3 de fev. de 2012
Aviação- Museu da TAM, parte 1: os caças da Segunda Guerra- Por Leo Nishihata
Bem amigos, devo informá-los que, ao longo dos próximos dias, vamos dedicar um espaço bem amplo aos aviões. Não gosta de aviões? Paciência, pule os posts. Gosta de máquinas em geral? Então venha conosco num tour detalhado pelo espetacular museu mantido pela TAM em São Carlos, no interior de São Paulo. Pode confiar: é uma viagem emocionante.
Vamos começar pela parte que mais mexeu comigo: os caças da Segunda Guerra, as máquinas voadoras mais carregadas de sentimento, técnica, espírito guerreiro e beleza que o homem foi capaz de construir. São eles que me fazem às vezes pensar se gosto mais de carros ou de aviões. Sou apaixonado pelos dois, mas carros dos sonhos são coisas que você pode ver com certa facilidade – e, dependendo da conta bancária ou da profissão que escolher, pode inclusive dirigir.
Aviões de caça são diferentes. Você nunca poderá voar de verdade num deles, e para ver de perto e sentir o cheiro e tocar de leve na lataria geralmente precisa ir até a Europa ou os EUA.
Na frente do Messerschmitt Bf 109, devo ter ficado pelo menos meia hora simplesmente paralisado, em silêncio, sentindo sua presença e relembrando cada revista, livro, artigo de internet e vídeo que assisti a respeito desse mito durante toda uma vida antes de finalmente encontrá-lo.
Todos os aviões mostrados aqui, vale lembrar, são originais de época. Foram pintados nas cores de exemplares famosos que voaram sob o comando de pilotos lendários (prática comum em museus aeronáuticos, para ajudar a ilustrar a história dos modelos), mas em relação às especificações técnicas e maquinário, permanecem basicamente como vieram ao mundo.
Este Messerschmitt Bf 109 G-4, por exemplo, foi produzido na Alemanha em 1943, no auge da guerra. Atingido enquanto sobrevoava a Noruega, pousou em um lago congelado que acabou derretendo, e hibernou no fundo da água por mais de 40 anos, até ser localizado, resgatado e restaurado. Hoje ele está pintado com as cores, emblemas e marcações do JG27, uma dos mais clássicos esquadrões de caça de todos os tempos, com quase mil aviões abatidos num espaço de um ano e meio durante a campanha no norte da África.
Seu piloto mais famoso foi Hans-Joaquim Marseille, um personagem fantástico, boêmio e galanteador que, sozinho, anotou assombrosas 158 vitórias aéreas. Marseille faleceu em 1942 ao tentar abandonar seu Bf 109 depois de uma falha mecânica. Tinha apenas 22 anos, o que é sempre chocante de se lembrar.
Numericamente o mais importante caça alemão durante a Segunda Guerra, o Bf 109 é apaixonantemente compacto, limpo e esbelto, tal qual seu grande rival histórico, o inglês Spitfire. A versão Bf 109 G-4 saía de fábrica portando um motor Daimler-Benz DB605 de doze cilindros em V num arranjo invertido, com supercharger e picos de potência de 1.475 cavalos. A velocidade máxima chegava a 690 km/h.
Seu armamento era relativamente leve: duas metralhadoras MG 17 de 7,92 mm sobre o motor, e um canhão MG 151/20 de 20 mm atirando através do cubo da hélice. O Focke-Wulf Fw 190 surgido a partir de 1941 era um avião melhor e mais preparado, mas o Bf 109 continuou a ser o caça preferido dos ases alemães.
Na campanha aérea mais clássica do conflito, a Batalha da Inglaterra de 1940, o Bf 109 e o Spitfire protagonizaram combates lembrados eternamente pela intensidade e pelo drama vivido pela Inglaterra, inferiorizada em todos os aspectos militares e isolada ante um continente europeu quase totalmente ocupado pelos nazistas. Foi uma das poucas ocasiões em que o lado do bem e lado do mal estavam 100% definidos – e felizmente o bem venceu.
O Spitfire acabaria levando a melhor principalmente pelo fato de os Bf 109 estarem operando no limite de seu alcance. Junto com o Hurricane, ajudou a evitar a invasão da Grã-Bretanha pela Alemanha, tornando-se o mais famoso – e certamente o mais elegante – caça aliado de todos os tempos, e inspirando a imortal frase de Winston Churchill: “nunca tantos [os ingleses] deveram tanto a tão poucos [os pilotos da RAF]”
O exemplar em exibição no Museu da TAM é um Spitfire Mk IX fabricado em 1943. A versão Mk IX surgiu como medida emergencial frente à superioridade dos novos Focke-Wulf que começaram a combater no ano anterior. O antídoto: uma nova especificação do motor Rolls-Royce Merlin, um V12 que ganhou um novo supercharger de dois estágios para produzir até 1.710 cavalos.
