25 de jun. de 2011

Primeiras impressões: Lotus Evora S



Se você saiu correndo para comprar um Lotus Evora no ano passado, você é um idiota. Se tivesse esperado, por apenas quatro paus a mais poderia ter comprado isso – o Lotus Evora S. E em vez de um esportivo que beira o exótico mas é desvalorizado e cheio de falhas, você agora teria um esportivo que beira o exótico, é desvalorizado, cheio de falhas mas que consegue ser o melhor esportivo que você pode comprar com menos de 100.000 dólares (nos EUA).

Nota de esclarecimento:  a Lotus fez tanta questão de que testássemos o Evora S que nos mandou à Califórnia, nos hospedou no Hyatt em Monterey e nos deixou abusar dos seus carros em Laguna Seca. Eles também nos serviram tequila em uma cantina próximo ao autódromo. Ajudou? Não. Foi uma viagem tranquila, para dirigir? Sim. Nós gostamos dessas viagens.
Faça as contas e você vai achar que pode comprar algo melhor que um Lotus Evora S. Algo com mais potência e velocidade. Algo mais barato. E certamente um trambulador que não parece tirado de uma velha Kombi. Mas você não vai conseguir, e aqui está o porquê.
Apesar do motor sobrealimentado de 345 cv, este Lotus de motor central não é um carro explosivo como um Nissan GT-R ou um Corvette Z06. Também não é a escolha “inteligente” como um Porsche Cayman, um Boxster ou um 911, com a familiaridade confortável que a marca oferece. E, definitivamente, não é um Elise ou um Exige, aquelas miniaturas ultraleves que se destacam nas pistas cujo interior lembra uma lata de ervilha vazia.  Baixando o nível e falando de um jeito macho-ogro, o Evora é uma supermodelo boa de cama e de fogão.

Em relação ao sexo, o desempenho das curvas doces e belas do Evora devem seduzir até mesmo os monges do Exige. Assim como o modelo de entrada, de 276 cv, os manobristas exibirão um Evora S ao lado das Ferraris, enquanto Porsches e Corvettes dividirão o gosto amargo dos cantos escuros. E falando em amargo, vamos falar sobre os primeiros compradores do Evora por um segundo.
Em outra importante tacada para uma marca que está se tornando conhecida por deixar seus fiéis seguidores na mão, a Lotus tirou 8.000 dólares do preço, baixando-o para 65.175 dólares. Os compradores do modelo S têm sua promoção também: 77.175 pelo dois lugares e 78.675 pelo dois-mais-dois.
Daria tudo para ouvir a conversa amargurada nos concessionários quando os fiéis primeiros compradores do Evora chegarem à loja para uma troca ou até mesmo para uma simples troca de óleo. Espere… acho que estou ouvindo algo… são eles! Estão carregando pedaços de pau? Eu estaria.
Os compradores do Evora S sentirão o amor da Lotus com ganhos bem-vindos em desempenho e no câmbio por um preço que parece bem mais razoável agora. Experimentamos esses ganhos avidamente em Laguna Seca, comparando o Evora S com seu irmão de aspiração natural. O empuxo, aderência e estabilidade direcional aprimorados no Evora S são visíveis desde a primeira volta. O aumento de 25% de potência para 1.436 kg (55 kg a mais que o modelo de entrada) dá ao S uma relação peso/potência melhor que a dos Porsches 911S e Cayman S – exatamente o que o Evora precisava para competir de verdade nessa categoria.

O S ganhou amortecedores mais firmes, buchas mais rígidas, novos braços horizontais da suspensão dianteira e barra anti-rolagem mais larga na traseira. Há a opção de rodas e pneus mais largos – 19 polegadas na dianteira e 20 na traseira, com pneus Pirelli P Zero Corsa. Tudo isso aumenta 22 % a rigidez lateral na dianteira e 32% na traseira.
Qualquer treinador com calça de lycra vai te dizer que para entrar em forma é preciso dar duro. E o sensacional resultado que você tem quando dirige qualquer Evora vem de sua estrutura leve de 220 kg de alumínio. Se você pegasse um Evora e tentasse torcê-lo, seria preciso mais de 2600 quilogramas-força para torcer o chassi em um grau. A Lotus afirma que é 50% mais rígido que uma Ferrari F430. A estrutura do Elise é praticamente um pudim perto desta, com quase 967 quilogramas-força de rigidez estrutural.
Claro, em comparação com o Elise e o Exige, o Evora leva vantagem na estabilidade em situações “no limite”, qualidade de rodagem, espaço interno, silêncio e outras amenidades. As soleiras largas ainda requerem alguma elasticidade, mas você não precisa ser um contorcionista do Cirque du Soleil para entrar no carro.
O Evora pode ser chamado de luxuoso por dentro; até o sistema de navegação meio que funciona. Mas os matadores bancos Recaro e o revestimento de couro bacanudo não conseguem esconder os instrumentos sem graça, telas que refletem a luz solar ou o visual e som do rádio Alpine. Sem a escala da Porsche ou os benefícios corporativos da Audi, a Lotus não pode usar muitos recursos no interior. Mas essa realidade torna os tropeços mais fáceis de perdoar, considerando a relação custo/emoção. Menos perdoável é a falta do falso pedal para o pé esquerdo.
O Modo Sport afina o acelerador, eleva a faixa de corte de 6.800 para 7.200 rpm e aciona um programa de controle de estabilidade mais livre. É parte do Sport Pack, que inclui um grande difusor traseiro preto, discos de freio ventilados e ranhurados, radiador de óleo do motor, caixa de marchas com relações esportivas e um novo escape aberto que faz música com os gases da exaustão. Mas essa música acaba parecida com o Kiss sem a maquiagem: uma perspectiva tentadora, seguida por pedidos desesperados para que voltem a cobrir tudo. O que esse escape amplifica é o V6 de 3,5 litros da Toyota que puxa o Camry durante suas intermináveis e indestrutíveis vidas. Nesse tipo de carro, andar na faixa de corte deve ser um deleite viciante.
O trambulador de seis marchas por cabo vem do Lexus IS200d. Este cetro da vergonha foi levemente aperfeiçoado, mas ainda toma pau de qualquer trambulador Honda:o curso é looongo, a pegada frouxa e quando a adrenalina surge, você é forçado a manejá-lo com cuidado para evitar arranhar o engate; fiz isso pelo menos três vezes durante as voltas cronometradas. Uma transmissão automática de seis marchas com aletas no volante chega em 2012.

E mais uma vez: apesar do calcanhar-de-aquiles do trem de força, o Evora é rápido, chegando aos 100 km/h em 4,3 segundos e fechando o quarto-de-milha em 12,8 segundos a 176 km/h. A velocidade máxima é de 275 km/h. Colocamos esses números em prática no Salinas Valley. Assim como o modelo base, o Evora S parece apenas respirar em vias públicas, traçando o percurso em uma incrível paz e serenidade. A combinação “pista e rua” revelou que o Evora S é um raro prazer, com visual e caráter britânicos e um desempenho que normalmente exige um cheque que passa do meio-milhão.
É um Lotus que você pode usar para ir trabalhar, para impressionar em um encontro, em viagens de fim-de-semana, ou até em grandes viagens, se você quiser. Alguém realmente precisa me explicar por que isso é ruim. Os fãs à moda antiga, tenho certeza, vão reclamar das concessões ao conforto e a realidade do mercado, até dirigir o carro e perceber que ainda é um Lotus. Porque ele ainda é simples e leve.
Lawrence Ulrich é um crítico automotivo do New York Times, Automobile e Popular Science.

Fonte: .jalopnik.
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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