foi incrível, embora eu tenha certeza de que  a Verizon Wireless e a equipe de Roger Penske não tenham achado aquilo tão incrível. Ainda assim causou rebuliço.
Esse problema não se limita ao automobilismo — tornou-se uma regra em todos os lugares. Veja os rockstars de hoje. Dá para imaginar os Jonas Brothers entrando no camarim antes do show por um buraco no teto de metal que ele mesmo abriu como fez Keith Moon? Ou qualquer outro nome do rock alternativo moderno chapado de cocaína por 72 horas como Ron Wood e Keith Richards faziam?
Repito: não estou dizendo que devemos jogar carros em piscinas (embora esse tipo de incidente pareça divertido); mas os superstars são modelados para atender às necessidades do mundo corporativo. Isso faz aqueles flagras de bastidores parecerem um filme roteirizado. O dinheiro fala mais alto e o medo de perdê-lo é o suficiente para eliminar qualquer tipo de comportamento mais espirituoso.
Precisamos de mais Jeremy Clarksons nesse mundo. Caras que não dão a mínima para o que os outros vão pensar. Mais gente que fala primeiro e pensa depois. Ou talvez Jeremy pense antes, mas ache melhor apertar o f***-se. Contudo, é preciso admitir que se Top Gear não tivesse o sucesso e o status que tem, a BBC já o teria dispensado há muito tempo.
Não quero ver Vettel esticando uma antes da corrida, mas gostaria de ver os pilotos sendo mais naturais, mais James Hunt, mais A.J. Foyt, mais Eddie Irvine e até Kimi Raikkonen. Às vezes vemos lapsos desse comportamento, e quando isso acontece os fãs enlouquecem. A NASCAR é onde mais se vê disso, mas mesmo assim, os patrocínios milionários falam mais alto.
Os patrocinadores merecem reconhecimento e o apreço à vasta quantia que investem é algo prudente por parte dos pilotos. Mas os patrocinadores também querem fãs e buzz para justificar o investimento, e os fãs querem um piloto que fala o que pensa. Você acha que a Mobil One gostou de ouvir Kimi dizer a Martin Brundle que estava “cagando” ao vivo na tv britânica? Claro que não, mas veja quanta atenção aquilo atraiu. Aposto que eles mudaram o modo de ver as coisas (ao menos um pouco).
Há uma linha tênue sobre a qual os pilotos têm que andar, mas precisamos de mais caras para mudar os limites, quebrar as regras e divertir o povo.
Dizem que os pilotos são chatos. Eles não são. Só são chatos na TV. Devo admitir que não sou nenhum James Dean, mas se alguns caras despertassem seu James Hunt interior, os índices de audiência voltariam a subir e não ficaríamos entediados com um jogo disputado por funcionários exemplares de certas corporações.

Sobre o autor: @Alex_Lloyd começou a correr nos EUA em 2006. Ele venceu o campeonato da Indy Lights em 2007. Ele competiu nas 24 horas de Daytona duas vezes e quatro nas 500 milhas de Indianápolis – chegando em quarto em 2010. Nascido em MADchester, Inglaterra, ele começou aos oito anos no kart, monopostos aos 16 e terminou em segundo – atrás do campeão de F1 Lewis Hamilton – na temporada 2003 da Fórmula Renault britânica, seguido por uma passagem na A1GP e vitórias na Fórmula 2000. Ele vive em Indianápolis com sua esposa Samantha (também inglesa) e três crianças. Ele também gosta de competir em triatlos e tem uma predileção por uma boa xícara de chá inglês.
Fonte: Jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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