Enquanto dirigíamos pela América recentemente, James
May e eu encontramos um carro de tamanha feiúra que nós paramos para
darmos uma olhada melhor. Ele chamava-se Nissan Versa, e eu simplesmente
não consigo imaginar no que a equipe de design estava pensando quando
eles estavam desenhando-o. No Austin A35, provavelmente.
Nós dois concordamos que era o pior carro que já
vimos e que nunca encontraríamos, em nossas vidas, uma máquina cuja
aparência nós odiássemos mais. Mas então, logo na esquina seguinte,
encontramos um Chevrolet Sei-Lá-o-Quê, que era ainda mais terrível.
Metade Chrysler PT Cruiser e metade Morris Traveler, era uma mistura desconjuntada de nada que alguém gosta.
E então mais tarde, enquanto estávamos num
estacionamento de San Diego, notamos outro carro. Não fazíamos idéia do
que era. Tinha quatro rodas, quatro portas e era feito de metal. Ele
tinha janelas e portas, e nenhum de nós podia achar uma boa razão para
alguém ter comprado semelhante coisa.
Não era tão estúpido quanto o Nissan e o Chevy que
vimos anteriormente. Na verdade, não era nem um pouco estúpido. Nem
feio. Era nada. Era apenas um buraco em forma de carro na paisagem.
Depois, descobrimos que era um Hyundai. Nós até descobrimos o modelo.
Mas nós esquecemos.
Eu vou ser honesto. Eu sofro para saber os nomes de
muitos dos carros na estrada hoje em dia. Já se foram os dias quando
você podia notar um Ford Cortina MkI, mesmo se você tivesse visto apenas
as lanternas traseiras de relance. Agora, muitos carros são apenas
ferramentas, tão únicos quanto máquinas de lavar. Eles vêm. Eles são
testados no What Car? Eles vão.
Claro que ainda há muitos carros caríssimos para
manter os fãs e designers de carros felizes. Mas e quanto aos carros
comuns, carros que custam menos de £150 milhões? Carros que pessoas que
não sejam Sir Elton John possam comprar? Não. Em sua maioria, são carros
a diesel de tração dianteira com piloto automático que o ajudam após
você cair no sono.
Por isso que gosto tanto do GT86. Por ele vem
acelerando com tudo até a outra ponta do mercado com um sorriso enorme e
pervertido em seu rosto e cuja postura parece sugerir que quer se
divertir com suas partes íntimas. É um carro feito para apenas uma
coisa: diversão.
Primeiramente, ele tem tração traseira. Isto é muito
importante. Claro, você pode fazer um carro andar pelas rodas dianteiras
da mesma maneira que você pode fazer um molho com maizena. Mas se
quiser fazer isso direito, você precisa de um “roux”. E isso significa
virar o motor e instalar um eixo de transmissão.
Sim, é trabalhoso, e você fica com um porta-malas
menor e menos espaço na cabine, mas estas coisas não devem incomodar o
verdadeiro “petrolhead”. Porque quando se tem tração traseira, você tem
equilíbrio. Tem uma divisão de tarefas. As rodas dianteiras cuidam da
direção. As traseiras cuidam da propulsão.
Além disso, quando se tem tração traseira, dá para
dar derrapadas melhores. E para ter certeza de que você possa dar essas
derrapadas em baixas velocidades – para que você esteja em segurança se
(quando) algo der errado – o GT86 não tem pneus largos e aderentes. Ao
invés, ele tem a mesma borracha que a Toyota usa no Prius.
Claro que não adianta ter todo o trabalho de instalar
uma tração traseira se for instalar um motor de uma parafusadeira
elétrica debaixo do capô. Veja o MX-5 original para mais detalhes. E, a
princípio, eu achei que a Toyota caiu na mesma cilada.
Dois litros num carro pesado moderno não parecem ser o
bastante. Mas é. Por pouco. E “por pouco” é o bastante. Porque isto
significa que você pode fazer o carro derrapar e mantê-lo derrapando.
Bom, você não pode, obviamente, porque você está numa estrada. Mas você
poderia, se você não estivesse.
O GT86 é um belo carro de dirigir. A direção é
perfeita, a suspensão é esportiva sem ser estúpida, a dirigibilidade é
épica, a aderência é parca (leia-se “excelente”), e há “oomph” o
bastante para que você não fique em último numa corrida entre semáforos.
Dentro, você tem todos os brinquedos que precisa e
nenhum que será utilizado apenas uma vez, pelo vendedor na
concessionária, e então nnca mais será utilizado. Com exceção do piloto
automático.
Da mesma forma, a Toyota não quis saber de couro
costurado à mão ou porta-copos de fibra de carbono. Porque se o carro
tivesse essas coisas, ele custaria £35 mil (R$116.600). E isso o faria
enfrentar uma BMW M135i numa batalha que ele não teria como ganhar e que
nem deveria enfrentar.
Normalmente, eu argumentaria que não existe algo bom e
barato. Há “barato e nojento” ou “caro e bom”. Mas aqui está uma
exceção. É mais barato que uma BMW M135i. E é melhor. Não é
especialmente bonito, e ele não faz um som especialmente intoxicante. E
ele parece estar apenas disponível em um dos tons vermelhos mais
revoltantes que já vi. Mas nada disso importa assim que você aperta o
botão da ignição, bota uma música no rádio, engata a primeira e acelera.
No trânsito, você estará em um carro, assim como todo
mundo. Você não estará numa situação melhor do que Simon Cowell em seu
Rolls-Royce ou aquele tapado no Nissan Versa. É a mesma história na
rodovia. Mas chegará um momento quando o trânsito sumirá, a polícia não
estará observando e terá um belo trecho de estrada à frente. Numa
situação desta, um GT86 irá deixá-lo feliz.
VOcê terá o tipo de diversão que normalmente apenas
os superricos têm, mas sua diversão é melhor, porque não é assustador.
Para fazer uma Ferrari sair da linha, você precisa estar em velocidade
Mach 2. Para fazer um GT86 sair de traseira, você só precisa estar a 32
km/h.
E mesmo assim, ele é tão controlável que você sabe
exatamente o que fazer a seguir. Eu sugiro que freie. E então, passe
para o banco traseiro. Porque este carro é tão bem ajustado que ele
provavelmente controlaria a situação muito melhor do que você.
Não é um carro ótimo. Mas é um carro muito bom com um
preço ótimo. O que torna-o uma excentricidade agradável. E é por isso
que eu o escolhi como O Carro do Ano. Esse também é o motivo – após uma
longa discussão envolvendo pessoas berrando sobre Range Rovers – pelo
qual o GT86 leva o grande prêmio. Este é O Carro do Ano da Top Gear
Magazine. E é um vencedor digno, barato, e incrivelmente divertido.
TEXTO: Jeremy ClarksonFOTOS: Rowan Horncastle
Fonte: Top Gear BR
Disponível no(a): http://topgearbr.wordpress.com
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