3 de mar. de 2012

Os gregos tinham tecnologia para construir um automóvel no ano 60 D.C. ?



A Mercedes-Benz gosta de fingir que inventou o automóvel, mas eles não passam de um monte de lataria alemã luxuosa e bem projetada. As raízes do automóvel são muito mais antigas, e pesquisar quão antigas me fez pensar: se ignorarmos a verdadeira história e imaginarmos uma realidade paralela, quando o primeiro carro poderia ter sido construído – ao menos tecnicamente? Que tal no ano 60 D.C., em pleno Império Romano?

A referência mais antiga a qualquer tipo de máquina autopropelente que encontrei é de 1672, quando Ferdinand Verbiest – um missionário flamengo que vivia e trabalhava na China – construiu um pequeno modelo em escala de um carro movido a vapor, certamente um brinquedo para entreter o imperador chinês. Não se sabe se ele realmente foi construído, e mesmo que tenha sido, era pequeno demais para transportar uma pessoa, então não conta.
Isso faz da máquina a vapor feita por Nicolas-Joseph Cugnot em 1771 o primeiro automóvel, que é o que normalmente nos ensinam. Legal, é um começo, messiê Nicolá Cunhô, mas acho que um automóvel funcionante pode ter sido construído muito antes disso. Não necessariamente um automóvel bom ou prático, mas um que atenda aos seguintes requisitos:
• precisa ser motorizado de alguma forma (uma máquina ou força animal)
• precisa ser direcionável ou controlado de alguma forma
• precisa ser capaz de transportar ao menos uma pessoa

Enquanto pensava nisso comecei alguns esboços, mas depois enlouqueci, peguei meu software 3D arcaico e fiz um modelo 3D, para ver como esse negócio seria. É um pouco cru, eu sei, mas acho que dá uma boa ideia do que estou tentando descrever.
Depois de pesquisar um pouco acho que os melhores candidatos a ter construído este hipotético primeiro carro são os gregos antigos, um deles especificamente: Heron de Alexandria. Heron era uma espécie de Tesla ou Edison do mundo antigo; ele inventou a vending machine (aquelas máquinas automáticas de refrigerante), as primeiras máquinas a usar a força do vento, a seringa, a bomba de pressão, fez as primeiras experiências com automação e – o que mais nos interessa – fez o primeiro motor a vapor, um negócio chamado eolípila.

Você já deve ter visto a imagem de um eolípila e seu visual distinto: uma esfera com dois bicos – um em cada hemisfério – apontando para direções opostas, montada sobre dois tubos que a ligam a uma caldeira cheia de água sobre uma fonte de calor. O funcionamento é muito simples: a água fervida na caldeira forma vapor que preenche a esfera e escapa pelos bicos opostos, girando a esfera graças à lei da ação e reação. Isso é um foguete primitivo, um motor de reação.


Não é muito eficiente, especialmente com a intensidade da pressão que os gregos conseguiam obter, mas ao menos conseguia produzir trabalho. O próprio Heron pensou no eolípila apenas como um brinquedo, embora acredite-se que ela tenha sido usada para abrir portas automáticas em um templo. Há alguma discussão sobre isso, mas as versões medievais do eolípila eram usadas para girar espetos de assados, e não há motivo para que ele não pudesse ter sido usada para algum trabalho. Isso é bom, pois é o motor do meu carro hipotético.
Para fazer o motor de Heron produzir potência suficiente para ser utilizada, pensei em duas coisas que precisariam ser feitas: o eolípila precisaria ser aumentado em uma boa escala, e o giro precisaria de uma relação inferior para transformar velocidade rotacional em torque. Heron conhecia engrenagens e as relações entre elas, e as empregou em várias de suas máquinas. Neste exemplo, estou engrenando com correias e polias para manter o peso baixo e acomodar a estranha estrutura do veículo.
A esfera giratória tem sua força transmitida por polias de pequeno diâmetro construídas na concha de bronze da esfera, próximas ao eixo/tubos de entrada de vapor, e essa força é usada por um conjunto de polias de diâmetro bem maior instaladas no eixo. Este arranjo transformaria a velocidade da rotação da esfera em torque no eixo, da mesma forma que a primeira marcha de um carro. Não acho que uma transmissão variável seria possível, portanto este é um veículo de uma só marcha. E essa única marcha seria um pouco melhor que o ritmo de uma caminhada  (vou usar esse argumento como desculpa por não ter pensado em freios e em um acelerador).

O chassi é bem simples, baseado na habilidade de construção de bigas dos gregos da época. Isso significa que não há nenhum tipo de suspensão, uma vez que aparentemente nenhuma das bigas as usava. Provavelmente seria construído combinando bronze, madeira e um pouco de ferro para os eixos e outros elementos. A carroceria limita-se a uma proteção frontal semelhante à das bigas, e um escudo no meio para separar o condutor da fornalha e do vapor expelido pelo motor logo atrás dele. O fogo seria abastecido por um buraco nesse escudo.
O veículo usa um esquema de cinco rodas por vários motivos: inicialmente planejei um esquema de três rodas para manter o mecanismo de direção o mais simples possível (é baseado em uma articulação simples, algo compreendido na época e fácil de produzir), mas quando o comprimento total deste monstro ficou claro, percebi que seria preciso de um par adicional de rodas no meio para sustentar o peso do automóvel. Também vale mencionar que esse negócio teria sido barulhento, quente e assustador de se ver em ação, o que eu considero uma vantagem.

Acho que este projeto estaria ao alcance dos gregos antigos, e acho que ele teria funcionado ainda que de modo limitado. Não seria fácil construí-lo, mas acho que quem construiu a Acrópole teria tirado de letra, se houvesse interesse. Provavelmente teria sido usado em desfiles políticos ou religiosos, imagino. Quem sabe? Se os gregos tivessem realmente construído isso em 60 D.C. imagine onde estariam hoje os meios de transporte. Isso poderia ter levado ao desenvolvimento de trens a vapor, e eu até posso imaginar como o Império Romano teria adorado uma malha ferroviária. Se tivessem feito ferrovias em 500 D.C. o que teríamos hoje? Carros voadores? Jetpacks? Calças a jato?
Eu pareço meio bobo quando começo com esse negócio de história alternativa, então desculpem-me pela extensão e pelo embaraçoso entusiasmo deste post. O que precisamos agora é convencer os caras do Mythbusters a construir e testar esse projeto. Alguém aí tem o email deles?
Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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