3 de mar. de 2012

Três indigestas saladas da Mazda ao sabor Wankel

Após tantos anos lidando com motores Wankel, a Mazda acumula bom grau de conhecimento sobre o assunto. Seus motores conseguem bons desempenhos, e o consumo dos rotativos mais modernos chega a ser compatível com o de carros equivalentes com motor a pistão. Graças a vedações mais modernas, também o consumo de óleo foi diminuído.



Também foram dadas muitas batidas de cabeça, principalmente na fase de maior euforia com os rotores triangulares, imaginados como sucessores dos motores a pistão também por GM, Mercedes e Citroën antes de vir a crise do petróleo e as leis antipoluição mais rigorosas. Tamanha euforia gerou algumas combinações inadequadas, com as que vamos passar a seguir.

Rotary Pickup (REPU)


Wankels podem levar pessoas e suas bagagens com relativa competência. Por que não levar carga em um contexto utilitário? Era essa a proposta da Rotary Pickup, derivada da B1600 e lançada em 1971. Apresentada em 1974, a REPU também vinha mais invocada que sua irmã a pistão, com uma frente mais agressiva e bordas mais pronunciadas nos para-lamas. Se ainda assim alguém não sacasse o que estava no cofre, era ultrapassado e passava a ler “ROTARY POWER” em letras garrafais na tampa traseira. Além disso, a bateria abandonava o cofre do motor para ocupar uma caixinha na lateral inferior da parede da caçamba.
Mecanicamente, o motor 13B era acoplado a uma transmissão manual de quatro marchas ou a uma automática de três. Em 1977, a pick-up acabaria ganhando transmissão manual de cinco marchas.

Por fora, dimensões relativamente contidas, com 4,39 m de comprimento, 1,70 m de largura, 1,55 m de altura e entre-eixos de 2,64 m. Antevendo uma pretensão mais esportiva, as bitolas eram de 1,42 m, 12 cm maiores que as da B1600 e justificando os para-lamas mais saltados. Fora isso, sua capacidade de carga era de 635 kg, contra os 544 da irmã a pistão.
Pesando entre 1.230 a 1.240 kg, o birrotor de 110 cv a 6.000 rpm e 16,8 kgfm a 4.000 rpm não tinha maiores problemas na hora de acelerar a REPU de 0 a 96 km/h em cerca de 11 segundos e fazê-la atingir velocidade máxima na casa de 170 km/h, valores muito bons para aquela época.

Com isso, não foi à toa que ela inclusive ganhou lugar nas competições ao vencer o Rali de 24 horas de Mojave de 1975, pilotada pela dupla formada por Malcolm Smith e Jack Sreenan, 16 anos antes de o 787B encantar o mundo em Le Mans.
Porém, seu lado caminhonete era penalizado por custar US$ 3.500 (500 verdinhas a mais que a B1600 em um tempo em que isso era muito dinheiro) e ter consumo médio de 7 km/l em uma era penalizada pela crise do petróleo. Para saciar a sede de gasolina, a capacidade do tanque da REPU era de 75 litros, contra os 42 da B1600.
Ainda assim, foram produzidas 15 mil unidades em sua carreira, encerrada em 1977, ano em que se despediu ostentando uma cabine 10 cm mais longa. A maior parte delas está nos Estados Unidos, onde o veículo gerou uma espécie de culto.

Parkway Rotary 26


Você precisava levar muitas pessoas no Japão de 1974? A Mazda tinha o veículo adequado para você: o micro-ônibus Parkway Rotary 26. Parte dele já era bem conhecida e havia sido lançada em 1972 na forma do Parkway 26, usando uma unidade a gasolina convencional de 2 l e 92 cv. A quem quisesse mais economia de combustível, havia um motor 2.5 a diesel com 77 cv e outro de 2,7 l, com 81 cv. Com isso, dava para levar 26 pessoas com conforto e ter força suficiente para as muitas serras do Japão.
Porém, houve a ideia de se obter mais força e provar os prodígios do Wankel. E lá foi a Mazda montar o 13B no pequeno coletivo. Com isso, ela conseguia chegar a bons 120 km/h. Mais ainda, também era aprovado na lei japonesa antipoluentes com boa margem e proporcionava viagens mais livres de vibrações e barulhos. Quem quisesse mais espaço podia optar pela versão Super DX, que levava apenas 13 pessoas.

Porém, levar por aí 2.885 kg distribuídos em 6,19 m de comprimento, 1,98 m de largura e 2,29 m de altura apoiados em 3,28 m de entre-eixos é se sempre foi uma tarefa complicada, ainda mais se você se dispuser a levar 26 pessoas por aí. E para fazer um 13B render, é preciso jogar a rotação lá para cima, uma vez que os 135 cv eram atingidos a 6.500 rpm e os 18,3 kgfm, a 4.000 rpm. Imagine então quando há só quatro marchas para aproveitar essa força. Não é à toa que só 44 exemplares foram produzidos. O veículo foi descontinuado em 1976.

Roadpacer AP


Se impulsionar um ônibus é tarefa dura, talvez seja uma boa montar um motor de baixas vibrações em um carro de grande porte que inclusive possa abocanhar umas compras governamentais. Essa ideia foi a que gerou a estranha barca, lançada em 1975. O motor? O polivalente 13B, obviamente.
Para economizar em projeto, a carroceria era a mesma que a Holden usava no Premier das versões HJ e HX, embarcada sem mecânica para a terra do Sol Nascente. O australiano naturalizava-se japonês ao receber transmissão automática da Jatco, o 13B e luxos que à época pouquíssimos carros no mundo tinha, como travas de porta que funcionavam automaticamente após o carro passar dos 10 km/h e sistema de som que podia ser controlado também pelos passageiros de trás, mais os indefectíveis retrovisores nos para-lamas. Caso ele passasse dos 90 km/h, havia um aviso sonoro. Pensando no uso por executivos e funcionários governamentais, havia também um gravador de voz embutido.
A tarefa do 13B seria mais fácil que a de impulsionar um micro-ônibus, pois eram 1.575 kg (e não 2.885) a serem levados. Além disso, a unidade era mais potente que o motor Red de seis cilindros em linha usado na Austrália, desenvolvendo 136 cv. Porém, essa potência era atingida a altas 6.000 rpm e o torque máximo, de 19,1 kgfm, a também altas 4.000 rpm. Para agravar o problema, a transmissão automática, de três marchas, não conversava muito bem com um motor feito para girar alto.

Com isso, sua velocidade final não era tão alta quanto se poderia supor, chegando a 166 km/h. O veículo também acelerava pouco e seu consumo médio – que vai deixar dono de Landau animado – era de 3,8 km/l. Fora isso, o Mad Max com Akira Kurosawa no coração ficava desajeitado nas estreitas ruas japonesas com seus 4,85 m de comprimento, 1,88 m de largura 1,46 m de altura e 2,83 m de entre-eixos tendo de ser esterçados em um enorme diâmetro de giro de 12,6 m.
Não é de surpreender que tenha saído de linha em 1977 com apenas 800 unidades produzidas. Porém, foi o único veículo de série com projeto da GM a ter sido vendido com motor Wankel. Vale a curiosidade.
Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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