19 de jun. de 2011

CAMPEONATO DE MARCAS, MAIS UM CAMPEONATO DA MENTIRA

Foto: Duda Bairros


Estou estarrecido. Começa hoje começa a Copa Petrobras de Marcas. Basta uma olhada no regulamento para ver claramente que órgão dirigente máximo do automobilismo no país, a Confederação Brasileira de Automobilismo, perdeu o pouco que tinha de vergonha na cara. Não satisfeita com a Stock Car de mentira, na qual as "marcas" são meras bolhas de plástico que vestem mecânicas absolutamente iguais, agora repete a dose com a Copa Petrobras de Marcas. Pensa que o carro da foto é um Astra? Enganou-se, caro leitor.
Tudo é padronizado, ou seja, igual, de chassi a carroceria, de motor - argentino! - a discos e pastilhas de freio. Até o conjunto câmbio-diferencial vem de fora.

Pior, para disputar o título de Marcas a fabricante deve obrigatoriamente participar em caráter oficial. Diz o texto do regulamento esportivo:

"Somente as Marcas que participam em caráter oficial, assim declaradas por escrito à CBA pela empresa promotora em cada evento, tomam parte da competição por este titulo." 

Isso é um total descalabro, uma vez que uma marca,  para se habilitar a concorrer ao título, tem que cair na mão da firma promotora, a Vicar Promoções Desportivas S.A., com todas as implicações que isso acarreta, inclusive financeira. A CBA pactuar com essa nojeira merece ação imediata por parte do Ministério Público Federal junto ao STF ou mesmo ser criada uma CPI no Congresso.

Que a CBA chame o certame de Copa Petrobras de Turismo, seria um direito dela, mas jamais chamar de Copa Petrobras de Marcas se a participação de uma marca é condicionada a um "acerto" com a Vicar.

Mas este ano haverá também o Campeonato Brasileiro de Marcas, multimarcas de verdade, aberto a carros normais modificados com motores de até 1.600 cm³, duas ou quatro portas, porém mais uma vez a CBA mostra sua incompetência já no nome do certame, que deveria ser Campeonato Brasileiro de Turismo, com um título para piloto e outro para marca.

Como está, o piloto campeão o será de quê, piloto campeão de marcas? Marca é para automóvel, não para gente. Teria de ser piloto campeão brasileiro de Turismo (como fui em 1976). O mesmo vale para os campeonatos regionais, por exemplo, campeão gaúcho, goiano, carioca etc. de Turismo. Do mesmo modo, não cabe marca campeã regional, só nacional.

Mas igualmente estarrecedor é formato endossado pela CBA seguir a mesma regra da Copa Petrobras de Marcas, só concorre ao título de marca campeã aquela declarada pelo Vicar como participante. Fim do mundo.

O que salva nesse Campeonato Brasileiro de Marcas de 2011 é os carros serem os que estão nas ruas e não a enganação da Stock Car ou desssa nova Copa Petrobras de Marcas. Mas a CBA, filiada à FIA que é, tinha obrigação de adotar, na sua íntegra, o regulamento internacional expresso pelo Anexo J, e não se meter a criar regulamentos. Seria traduzir o que existe lá fora e pronto. Por exemplo, Grupo A, desse modo trazendo maior credibilidade perante os fabricantes de automóveis. Inclusive, nota-se que o regulamento feito é claramente baseado no Grupo A; por isso, não custava nada adotá-lo. Daria outro status ao campeonato.

Eventuais limitações que nos interessassem poderiam perfeitamente ser incluídas no regulamento esportivo do campeonato, como foi, por exemplo, o uso obrigatório de pneus radiais de rua medida 175/65-14 e rodas com tala máxima de 6,5 polegadas, duas decisões acertadas. O mesmo para o peso minimo de 880 kg, sem o artificialismo de igualar peso para equilibrar desempenho, dentro do conceito adotado internacionalmente nas provas de Turismo.

Automobilismo honesto se faz aplicando princípios honestos. Tem a CBA o dever estatutário de promover o progresso do automobilismo, de promover as várias categorias, nunca deixá-las nas mãos de interesses comerciais. Patrocinadores são bem-vindos e até essenciais, mas a promoção em si deve caber à CBA. Pode esta até delegar essa parte a promotores, mas jamais ser submissa e muito menos permitir abusos como os citados. A relação de pilotos e fabricantes deve ser exclusivamente com a CBA e suas federações, nunca com empresas como a Vicar. Esse é um vício que não pode continuar.

A CBA deve apenas, e de maneira simples, organizar o Campeonato Brasileiro de Turismo, com um título para piloto e outro para marca. Pode até chamar de Copa o que quiser, como Copa Petrobras, mas a essência sempre será o Campeonato Brasileiro de Turismo com carros realmente de turismo.

BS

Fonte: autoentusiastas
Disponível no(a):http://autoentusiastas.blogspot.com/

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