19 de jun. de 2011

Brian Johnson do AC/DC continua correndo na highway para o inferno


Em “Rockers and Rollers”, Brian Johson, o vocalista do AC/DC, conta sua vida através dos carros, dos Minis e Rovers de sua juventude aos segredos do ônibus do AC/DC. Aqui Johnson fala sobre seu Royale 1970 correndo em Sebring.

Sebring. Uma das pistas mais famosas do mundo. Dura para o carro, bruta com o motorista e um rombo na carteira. Provavelmente a mais ondulada, traiçoeira e fabulosa pista do mundo. A cidade de Sebring é, bem, nada de mais na verdade. Quero dizer, quando um fast-food ganha o prêmio “Melhor Lugar Para Comer” local por cinco anos seguidos, você sabe que está ferrado.
Mas eu simplesmente adoro o lugar. Foi, e ainda é, um campo aéreo. Foi usado na Segunda Guerra Mundial para treinar os pilotos da RAF e agora é usado para treinar aspirantes a pilotos de carro durante a semana. Estive lá para pilotar no enduro de três horas para motores de até 2,5 litros. Meu carro era um Royale RP4 construído na Inglaterra há muito tempo, mas sem medo, fiz o melhor pela rainha e pelo país. Eu havia modificado este belo carro sozinho.
Thomas, meu fiel sueco, estava ao meu lado na noite anterior ao treino. Estava ao meu lado porque se eu saísse, ele cairia. Ele estava muito bêbado, preparando-se para um longo final de semana. Ao raiar do dia em Sebring, a névoa se foi para revelar a mais bela vista para estes olhos: carros de corrida por todos os lados. Lindos, exóticos e todos alemães, exceto o meu e alguns carros japoneses.
Havia o som das equipes que entornaram todas na noite anterior roncando nos pits e também minha favorita: os banheiros. Os roncos e flatulências nos cubículos, as pontas dos tênis encolhidas, a espera, o barulho da água – e depois um “ahhh”. E os tênis passando por baixo da porta. Não haveria limpada-de-bunda por um instante, bem, não antes de dar uma respirada. Lembrem-se, isto não é a Formula 1. Vamos em frente…
Me vesti e calcei para o treino das 8h30, e descobri que deveria ter um copiloto para a corrida. Está nas regras. Droga, agora estou encrencado. “Thomas, meu chapa”, eu falei, “precisamos de outro piloto ou estamos ferrados”.
Thomas estava debaixo do carro e tudo o que eu conseguia ver era seus pés. Imaginei que ele estivesse ocupado, então fui procurar um copiloto, com tantas chances quanto encontrar um almoço de domingo na Etiópia. Mas andando pelo pit lane estava Pete Argetsinger.
Não, eu não inventei, este é seu nome*. E que baita motorista ele é, também.
Eu: “Pete, meu amigo, meu camarada, como está? Ele: “Quem é você?” Eu: “Sou eu, Brian. Brian Johnson. Ah, você sabe.” Ele: “Não”.
Então deu uma piscada e um daqueles tapinhas no ombro.
Eu: “Quer pilotar comigo, cara?”
Então ele disse estas palavras imortais: “Rose Kennedy tem um vestido preto?”