Reparou no retrovisor montado em cima do cockpit? Era a solução para que os pilotos não fossem pegos desprevenidos na mortal posição de “seis horas”. Este Spitfire combateu para valer durante as operações aéreas em apoio ao Dia D, o desembarque aliado na Normandia, ou seja, os canhões de 20 mm que aparecem em detalhe na foto abaixo são armas veteranas de guerra.
O Spitfire sobreviveu à Segunda Guerra e continuou na ativa até bem depois, desempenhando os papéis de caça, ataque ao solo e reconhecimento, com motores cada vez maiores e mais potentes. Mas comparando ele e o Bf 109 – ambos projetos do final da década de 1930 – com o posterior Vought F4U-1 Corsair, fica nítida a diferença de gerações.
O Corsair é visivelmente maior e mais pesado, com suas características asas em forma de gaivota desenhadas para abaixar a posição do trem de pouso e aumentar a altura em relação ao solo para impedir que as enormes hélices do motor Pratt & Whitney R-2800 radial de 18 cilindros e 2.000 cavalos tocassem no chão.
Desenvolvido com a guerra em andamento para ser o caça definitivo da Marinha Americana e superar o lendário Mitsubishi A6M Zero japonês, o Corsair sofreu com vários problemas técnicos – o principal deles o fato de que a posição das asas e o cockpit recuado obstruíam a visão do piloto para baixo, tornando os pousos em porta-aviões bastante perigosos. No final das contas, porém, tornou-se um dos aviões mais bem-sucedidos da história.
Veloz (684 km/h), bem armado (seis metralhadoras de 12,7 mm), resistente e manobrável, dominou os céus do Pacífico nos últimos estágios do conflito. Depois do excelente desempenho contra os caças japoneses, continuaria na ativa em vários países até a década de 1960!
A delicadeza e ao mesmo tempo a robustez da montagem destes aviões é impressionante. São dezenas de chapas de metal e longarinas presas por milhares de rebites e parafusos. Uma construção nitidamente manual, feita em escala industrial – nada menos que 12.751 unidades do Corsair foram fabricadas.
Mas chocante mesmo é apreciar a imponência do P-47D Thunderbolt. Enquanto o Spitfire deslocava um peso máximo de pouco mais de quatro toneladas, os P-47 chegavam a pesar nada menos que o dobro, beirando os 8.800 kg quando totalmente carregado.
Não foi à toa que, quando as primeiras unidades chegaram aos esquadrões de linha de frente, os pilotos simplesmente não acreditaram que algo tão bojudo, grande e desengonçado pudesse dar conta de inimigos teoricamente muito mais ágeis.
Eles estavam errados, pelo menos em parte. O Thunderbolt conseguia escapar dos combates aéreos devido à sua grande capacidade de mergulho, e acabaria deslocado para missões de ataque ao solo, onde o armamento de oito metralhadoras de 12,7 mm mais foguetes e bombas sob as asas destruiria algo como 9.000 locomotivas, 86 mil caminhões e 6.000 veículos blindados inimigos.
Foi esse o tipo de missão alocada para o 1º Grupo de Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira, o esquadrão enviado para lutar na Itália junto com as tropas aliadas. Apesar do bom desempenho de seus P-47, oito pilotos faleceram após serem derrubados pela artilharia antiaérea alemã.
O avião das fotos está pintado com as marcações do caça do tenente-aviador Fernando Corrêa Rocha. O símbolo do avestruz com os escritos “Senta a Púa!” é usado até hoje pelo esquadrão, e os desenhos de bombas enfileiradas representam as missões reais cumpridas pelo piloto.
Ao redor do P-47D são exibidos vários itens utilizados pelos caçadores brasileiros na Segunda Guerra. O mais interessante para mim foi um tipo bastante primitivo de computador de dados (analógico, claro), no qual é possível calcular previsões para o tempo de viagem, consumo de combustível e correção de rota através da inserção das instruções pré-determinadas para cada voo.
E isso é só uma pequena parte do acervo com 96 aeronaves expostas. Logo mais, MiGs, Mirage, Meteor, helicópteros…
Fonte: jalopnik
Disponível no(a): http://www.jalopnik.com.br
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