E ele estava a bordo. Me apressei para contar a Thomas. “Thomas, meu chapa, ouça isso, boas notícias… “
Espere aí. Ele ainda está embaixo do carro. Nenhuma problema, espero… e olhei por baixo. O cara estava cochilando. Foi onde ele se enfiou na noite anterior e nem se moveu.
Ok, Johnson, meu rapaz, disse a mim mesmo. Você tem o menor motor da corrida, 1300 cm³, e você tem um dos carros mais antigos da corrida. Você não tem nenhum pneu de chuva porque Thomas acha que não vai chover e estas são suas primeiras três horas com este carro. Você não sabe se o motor vai aguentar três horas e, para finalizar, você está um trapo. E por último, mas não menos importante, um Geordie (gíria para nascidos no nordeste da Inglaterra) nunca venceu aqui. Certo. Bem, estou otimista! Thomas, já levantando, sorri. Eu sei que ele sabe algo que eu não sei.
Fomos bem no treino – Pete diz que o carro está bom, mas como eu, ele sabe que temos uma batalha nas mãos. Porsches, 2,0 e 2,5 litros, muito rápidos em mãos talentosas. Então decidimos apenas aproveitar a corrida e ver até onde nosso pequeno carro inglês pode nos levar.
Dia da corrida. Ela dura das nove da manhã até o meio-dia. Pete Argetsinger me diz “Eu largo, tento conseguir uma posição confortável e te entrego o carro”. “Hmm!”, pensei. E se o carro não aguentar? Nem vou pilotar. Mas aceitei.
Bandeira verde: largaram. Havíamos nos classificado em 12º no grid de 40 carros – nada mal para um carro pequeno. A hora parecia se arrastar quando Thomas gritou: “coloque o capacete! Ele está vindo!”.
É isso! Não fique nervoso, meu filho. Mantenha-se concentrado. Oh, Cristo! Acabei de notar que minha cueca entrou no traseiro de novo. Tarde demais. Tenho uma Calvin Klein de 50 dólares e 35 estão atravessados em minhas nádegas (por que estou contando isso a vocês? Estou pensando alto de novo, preciso parar com isso). Pete entra, pula do carro, reabastecemos, rápido, rápido. Entrar, arrumar o banco, não esqueça a tira inferior do cinto que prende seu púbis (aquela que esmaga suas bolas).

Ok. Estou no carro. Luvas calçadas, viseira baixada, interruptor ligado, ignição, partida, sinal. Vai! Vai! Vai! E larguei. A curva um de Sebring é uma curva traiçoeira de alta, que começa larga e termina com metade do espaço. Ah, e é uma curva cega! Comecei a ganhar velocidade gradualmente e parece ser um daqueles dias em que tudo dá certo. Eu e o carro éramos um só, nada me passava e eu continuava passando os carros. Retardatários? Não sabia. Nos enduros é difícil dizer quem está ganhando. Eu apenas continuei pilotando. Entrei para reabastecer. Thomas apenas sorria. Eu acho que ele acha que o carro não vai durar, ou talvez ele esteja apenas curtindo. Honestamente, nunca saberemos.
Saio de novo, as curvas vem e vão. Os carros continuam vindo e eu continuo ultrapassando. Os calcanhares das minhas sapatilhas colam no chão com a borracha vinda dos carros da frente. Então eu praticamente punta-taquei meu caminho.
Bandeira quadriculada, vou para os pits. Thomas e Pete estão esperando no pit wall, Pete aplaudindo, Thomas sorrindo. A Suécia deve ter colocado um homem na lua ou então caído para o segundo lugar no ranking de suicídios. Voltei para o nosso paddock. Tirei meu capacete, ninguém ali. Então ouvi no sistema de áudio “Brian Johnson, poderia por favor juntar-se aos vencedores?”
Merda! Eu precisava ligar o carro de novo. O problema é que eu não sabia como chegar lá. Finalmente, depois de acenar e agitar os braços freneticamente os fiscais de prova me levaram para lá. Todos aplaudiam e sorriam. Consegui um pódio? Devo ter conseguido. E saí do carro.
“Primeiro lugar geral”. “Não, isso está errado”. “Sim, você ganhou, cara”, disse Pete, que foi gentil por ter pilotado comigo. Subimos no pódio, eu estava exultante. O primeiro Geordie a vencer em Sebring. Melhor checar isso, só para ter certeza. De qualquer forma, o primeiro Geordie com sangue italiano a vencer.
Fui entrevistado ao vivo na rádio e no sistema de som do autódromo depois da apresentação e do estouro do champanhe. Depois me disseram que eu falei “fuck” onze vezes. Que horrível.
Crédito das fotos: AP e Lecates via Flickr
Esta história foi publicada originalmente em “Rockers and Rollers: A Full-Throttle Memoir” (inédito no Brasil) e foi republicado com autorização da Harper Collins.
*Argetsinger soa como a junção das palavras Are Get Singer, algo como “vai pegar o cantor”.

Fonte: jalopnik
Disponível no(a):http://www.jalopnik.com.br

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